Vendedor reage a assalto e é morto em Cosme de Farias; motocicleta da vítima foi roubada

Pedro Henrique Batista do Carmo, 33 anos, chegava do trabalho e decidiu não entregar a moto aos bandidos. Ele foi baleado duas vezes e morreu no local do roubo

  • Foto do(a) author(a) Bruno Wendel
  • Bruno Wendel

Publicado em 27 de janeiro de 2021 às 17:48

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

A motocicleta avaliada em R$ 10 mil foi comprada com muito sacrífico pelo vendedor Pedro Henrique Batista do Carmo, 33 anos. Faltavam apenas duas prestações para ele quitar o financiamento da Honda CG 160 vermelha, usada para fazer o trajeto de casa para o trabalho, durante seis dias da semana. Na noite desta terça-feira (26), no bairro de Cosme de Farias, onde morava, ele foi surpreendido por dois homens. Ao perceber que a dupla levaria seu veículo, o vendedor reagiu, segurando firme no guidom da moto, mas acabou baleado duas vezes e morreu no local.  Pedro Henrique chegava do trabalho, quando foi abordado pelos criminosos que estavam numa outra moto – apenas um dos ladrões estava armado. O crime aconteceu por volta das 19h, na rua principal do bairro. Na hora, o comércio estava em pleno funcionamento, o que não intimidou os bandidos. O vendedor foi atingido na mão, quando recusou entregar a moto, e logo em seguida na cabeça, morrendo instantes depois. 

Este foi o segundo caso neste mês em que uma vítima reage e é assassinada durante um assalto em Salvador. Na última sexta-feira (22), o ajudante de pedreiro Joveny Alves dos Santos, 50, morreu após entrar em luta corporal com um bandido no conjunto Residencial Coração de Maria, na Estrada das Pedreiras.  Pedro Henrique foi vítima de latrocínio quando chegava em casa no bairro de Cosme de Farias (Foto: Divulgação) Sobre a morte de Pedro Henrique, a Polícia Civil informou que o caso é investigado pela 1ª DH/Atlântico.  "De acordo com informações iniciais, o homem foi atingido por disparos de arma de fogo, após ter reagido a um assalto. Os autores levaram a motocicleta da vítima. A autoria e a motivação serão apuradas pela especializada", diz nota enviada ao CORREIO. 

A vítima foi enterrada às 16h30 no Cemitério Vale da Saudade, no município de Candeias, Região Metropolitana de Salvador (RMS). Dois ônibus, transportando parentes e amigos, saíram do final de linha de Cosme de Farias. 

Pedro Henrique  trabalhava como vendedor há cerca de seis anos numa loja das Havaianas no bairro do Pau Miúdo. Segundo a Polícia Civil, ao passar pela Rua Direta de Cosme de Farias, o vendedor teve a moto interceptada pelos bandidos, após descer uma ladeira conhecida como Baixa do Silva, a cerca de 100 metros do final de linha. 

Crime O vendedor era bastante conhecido no bairro e muitas pessoas presenciaram o crime e relataram para os parentes da vítima, como foi o caso de uma tia dele, a auxiliar de lavanderia Lucidalva Batista dos Santos, 51 anos. "As pessoas disseram que, na hora, meu sobrinho segurou firme na moto e um dos ladrões deu um tiro na mão dele, mas o que matou foi o tiro na cabeça", contou ela na manhã desta quarta-feira, enquanto liberava o corpo no Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IMLNR), no Vale dos Barris. 

Logo após o crime, o corpo de Pedro Henrique ficou na pista. Segundo a Polícia Militar, policiais da 58ª CIPM foram acionados pelo Cicom após informações de disparos de arma com uma vítima na Rua Direta de Cosme de Farias. "No local, as guarnições foram informadas que dois indivíduos roubaram a motocicleta e efetuaram os disparos contra a vítima. Uma equipe médica do Samu foi acionada e atestou o óbito" diz nota enviada ao CORREIO. 

Na manhã desta quarta, o asfalto ainda tinha a marca da violência, o rastro do sangue da vítima. Moradora do bairro, a técnica de enfermagem Ana Cristina de Jesus, 56, acordou com tiros e logo foi à janela. "Quando vi o corpo e quem era, desmaiei. Todo mundo aqui conhecia ele. Uma pessoa maravilhosa", disse.  O vendedor foi morto em frente a uma bomboniere. Na hora, a loja estava aberta, assim como outros estabelecimentos do bairro. "Estava atendendo uma cliente quando escutei os pipocos. Na mesma hora puxei a cliente para dentro e fomos para o fundo da loja. Saímos quando tivemos a certeza de que tudo tinha terminado e, infelizmente, com um inocente morto", lamentou o proprietário Roberto Lisboa, 41.  Rastro da violência ainda estava no asfalto nesta quarta-feira (Foto: Bruno Wendel/CORREIO)  Justiça Pedro Henrique deixou a mulher e uma filha que completou dois meses no sábado, dia 23. A tia do vendedor, Lucidalva, disse que o sobrinho estava feliz porque terminaria de pagar a moto em breve. "Ele comprou com muito sacrifício. Ele me disse que estava contente porque só restavam duas prestações para quitar a moto. Que levasse a moto dele, mas matar um pai de filha? Um trabalhador? Trabalhava de domingo a domingo e só folgava às sextas", lamentou a tia, ao mesmo tempo em que era amparada por outro sobrinho, o auxiliar de cozinha Jutaí Batista de Souza, de 38 anos. 

Jutaí acredita que os bandidos queriam moto para desmanche. "O modelo dela, Honda 160 Star, é uma das mais visadas porque as peças são encontradas em qualquer esquina. Muito provavelmente foi encomenda para desmanche", disse ele. Jutaí falou sobre o seu sentimento, que hoje é compartilhado com toda a família. "Eu quero justiça! Todos nós queremos que se faça justiça. Que os autores sejam presos e que paguem pelo que fizeram ao meu primo", desabafou. 

Insegurança Moradores de Cosme de Farias relatam que a morte do vendedor é o retrato da insegurança do bairro. "Aqui não tem segurança. Só tem polícia quando acontece algo assim, uma tragédia. Aqui você não pode vacilar em nada que a turma passa e leva tudo", declarou uma moradora que preferiu não revelar o nome. 

Os comerciantes também pontuaram a falta de segurança em Cosme de Farias. "Os assaltos aqui são constantes. Estão levando muitos celulares, roubando os estabelecimentos. O crime de ontem aconteceu com o comércio todo aberto, com gente circulando para cima e para baixo. Eles (bandidos) não estão nem aí pra isso. Querem tomar tudo de qualquer jeito e não importa o horário e local", disse o dono de um restaurante, que também preferiu não se identificar.