Xô, coronavírus! Baianos revelam mudanças de hábitos para evitar contaminação

Higiene pessoal passou a ser a principal medida de autocuidado

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  • Gil Santos

Publicado em 17 de março de 2020 às 05:20

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arisson Marinho/ CORREIO

A estudante Vanessa Moraes, 26 anos, acordou com uma indisposição. Com o passar das horas surgiu uma dor de cabeça chatinha e no final do dia veio a febre. Preocupada, ela correu para um consultório médico, mas tudo não passava de uma gripe que a medicação resolveu. Isso foi há duas semanas. No sábado, ela ligou para a avó, uma senhora de 85 anos, para saber se poderia fazer uma visita, mas foi surpreendida.

“Ela disse para eu não ir. Ela vai muito ao médico, por isso liguei antes para saber se ela estaria em casa, mas ela me disse ‘não venha, não venha por causa dessa doença que está solando’. Eu a visito pelo menos uma vez por semana, mas vou ter que mudar esse hábito. Ela não quer me ver nem pintada de ouro”, brincou a estudante, enquanto aguardava por um ônibus na Estação Mussurunga. Passageiros se apoiam em corrimão enquanto aguardam ônibus (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) De fato, o novo coronavírus está causando mais tumulto em Salvador do que um Ba-Vi em final de campeonato e obrigando os baianos a mudarem de hábitos. A recepcionista Gabriela Silveira, 24 anos, mora em Mussurunga e trabalha no Itaigara. Ela pega ônibus todos os dias para conseguir chegar ao trabalho e contou que a Covid-19 deixou a bolsa dela mais pesada.“Antes, eu checava se não tinha esquecido a carteira, as chaves e o crachá do trabalho. Agora, preciso ver também se a máscara e o álcool gel estão na bolsa. Preciso ver se o frasco está cheio porque, às vezes, a gente se esquece de repor. No metrô e no ônibus fico com medo de colocar a mão na barra, antes não tinha isso, mas não tem jeito, preciso me apoiar. Mas quando desço vou logo limpando as mãos com o álcool”, disse.Ela tem mesmo que se cuidar porque, segundo a Secretaria Municipal de Mobilidade (Semob), cerca de 1,3 milhão de pessoas usam o transporte público de Salvador todos os dias. São 2,3 mil ônibus que circulam na capital levando pessoas de uma ponta a outra da cidade. No metrô, são 390 mil usuários diariamente.

Na plataforma das estações Mussurunga e Pirajá, o vai e veem era intenso na manhã desta segunda-feira (16). Não é fácil mudar comportamentos. Cada vez que um ônibus encostava uma multidão de passageiros se aglomerava na entrada, e cada um ia se apoiando no corrimão, sentando e levantando das cadeiras e se segurando firme nas barras para não cair com os solavancos da viagem. Quase nenhum usava máscaras, mesmo aqueles que estavam tossindo. Movimento intenso de passageiros nas plataformas e poucos usavam máscara (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) O novo corona, como está sendo carinhosamente chamado pelos baianos, mexeu até com os horários do povo. A pedagoga Adriana Nascimento, 34, está evitando os momentos de pico, aqueles em que os vagões do metrô e os ônibus ficam lotados. “Estou correndo para tentar sair do trabalho 1h mais cedo ou deixando para sair 1h mais tarde para evitar a aglomeração que às 18h é inevitável”, contou.

Mas também há aqueles para os quais a Covid-19 não mudou tanto assim a rotina. Cláudio da Paixão tem 49 anos sendo que os últimos 18 deles foram dedicados a profissão de motorista de ônibus. Ele contou que sempre teve o hábito de higienizar os veículos antes de começar a viagem e se algum passageiro viu um motorista dirigindo de máscara no carnaval, foi ele.

“Usei máscara no carnaval porque trabalhei no circuito e era muita gente usando o transporte. O pessoal ficou me zoando, mas eu não ligo. Sempre andei com minha flanela, água e sabão na sacola. Quando chego à Garagem, antes de sair com o carro, limpo o volante, o corrimão, o capô, e abro todas as janelas. Graças a Deus, nesse tempo todo de trabalho, nunca peguei uma doença respiratória ou de pele”, afirmou. Cláudio mostra alguns dos itens que carrega (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) Ele disse que a chegada do novo corona o obrigou a redobrar os cuidados, como lavar as mãos com mais frequência, mas não alterou a rotina, nem a dele nem a da professora de balé Adriele Silva, 23 anos. “Eu acho que a mídia está fazendo alarde de mais com essa doença. Lá em casa sempre teve álcool gel porque minha mãe é cuidadora de idosos, mas não estamos nessa loucura de limpar as mãos toda hora. Não é para tanto”, disse.

Os infectologistas discordam. Segundo os profissionais e o Ministério da Saúde, a higienização das mãos é a forma mais eficaz, até o momento, para combater a disseminação do vírus para o qual ainda não existe vacina. Além disso, é importante cobrir boca e nariz ao tossir ou espirrar, e usar máscaras se estiver doente. A transmissão de pessoa para pessoa se dar pelo contato das gotículas e secreção do infectado com a mucosa, como olho e boca. É preciso cuidado redobrado com idosos e crianças (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) As mudanças de hábito se estendem também para quem tem carro. Antes, quando chegava em casa o caminhoneiro e motorista por aplicativo Raimundo Azevedo, 47, abria os braços para o filho de 2 anos que vinha correndo ao seu encontro. Agora, entra escondido, sem que o pequeno veja, e vai primeiro ao banheiro trocar de roupa e lavar as mãos.“Além dele, tenho duas idosas em casa, uma de 76 e outra de 78 anos, todos do grupo de risco. Tive que aumentar a atenção. Tenho álcool gel no carro e estou usando com mais frequência, passo nas mãos e na maçaneta, e estou deixando sempre os vidros abertos. Por mais que, às vezes, pareça um alarde, essa é uma doença séria”, contou. Passageiros e motoristas reclamaram do preço do álcool (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO)  Em nota, a CCR Metrô Bahia informou que intensificou de limpeza de trens e áreas comuns, e a reposição de sabonetes líquidos em todas as estações de metrô e terminais de ônibus administrados pela concessionária. A empresa também está realizando campanhas educativas em TV Trem, Mub Digital e Banners nas estações destacando a importância da prevenção de doenças.