'Vim me despedir', diz moradora ao ver sua casa ser demolida na Fazenda Grande

Condenadas, cerca de 15 casas foram demolidas pela Sedur neste sábado (5)

  • Foto do(a) author(a) Eduardo Dias
  • Eduardo Dias

Publicado em 5 de outubro de 2019 às 16:52

- Atualizado há um ano

. Crédito: Tiago Caldas/CORREIO

Filha única e mãe de dois filhos, a autônoma Ana Cláudia Silva, de 39 anos, não arredou o pé da calçada de um vizinho, do outro lado da rua, para assistir à demolição de sua antiga casa. Com os olhos cheio de lágrimas, ela acompanhava atentamente cada marretada dada pelos operários da Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Urbanismo (Sedur), na manhã deste sábado (5).

Os imóveis foram condenados pela Defesa Civil do Salvador (Codesal) após o desabamento de cinco casas na última quinta-feira (3) chuvosa no bairro da Fazenda Grande do Retiro, em Salvador.

Ao todo, serão demolidos 15 imóveis. O CORREIO esteve no local e conversou os moradores que tiveram as casas derrubadas. Durante o processo, uma houve um estalo alto em um dos imóveis e as pessoas foram orientadas a manter distância do local, sob risco de novos desabamentos.

[[embed]]

Como forma de despedida, Ana queria estar presente e ver os últimos momentos que o imóvel, herdado do padrasto, estava de pé. Mesmo alertada do perigo que corria em ficar próximo ao local da demolição, ela quis permanecer e assistir todos os detalhes.“Vim me despedir da minha casa. É tudo o que meu padrasto, já falecido, deixou para mim e minha mãe. É uma dor muito grande abandonar a nossa casa e ter que ir morar de aluguel. É uma situação muito difícil”, contou.Ana Cláudia teve que sair de sua residência há cerca de um mês quando, a Codesal avaliou que a casa dela e outras 30, precisariam ser interditadas e evacuadas por segurança. No entanto, ela não conseguiu tirar todos os móveis de dentro da antiga casa e teve que deixar tudo para trás.

“Não tive como tirar tudo. A casa que encontramos é um pouco pequena, mas era uma situação emergencial, foi preciso abandonar algumas coisas como sofá, guarda-roupas, freezer e fogão. Infelizmente não deu para tirar tudo”, explicou Ana Cláudia.  

Moradora da localidade há 29 anos, ela, que tem dois filhos, a mais velha de 17 anos e o caçula de 3, contou que, quando o pequeno pergunta pela casa da família, ela não consegue segurar o choro. “Moro com meu esposo, minha mãe e meus dois filhos. O mais novo tem 3 anos, quando ele me pergunta: ‘mamãe cadê nossa casa’, eu digo a ele, chorando, que tudo vai ficar bem”.

A casa de Ana Cláudia foi atingida após o desabamento do imóvel do frentista Marcelo Silva, 38, na quinta-feira (3). Vizinho de Ana, a casa dele foi a primeira a ceder no dia da forte chuva, onde uma ruptura da cortina da encosta acarretou em rachaduras nas residências.

Presente no local, ele também decidiu assistir quieto o processo de demolição das demais casas atingidas. “Vim acompanhar, apesar de minha casa já ter desabado. Aqui eu tenho boas lembranças. Morei aqui por muito tempo, meus amigos moram todos por aqui. É uma situação difícil para todo mundo. Ninguém nunca imagina ter que sair da sua casa dessa forma”, desabafou.

Tanto Ana quanto Marcelo informaram que estão recebendo um auxílio aluguel ofertado pela prefeitura.

Sem previsão No local, o engenheiro da Sedur, Celso Jorge Carvalho, responsável pelas demolições, afirmou que ainda é cedo para precisar quando o processo será encerrado.

“Temos a ordem de serviço para a demolição de 15 casa, dando início hoje, mas não temos como mensurar quando vão ser concluídas, pois pode acarretar problemas em outras residências”, afirmou.

*com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier