Viva mi padre! Viva mi Madri!

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  • Da Redação

Publicado em 8 de julho de 2018 às 05:00

- Atualizado há um ano

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A dor da morte do pai mais a preocupação dos quatro filhos em pagar a conta (alta) do hospital no Rio de Janeiro nos minaram e sangraram, e nos fizeram afundar em comoção profunda. Nas conversas em voz baixa pelos corredores que recendiam a produtos de limpeza & éter decidíamos quanto cada um de nós poderíamos dispor para pagar a conta (alta) do hospital no Rio de Janeiro. Tristes, mas decididos: não éramos ricos mas pagaríamos a conta, sem ‘nenhumíssimo’ grau de má vontade.

Eu, com 2 mil dólares juntados em dois anos de trabalho, com a intenção expressa de pagar a minha primeira temporada no Exterior (basicamente Madri, com fins de semana em Paris, Barcelona, Lisboa e Roma), não titubeei. Abriria mão do dinheiro destinado ao passeio europeu para colaborar nas despesas. Meu irmão e minhas duas irmãs, peremptórios, me quiseram fora dessa força-tarefa: - Não, Roge, faça sua viagem. Nosso pai ficaria triste se você desistisse de viajar. Vá! [Eu chorei de emoção. Eu fui. Era 1988]. A Madri do meu tempo era feérica – turbinada por caliente e cativante onda: a ‘movida madrileña’. A cidade era moto contínuo frenético de acontecimentos culturais e existenciais libertários, incendiados por vinho, marijuana, haxixe, poesia, música e cinema. Entrávamos becos, saíamos becos, dispostos a demonstrar por x + y + z:   o megaditador e megafacínora Francisco Franco, que massacrara o país por décadas, queimava no fogo do inferno.

Fui a Roma, Lisboa, Barcelona e Paris, mas voltei correndo. Perdi-me de amores pelo agitprop de Madri. Não me hospedei em hotel. O mui querido espano-brasileiro Jose Luis abriu-me as portas do apartamento onde morava, na Calle Valle Hermoso, no ‘corazón’ da ‘movida’ – e me senti em casa.

O anfitrião trabalhava em agência de turismo durante o dia e, à noite, me levava aos lugares que eu necessitava conhecer:  todas as bocas malditas de Madri. [Nunca esqueceria Jose Luis. Chorei muito quando soube dois ou três anos depois que a Aids, então letal, o matara].

Na minha última semana em Madri, época de Natal, não tive a companhia de Jose Luis, que fora a São Paulo passar as festas de fim de ano.  Eu me virei sozinho. Hospedei-me em hotel vagaba, comprei vinhos em pacotes no supermercado, e me preparei para cair na fossa da minha festa mais triste do ano. Surpresa! No começo da noite percebi:  as ruas se enchiam de gente bebendo, cantando e se ‘carnatalizando’. Hô, hô, Aurora!

Fui para a rua e mergulhei na farra. Beijei homens e mulheres, bastava que me desejassem ‘feliz navidad’. Não lembro detalhes picantes desse meu Natal à Baco, estive sempre bêbado e drogado, mas, dúvida nenhuma, foi o Natal mais alegre de toda a minha vida]. [Lembro de algo, sim:  gritava ‘Viva mi Madri. Viva mi padre!]

[PS1. Meu eterno de preito de gratidão aos meus irmãos que, bafejados pelo espírito do nosso pai, me ordenaram: - Vai, Roge! PS2. Alô, alô, MadriPadri, me llamam que voy. Estoy mui aburrido por aquí!]