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Vendas de máquinas para o campo vai crescer quase o dobro do previsto


 

Nova estimativa mostra vigor da produção de grãos do cerrado brasileiro mesmo em período de incertezas 

  • Da Redação

Publicado em 08/11/2018 às 15:45:15
Atualizado em 19/04/2023 às 03:14:06
. Crédito: (foto: divulgação)

As indústrias de máquinas agrícolas revisaram para cima a previsão de faturamento para 2018. Ao invés dos 8% de crescimento estimados no início do ano, as vendas devem aumentar até 15%, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos – ABIMAQ.

"Esse cenário foi favorecido pela quebra da safra na Argentina, que elevou a cotação da soja, e pela elevação do câmbio, que ajudou a todas as commodities. O produtor brasileiro está capitalizado e investindo para renovar ou ampliar a frota", destaca o presidente da câmara setorial de máquinas e implementos agrícolas da ABIMAQ, Pedro Estevão de Oliveira.

Em 2017 o setor movimentou R$ 13,5 bilhões. Existe uma expectativa de que os produtores utilizem todo o crédito disponível através do Plano Safra. Em média, este ano, os juros de financiamento foram reduzidos em 1,5 ponto percentual em relação ao ano anterior.

O plano está disponibilizando R$ 40 bilhões para investimentos, sendo R$ 8,9 bilhões para o Moderfrota, linha de crédito específica para o financiamento de máquinas, equipamentos e implementos agrícolas novos e usados, além de colheitadeiras e plataformas de corte.

O programa permite ao produtor rural a aquisição de máquinas com prazos de pagamento diferenciados, a depender das condições do equipamento. O prazo é de 10 anos para tratores novos, e de 4 anos para usados.

"Nos últimos quatro meses, a demanda está aquecida e, se continuar nesse ritmo, existe a possibilidade de faltar crédito para Moderfrota, Pronaf e FCO, que são as três linhas mais importantes para máquinas agrícolas", avalia Oliveira.

Já o diretor de agronegócios do Banco do Brasil, Marco Túlio Moraes da Costa, garante que não faltarão recursos. "Percebemos um apetite maior para os investimentos em máquinas e implementos, até em caminhões. Isso se deve as duas últimas grandes safras e à perspectiva de que em 2018/2019 a produção também seja expressiva. Se for preciso, remanejaremos dinheiro para atender ao produtor", acrescenta.

Desde que começou a liberação de crédito de julho para cá, a liberação de para investimento cresceu 21% em relação ao Plano Safra anterior. 

De acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), ano passado foram vendidas 42,2 mil máquinas e implementos. Este ano, as vendas totais subiram 2,6% em outubro, comparado a setembro. Frente a outubro do ano passado as vendas cresceram 35,3%.

Já no acumulado do ano até agora, o crescimento consolidado é de 10,6%. O segmento contratou 131.374 pessoas a mais para dar conta da demanda de mão de obra das montadoras.

Investimento 

O cenário favorável motivou uma das principais gigantes mundiais do setor de máquinas agrícolas e implementos, a AGCO, a anunciar esta semana que vai continuar investindo no Brasil. 

Depois de registrar um volume de vendas 17% maior nos últimos nove meses, a empresa prevê um crescimento superior a 10% para 2019 no mercado de máquinas. O anúncio foi feito pelo presidente e CEO global da AGCO, Martin Richenhagen, que visitou o país esta semana.

Em entrevista coletiva concedida em São Paulo, o executivo reforçou o clima de confiança e otimismo no panorama agrícola da América do Sul. "Estamos otimistas em relação à América do Sul, em especial com o Brasil. Mesmo com as incertezas na economia e na política brasileira, alcançamos números positivos e apresentamos crescimento em relação ao ano anterior. As expectativas para os próximos anos são as melhores possíveis, por isso temos investido tanto na renovação do portfólio das nossas marcas e na alta tecnologia das nossas fábricas da região, consolidando a AGCO na era da Indústria 4.0", disse Richenhagen.

Este ano as vendas da companhia alcançaram quase US$ 10 bilhões.

A AGCO é líder mundial na fabricação e distribuição de máquinas e soluções agrícolas, principalmente tratores. No Brasil é detentora de marcas como Massey Fergusson, Valtra e GSI. As vendas estão sendo impulsionadas pelo bom desempenho das safras de grãos no país, que faz o produtor rural investir mais em equipamentos como estratégia para aumentar o volume de produção.

O resultado das eleições também tem incentivado novos investimentos. "Temos que parabenizar o Brasil. Este cenário vai estabilizar o mundo dos negócios, principalmente a agricultura, e impulsionar a retomada da economia brasileira em 2019. É importante que o presidente saiba o quanto os agricultores necessitam de apoio", acrescentou Richenhagen.

O executivo destacou ainda a importância da América do Sul e do Brasil para a empresa. "São muito importantes para nós. Queremos que o país esteja mais forte que nos últimos anos, e temos uma avaliação de crescimento dos negócios. Inclusive acreditamos que o Brasil vai realizar grandes exportações para a China. Onde houver oportunidade para cultivo, nós estaremos presentes", finalizou.

