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'Está no caminho do caos', diz ex-capitão do Bope sobre violência na Bahia

Rodrigo Pimentel é um dos participantes do “SOS Bahia – Caminhos para mudar a segurança pública do nosso estado”

  • Foto do(a) author(a) Rodrigo Daniel Silva
  • Rodrigo Daniel Silva

Publicado em 4 de junho de 2025 às 05:00

Especialista em Segurança Pública, Rodrigo Pimentel
Especialista em Segurança Pública, Rodrigo Pimentel Crédito: Divulgação

Especialista em Segurança Pública, Rodrigo Pimentel traça um panorama preocupante da violência na Bahia. Com base em dados oficiais e análises técnicas, ele aponta falhas estruturais nas políticas de segurança e critica a falta de prioridade dada ao tema pelos governos do PT no estado. Além disso, analisa as consequências econômicas da criminalidade e defende medidas firmes e urgentes para conter o avanço das facções.

Rodrigo Pimentel é um dos participantes do “SOS Bahia – Caminhos para mudar a segurança pública do nosso estado”, que acontecerá amanhã, às 18 horas, no Hotel Fiesta, em Salvador. O evento é promovido pela Fundação Índigo, presidido pelo ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil).

Como avalia a situação da segurança pública na Bahia?

Não é uma análise baseada na percepção, porque eu não sou baiano. É baseada na análise fria. Os números posicionam a Bahia numa situação bem ruim, porque a Bahia está na contramão do Brasil. A Bahia está ocupando o primeiro lugar no Brasil há uma década nos índices de violência. Isso são dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e do Atlas da Violência, que são ofertados pelo Ministério da Justiça ou por ONGs. E alguém pode dizer: ‘mas alguém tem que ser o primeiro lugar’. Mas ,se você analisar, o Brasil, de 2017 a 2022, teve uma redução de homicídios de 25%, em todo o país, com dois ou três casos da federação que fugiram da regra, e continuou persistindo na diminuição. Ou seja, a Bahia está realmente na contramão do Brasil. Então, a análise que eu faço da Bahia é que está num caminho muito ruim. Num caminho do caos, no caminho do descontrole. Mas eu tenho cuidado de estabelecer que a polícia da Bahia está trabalhando muito. Se você colocar aí a análise da produtividade da polícia da Bahia, ela está prendendo como nunca. Ela nunca prendeu tanto, nunca matou tanto bandido, nunca apreendeu tantas armas, nunca apreendeu tanta droga.

Na sua avaliação, quais são as principais causas da escalada da violência no estado?

Quando pega os números da Bahia, o estado não estava sequer entre os 20 do Brasil mais violentos. A Bahia sempre teve muitos homicídios em função da população da Bahia ser grande. Mas quando transformava em números relativos, a Bahia ficava em 22º ou 23º colocado. A Bahia era um dos estados mais seguros do Brasil. É um fato. Isso há 22 anos. Como é que esse estado decola no ranking e passa de 23º para 1º colocado em tão pouco tempo? A Bahia não tinha nenhuma cidade entre as 10 mais violentas do Brasil. O que aconteceu na Bahia é absolutamente fora do comum.

Sem querer politizar nossa conversa, existe uma história muito antiga da esquerda no Brasil de que, se você reduzir a desigualdade social, se gerar emprego, a violência vai reduzir. É a lógica de que a violência é um sintoma da desigualdade social. Eu tenho a ideia de que uma sucessão de governos na Bahia focaram muito no combate à desigualdade social, focaram em programas sociais, e esqueceram a segurança pública como algo prioritário. Você lembra que a Bahia foi atormentada por uma greve de policiais, não é? Você lembra que a Polícia Militar da Bahia ficou muitos anos sem concurso, não é? Você lembra do desaparelhamento da Polícia Civil da Bahia, da Polícia Militar, não é? Então, eu acho que não foi prioridade do governo do estado a segurança pública. Eu acho que, como qualquer governo de esquerda, eles entendem que violência urbana é sintoma da desigualdade social. Então, vamos combater a desigualdade social. Na verdade, ou reduz a violência ou não consegue desenvolvimento social. É impossível você gerar emprego, impossível impulsionar o turismo, impossível ter turistas em um estado em que facções ocupam os territórios.

A violência prejudica o desenvolvimento econômico da Bahia?

Sim, eu peguei um dado do IBGE sobre o êxodo metropolitano em Salvador. As pessoas estão saindo da Região Metropolitana de Salvador. O que é incomum, porque as pessoas buscam as capitais, porque a capital tem emprego. Se a pessoa está abandonando a capital, certamente a violência urbana é um motivo. Isso acontece também no Rio de Janeiro. Não é na escala de Salvador. Salvador registra um êxodo metropolitano.

A impunidade impulsiona a criminalidade?

Um dado novo que foi divulgado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública é que a Bahia é o estado que tem o pior número na elucidação de homicídios. Só 15% dos homicídios na Bahia são elucidados. Também na contramão do Brasil, porque no Brasil tem estados com 36% dos homicídios elucidados. Com 15%, é realmente um sintoma. O que pode estar acontecendo é que a quantidade de homicídios é tão grande que a polícia não consegue elucidar todos eles.

A tendência é piorar?

Eu acho que sim. Agora, a principal medida que precisa é a sinalização do governo com firmeza. Não é bravata. Eu acho que é uma posição firme, do governo do estado, da Polícia Militar, da Polícia Civil, do secretário de Segurança Pública.

O que se pode fazer para reduzir a criminalidade?

Primeiro, convoca a sociedade e explica o que está acontecendo. Explica para a sociedade que isso é irreversível, se não tomarmos uma decisão enérgica e firme imediatamente. A ocupação territorial por parte das facções é irreversível. É só você ver o que está acontecendo no Rio de Janeiro hoje. E tem explicar para a população se aquela lei penal, que está valendo hoje no Brasil, é favorável a enfrentar isso. A minha opinião é não. É inadmissível um bandido ser preso com fuzil e ser solto em 11 meses. Eu acho que isso aí é totalmente ineficaz para acabar com uma facção. E, para derrotar uma facção, é preciso perseguir todo o dinheiro dela. E o dinheiro da facção hoje não é só maconha e cocaína. O dinheiro da facção hoje é o dinheiro proveniente da ocupação do território. São as extorsões.

Rodrigo Pimentel é ex-capitão do Bope, o grupo de elite da Polícia Militar brasileira. É autor dos best-sellers Elite da Tropa e Elite da Tropa II, que influenciaram o filme protagonizado pelo ator baiano Wagner Moura. Ele inspirou o personagem principal Capitão Nascimento. Também é pós-graduado em Sociologia Urbana pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Foi comentarista de segurança pública na TV Globo por seis anos.