Viradão da vacina teve música ao vivo para distrair da espera na fila; 50 mil se vacinaram

Banda da Guarda Civil Municipal animou a noite no Centro de Convenções

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  • Daniel Aloísio

Publicado em 16 de maio de 2021 às 22:59

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Nara Gentil/CORREIO

As horas passadas na longa fila, o friozinho da madrugada e o cansaço da espera foram recompensados pelas doses da vacina anticovid e pela animação dos vacinadores, que aplicaram as injeções embalados pela banda da Guarda Civil Municipal (GCM), no fim de semana do Viradão da Vacina. Ao todo, segundo a Secretaria Municipal da Saúde de Salvador (SMS), entre o sábado (15) e o domingo (16), 50 mil pessoas foram beneficiadas com doses de Oxford/AstraZeneca e CoronaVac, em 28 horas seguidas de campanha.  

A SMS não especificou quantas mil pessoas tomaram a primeira e quantas receberam a segunda aplicação. Mas, segundo o órgão, as principais pessoas beneficiadas foram aquelas que estavam com a 2ª dose da CoronaVac em atraso. A expectativa era que 25 mil pessoas recebessem o reforço da vacina criada pelo laboratório chinês Sinovac e produzida no Brasil em parceria com o Instituto Butantan.  

No Centro de Convenções, a banda da Guarda Civil alegrou a noite enquanto os profissionais aplicavam as vacinas. Vídeos que circularam nas redes sociais mostram o grupo cantando as músicas Ouvi Dizer, de Melim, e Esquema Preferido, de Tarcisio do Acordeon. Enquanto os músicos caprichavam nos acordes, funcionários da SMS dançavam e davam as injeções em quem estava na fila do Drive Thru. Dentro dos carros, os candidatos a imunizado agitavam os braços, acompanhando o ritmo.  

“Essa é a primeira capital do Brasil e a que mais vacina. São 28 horas de imunização, só aqui na Bahia, só aqui em Salvador”, dizia o cantor da banda da GCM, que por estar cantando, era um dos poucos sem máscara de proteção. O outro era o saxofonista da banda. Os demais músicos tocavam usando o equipamento. Todos respeitavam o distanciamento social recomendado.

Veja o vídeo:   

Doze horas de espera na fila

Valnizia Pitangueira enfrentou quase 12 horas de fila no Drive Thru do Centro de Convenções. Ela teve que lidar com o cansaço e o carro quebrado, mas nada disso foi suficiente para fazer com que a idosa de 61 anos desistisse da proteção. “Passei por tudo isso e não poderia deixar de me imunizar”, comentou. 

A previsão era que Valnizia tomasse sua injeção às 15h. Ela entrou na fila às 14h, em frente ao Bompreço do Rio Vermelho. “Estava ansiosa demais”, disse a idosa. Ela contou ainda que chegou a passar pela Fonte Nova, mas a fila estava pior do que no Centro de Convenções.   Fila de carros para o drive thru da Arenda Fonte Nova na madrugada (Foto: Nara Gentil/CORREIO) Durante a longa espera, o carro dela quebrou. Com a ajuda do filho e de duas amigas, que também estavam lá para se vacinar, o carro foi empurrado e ela voltou para a espera. Como só poderia se vacinar se estivesse dentro de um carro, dona Valnizia pediu para entrar no veículo de uma das suas amigas, que também é sua vizinha, para não perder a chance.  

Com mais sorte, Aidano César Maia, 61, teve um tempo de espera um pouco menor. Ele programou sua ida pelo serviço “Hora Marcada” da SMS e esperou quatro horas para tomar a segunda dose. Estava na fila desde às 22h e com um atraso de 20 dias para completar o esquema vacinal. Apesar dos transtornos, não escondia a animação.  Para o idoso, tomar a vacina é uma alegria também para a família, como a filha e a neta de apenas quatro anos.

“Minha filha se preocupa muito comigo”, disse Aidano, que também se diz indignado com a situação da pandemia no país e as dificuldades que a população tem enfrentado. “Eu ainda trabalho. A vida não está nada fácil”, disse.  

Idoso adiantou vacinação

O empresário Jorge Fortuna, 61, que já tinha sido entrevistado pelo CORREIO sobre o atraso na aplicação da 2ª dose da CoronaVac, também foi beneficiado com o Viradão. Ele tinha que ter tomado o reforço em 8 de maio, mas isso só aconteceu no sábado (15).

“Minha esposa teve que ficar com dois celulares na mão tentando fazer o agendamento. Eu fiquei apreensivo, mas graças a Deus que deu tudo certo”, disse.  

A vacinação de seu Jorge foi marcada para uma da madrugada de sábado para ontem. No entanto, como ele mora em frente ao Centro de Convenções, viu que a fila estava pequena ainda na tarde do sábado e adiantou a imunização.“Foi na cara e na coragem. Primeiro eu fui perguntar se era possível adiantar por causa da baixa procura e eles disseram que sim. Quando cheguei na fila era por volta das 12h e só fui vacinado às 15h. Mas graças a Deus que antecipei, a fila cresceu muito mais depois”, contou.  Jorge é só alegria depois de ser vacinado (Foto: Acervo Pessoal)  Já a aposentada Djanira Barreto, 61, marcou sua vacinação para às 22h, no drive da Arena Fonte Nova. “Tive que ficar com dois celulares e um computador. Quando deu 14h, eu consegui marcar”. Para não atrasar, ela foi para a fila às 20h30 e conseguiu sua dose às 23h30.