A companhia mantém sete fábricas no Brasil, mais de 3 mil concessionárias e 13.600 funcionários. As perspectivas otimistas se baseiam também em um recente estudo da Associação Brasileira de Marketing Rural e Agronegócio (ABMRA). A pesquisa levantou os hábitos do produtor rural e revelou que 34,14% dos agricultores pretendem comprar máquinas agrícolas no próximo ano.

Cerrado estratégico 

Dentro desta expectativa de crescimento, o cerrado brasileiro ganha atenção especial por causa do MATOPIBA. A área abrange parte dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, e abriga a última fronteira agrícola do Brasil ainda em expansão.

"É uma região que tem crescido muito rapidamente. Principalmente nas áreas da Bahia e do Piauí. Nós temos reforçado a presença de nossas equipes nesta região e queremos estar mais próximos desta geografia. Tem muito potencial de desenvolvimento e vamos continuar apoiando e investindo nesta área em franca expansão", afirma Luís Felli, Presidente da AGCO na América do Sul.

O destaque não é por acaso. O Brasil é o principal produtor de commodities da América Latina.

O cerrado tem uma expressiva participação neste desempenho através dos produtores rurais do Nordeste e do Centro-oeste. Além disso, nos últimos anos, a região de cerrado tem apresentado um crescimento 3,7 vezes maior do que no resto do país.

"O potencial do cerrado brasileiro é fenomenal. O Brasil é líder na produção e exportação de itens como soja, café, açúcar, e carnes bovina e de frango. Ainda assim, o país possui cerca de 219 milhões de hectares de terra livres para o agronegócio. O grande potencial está no aproveitamento de áreas degradadas de pastagens. Isso, somado ao clima favorável e à disponibilidade de água e terra fértil, coloca o Brasil como um dos países de maior potencial para atender à crescente demanda por alimentos no planeta", avalia Felli.

Com a agricultura baseada em tecnologia e redução de custos, a indústria se volta para atender esta demanda. "Quem ganha a guerra de commodities é quem tem menor custo de produção. A tecnologia tem que trazer este custo benefício. Por isso, nosso papel é oferecer o que existe de mais moderno, de mais eficiente no setor de equipamentos. Neste sentido temos máquinas capazes de reduzir em 35% o consumo de combustível", finaliza Felli.

Nos últimos anos, a empresa investiu US$ 300 milhões em pesquisa e inovação na América do Sul. Deste montante, 90% foram investidos no Brasil.

Lançamentos 

Esta semana os executivos da AGCO anunciaram mais um passo para concluir a maior renovação de portfólio da história da companhia. Depois de criar 159 produtos nos últimos 3 anos, foram anunciados dois novos lançamentos.

O primeiro é a plantadora dobrável Momentum, que chega ao mercado brasileiro com a tecnologia Precision Planting, que melhora a distribuição de sementes no campo. O produto terá versões de 24, 30 e 40 linhas. Além disso, a plantadora conta com 18 metros de largura quando aberta, o que aumenta a rapidez no plantio. Já quando fechada, fica com 3,6 metros, o que facilita o transporte. O armazenamento de sementes também é destaque, com uma capacidade de até 5.130 litros.  Plantadeira Momentum (foto: Nilson Conrado / Divulgação)

"Com a Momentum lançamos a plantação a um novo patamar. Ela permite que o agricultor tenha uma precisão de praticamente 100%. Mede teor de umidade, profundidade e colocação de semente on-line. Com isso, se ganha em eficiência, velocidade e mobilidade. Ela se auto regula no processo de plantio, identificando umidade e impureza. É um equipamento desenvolvido pela engenharia da AGCO no Brasil e que será levado para outras partes do mundo", disse Robert Crain, vice-presidente sênior e gerente geral AGCO Américas.

O outro lançamento é a colheitadeira Ideal, que faz parte de uma nova linha de colheitadeiras axiais de alta performance. A máquina tem um sistema de processamento inteligente, considerado uma das mais recentes inovações tecnológicas na área de agricultura de precisão e conectividade no campo. A IDEAL preserva a qualidade dos grãos, oferece melhor manuseio, capacidade, eficiência energética e gerenciamento com os dados da fazenda. Colheitadeira Ideal (foto: Divulgação) Mercado

Atualmente, segundo dados da fabricante, o cerrado representa mais de 20% das vendas de tratores da AGCO, e mais de 40% das vendas de colheitadeiras da montadora. A informação leva em consideração as áreas de cerrado das regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste.

Também de acordo com dados fornecidos pela empresa, na Bahia, as vendas de tratores da AGCO cresceram 106% desde 2017. O crescimento provocou um aumento de 50% no market share, ou seja, na fatia de participação da empresa no mercado de máquinas agrícolas no estado

* A repórter viajou a São Paulo a convite da AGCO