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Bruno Wendel
Publicado em 11 de junho de 2019 às 10:42
- Atualizado há 2 anos
"A mãe de Kaíque ainda chora todos os dias. Até hoje ela não consegue ver o vídeo", disse o tio do jovem, o microempresário Igor Aquino, 40, na manhã desta terça-feira (11), durante o julgamento do pintor Edson Rodrigues dos Santos, 27, acusado de matar o estudante universitário, após desferir um soco no rosto do rapaz, na sexta-feira (9) de Carnaval do ano passado. Um vídeo divulgado pela polícia mostra o exato momento da agressão que levou à morte o aluno de engenharia mecânica da Universidade Federal da Bahia (Ufba).>
A mãe não compareceu ao julgamento. "Ela está muito abalada e, por uma questão de saúde, não veio. Mas o pai, tios, estão todos aqui", disse Igor Aquino. Kaíque tinha 22 anos e sofreu traumatismo craniano após a agressão.>
O julgamento no Fórum Ruy Barbosa começou pouco depois das 9h, após o sorteio das sete pessoas que compõem o júri popular. Para o julgamento, foram intimadas cinco testemunhas - sendo que uma não compareceu nesta terça ao Fórum em Nazaré. >
Até o momento, foram ouvidas as testemunhas de acusação. As duas primeiras foram amigas da vítimas - uma delas um colega de faculdade. Ambos falaram da idoneidade de Kaíque. "Ele era um rapaz de boa índole, responsável, jamais se envolveu em brigas. Era da paz", disse o colega de faculdade da vítima.>
Outra testemunha ouvida foi um policial civil do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), responsável pela investigação. Ele falou como a polícia chegou ao vídeo que mostra o exato momento da agressão. "Inicialmente contamos com o fato de o local ser uma rua pouco movimentada pelo horário e decidimos ir atrás de câmeras que pudessem ter registrado o fato. Foi quando encontramos a imagem", disse o policial.>
Para preservar as testemunhas de acusação, o réu foi retirado do plenário quandos os amigos da vítima foram indagados pelo juiz. Edson está preso e deixou o Complexo Penitenciário da Mata Escura para o julgamento.>
Em sua defesa, Edson manteve a versão de que havia brigado antes, que descontou a raiva no universitário por impulso, mas que não tinha intenção de matá-lo."Naquela fração de segundos, jamais poderia imaginar que iria acabar matando ele. Minha intenção não era matar ele. Quem sou eu para tirar a vida de alguém. Nunca passei por delegacia. Tenho profissão, carteira assinada", disse o réu. Durante interrogatório, Edson disse ao Ministério Público que foi coagido pelos policiais a dizer em depoimento que fez uso de maconha antes de atacar Kaíque. No entanto, o promotor trouxe à tona trechos das declarações da mulher de Edson, que afirma que ele é usuário de drogas. Questionado pelo MP-BA sobre as declarações, o réu respondeu: "Não sei dizer porque ela falou isso. Só sei que sou inocente". >
Perguntado pela defesa se estava arrependido, Edson disse que sim. "Estou muito arrependido. Naquela ocasião, não sabia que iria machucar".>
O crime "Eu estava com raiva porque apanhei. Aí eu vim gingando e meti nele. A minha intenção não era de matar", disse o pintor ao CORREIO, em fevereiro de 2018, quando foi preso na madrugada do dia 14 de fevereiro após agredir o estudante cinco dias antes. >
Durante a apresentação, Edson chegou a tratar o caso como uma fatalidade e disse que apenas falaria na presença de um juiz. Mas, ao sair da coletiva, ele disse estar arrependido do crime. "Eu não queria matar. Eu apanhei e fiquei com raiva. Meu celular ficou todo quebrado", disse o acusado. Edson confessou crime e disse que queria descontar raiva em alguém (Fotos: Almiro Lopes/Arquivo CORREIO/ Reprodução) Investigações Segundo a delegada Carmen Dolores, titular da 14ª Delegacia (Barra), que investigou o caso, a polícia só conseguiu chegar ao acusado porque imagens de câmeras de segurança da rua captaram a placa e o modelo do caminhão no qual Edson estava. O motorista que deu fuga a Edson estava nas imediações da Avenida Centenário um dia antes da prisão do pintor.>
Com ele estava o adolescente de 15 anos que prestava serviços ao motorista. Ainda segundo a delegada, o motorista conhece um amigo de Edson. O veículo, no dia do crime, estava estacionado a cerca de 10 metros de onde o crime aconteceu. De acordo com o delegado José Bezerra Júnior, diretor do DHPP, nas imagens das câmeras de segurança é possivel ver que o veículo estaciona na rua por volta das 22h da quinta-feira (8) de fevereiro. E, já por volta das 2h50, é possivel ver duas pessoas caminhando rápido em direção ao caminhão, um deles seria Edson e o outro seria o adolescente de 15 anos.>
Segundo a delegada Carmen Dolores, Edson possuia histórico de agressão – além de ter baleado uma pessoa, já respondeu por violência doméstica.>
Dia do crime De acordo com a família, era o terceiro Carnaval do estudante que se formaria no próximo ano. Às 23h30, Kaíque saiu da casa de um amigo, na Rua Manoel Barreto, na companhia de um primo e mais três amigos para o circuito Dodô. Minutos depois ele se perdeu do grupo no meio da multidão. Sozinho, Kaíque decidiu voltar para casa, às 3h, quando a pouco menos de 500 metros foi supreendido com um soco no rosto. Ao cair, a vítima ainda levou um chute do agressor. >
Desacordado, o estudante ainda chegou a ser socorrido por uma família que passava pelo local. Um dos membros era uma médica, que aguardou no local até a chegada Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) às 3h30. Apesar de socorrido com vida para o Hospital Português, o jovem teve morte cerebral cinco dias depois - a confirmação ocorreu no dia 14 de fevereiro de 2018.>