"Na hora, a fila estava no Bonocô, no retorno do Ogunjá e ainda ia até o Vale do Nazaré para então avançar na direção da Arena Fonte Nova”, contou.     Djanira também está feliz em ter tomado as duas doses da CoronaVac  (Foto: Acervo Pessoal) Durante a espera, a idosa sentiu falta de um banheiro. “Eu levei água, mas esqueci de uma merenda. Acabei ficando com fome. Mas tudo isso vale a pena. Estava com muito medo de deixar o serviço incompleto. Queria mesmo tomar as duas e ficar totalmente imunizada. Essa é a segurança”, disse. Djanira também ficou feliz com a animação dos profissionais de saúde. “Quando você entra na Fonte Nova, fica muito tranquila. O pessoal é muito simpático, sorri, tinha música. Quando você está lá é perfeito. Na fila tinha viaturas que circulavam e isso fazia com que a gente não ficasse com medo. A Guarda Municipal fez um controle para que não houvesse nenhum desrespeito”, acrescentou.  Maratona para vacinar irmão 

Nas redes sociais, um dos relatos que se destacaram foi o da professora Cláudia Melo. Ela contou nos comentários de uma publicação do secretário de saúde, Leo Prates, que foi levar o irmão, Paulo, que é uma pessoa com deficiência, para tomar a segunda dose. Ele estava agendado para 23h e, ao chegar no posto da Vila Militar, no Dendezeiros, se deparou com uma imensidão de carros. “Chegamos lá uma hora antes e a fila já estava quilométrica”, comentou. 

Por conta do tamanho da fila e do estado de seu irmão, Cláudia voltou para casa com Paulo. Às 5h da manhã, eles retornaram numa segunda tentativa. A fila, ainda grande, e a inquietação do irmão fizeram com que eles voltassem mais uma vez para casa sem concluir a jornada. Por conta da frustração, a professora resolveu contar seu caso na internet.  

Outros internautas informaram à Cláudia as situações em outros pontos de vacinação. Com as dicas, o sobrinho dela fez a terceira tentativa de levar Paulo para se vacinar no posto da UFBA. A segunda dose, que inicialmente estava marcada para o dia 5 de maio, conseguiu ser concluída na manhã deste domingo. Cláudia já tomou a primeira dose por ser uma profissional da educação. Ela vibrou nos comentários pelas dicas recebidas. “Pessoas que me ajudaram com indicações de lugares, graças a Deus meu irmão acabou de se vacinar!”.  Profissionais de saúde mantiveram o pique por 28 horas (Foto: Nara Gentil/CORREIO) Profissionais da saúde só na alegria

Do lado dos profissionais de saúde, Tatiane Alves, que trabalhou na Fonte Nova desde às 19h, afirmou que era preciso manter o bom humor para que tudo ocorresse da melhor forma. “As pessoas enfrentam uma fila grande. Se elas chegam aqui e não recebem essa energia da gente, nada vai funcionar”, comentou.

Rogéria Márcia Silveira Lima também falou com emoção do trabalho na campanha contra o coronavírus. “A alegria e a emoção das pessoas dão a energia que a gente precisa. Quando vejo essa alegria, isso me dá força”, disse, emocionada. Rogéria também tenta ser otimista sobre a pandemia e ainda lembra que a campanha de vacinação é o caminho para a melhora. “Quanto mais pessoas estiverem vacinadas, maior a chance de a vida voltar para o que tanto queremos”. 

Edilene Simone e sua equipe, no 5º Centro, chamavam a atenção pela emppolgação. A profissional de saúde estava falante e brincava com seus colegas e com quem chegava para se vacinar. “O ritmo tem sido frenético, se a gente não estiver assim, as coisas não andam”. 

Com café, biscoito e muito bom humor, Edilene contou que estava trabalhando desde 7h do sábado e que ia ficar até às 7h do domingo. A profissional estava com um grupo muito animado. Edilene explica que o bom humor faz com que eles continuem ali. “Depois de tantas horas, só dando risada para manter a gente de pé”, brinca. Ao lado dela, Elidia Dias, Joseane dos Santos Silva e Sheldon Ribeiro completaram a baia mais animada do 5º Centro. 

Ela também comentou que as pessoas estavam mais tranquilas e compreensivas do que esperava. “Achamos que seria pior”, comentou sobre a situação das filas extensas.  Por conta da quantidade de pessoas, Edilene disse que o 5º Centro abriu mais duas baias para conseguir dar conta da demanda. 

Espera por CoronaVac continua  

Antes do Viradão, cerca de 63 mil pessoas estavam com a segunda dose de CoronaVac pendente. O prefeito Bruno Reis (DEM) já havia sinalizado que não seria possível acabar totalmente com o atraso por conta da quantidade de doses recebidas. 

“Essa quantidade não é suficiente para atender as pessoas que não foram vacinadas com a segunda dose no dia correto”, explicou. 

De acordo com a prefeitura, os que não conseguiram ser imunizados no mutirão terão que aguardar a chegada do próximo lote de Coronavac. 

*Com a supervisão da chefe de reportagem Perla Ribeiro