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Da Redação
Publicado em 22 de maio de 2023 às 05:36
- Atualizado há 2 anos
Em Salvador, a adesão à vacina bivalente caminha a passos lentos. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), a quantidade de pessoas aptas a tomar a dose de reforço contra a covid-19 e a variante ômicron na capital baiana é de quase um milhão, mas apenas 307.500 vacinas foram aplicadas até o momento. Esse número equivale a pouco mais de 30% dos soteropolitanos habilitados. >
Desde o dia 25 de abril, a prefeitura ampliou a campanha vacinal da bivalente, que inicialmente teve como público-alvo pessoas imunossuprimidas, para abranger também a população com mais de 18 anos. Ainda assim, a procura continua baixa na cidade. >
Coordenadora de imunização da SMS, Doiane Lemos, afirma ser essencial que a população se mantenha engajada em se imunizar. “A população precisa buscar a vacina, porque todos os esforços estão sendo empregados. Nós disponibilizamos pontos externos, pontos fixos, fazemos vacinação aos sábados. Fizemos semana passada um horário estendido de vacinação, mas precisa-se desse fator principal, que é a população entender a importância da vacinação, de manter a doença sob controle, da gente poder andar livremente sem lockdown e sem utilizar máscara”, afirma. >
A titular da Secretaria Estadual da Saúde (Sesab), Roberta Santana, afirmou que a Bahia atingiu 25% na meta de imunização com a vacina bivalente, e fez um apelo para que as pessoas procurem os postos de saúde. >
“A gente precisa vencer esse movimento antivacina. Sabemos a importância e a relevância da imunização, temos a prova disso com a pandemia, de que a vacina fez resultados e, por isso, a gente pode estar aqui hoje. Conseguimos atingir 980 mil pessoas vacinadas com a bivalente, fruto de uma campanha intensa nos últimos tempos, mas que não pode parar. A expectativa é imunizar 4 milhões de pessoas [em todo o estado], então, estamos muito aquém”, disse Santana. >
Para Astrid Xiomara Melendez, infectologista e professora do curso de Medicina da Universidade Salvador (Unifacs), existem diversos motivos para essa falta de adesão. Segundo a infectologista, alguns deles podem ser falta de conhecimento, mitos sobre os efeitos colaterais, apatia ou barreiras de acesso.>
Elis Freire, 20, estudante de comunicação social, faz parte do grupo que ainda não se imunizou com o reforço por dificuldades na rotina. “Não tive tempo de ir a um dos locais disponíveis, pois a maioria fica até às 16h e eu estudo pela manhã e trabalho pela tarde. Além disso, com o fim da pandemia decretado pela OMS fiquei mais tranquila em relação à covid e não priorizei ir ao posto. Mas pretendo, até o final do mês”, diz. De acordo com ela, das pessoas com quem convive, apenas sua avó tomou a dose bivalente.>
Já Milla Kauane, 35, deu à luz há três meses, e diz se sentir desconfortável com a incerteza das reações causadas pela vacina. “Não tomei a vacina bivalente porque ainda não completei o esquema de vacinação da covid-19, por não estar segura e ainda com medo das reações adversas de tomar doses de vacina em intervalos curtos. Se é uma imunização que pouco se sabe e menos ainda sobre seus efeitos colaterais futuros, não me sinto tão confortável”, afirma.>
Entretanto, apesar do receio que muitos ainda têm de possíveis efeitos colaterais da vacina, as pesquisas feitas pela comunidade científica são constantes e comprovadas. “Fake news muitas vezes propagam informações errôneas sobre efeitos colaterais graves e irreversíveis das vacinas, mesmo quando as evidências científicas mostram que os riscos são mínimos e superados pelos benefícios da imunização. No entanto, se um grande número de pessoas optar por não se vacinar, isso cria um ambiente propício para a propagação do vírus”, afirma a infectologista Astrid.>
Lucas Lima, bibliotecário de 28 anos, está entre a porcentagem que já se vacinou. Ele, que garantiu a imunização há aproximadamente um mês, defende que a vacinação não é algo que escolheu apenas para seu próprio bem-estar. “Eu trabalho com o público, então é importante pensar nas pessoas que atendo também. Antes da pandemia, não ligava muito para essa questão de vacinação, mas depois de ter covid antes [de tomar] a primeira dose e depois da terceira, percebi o quanto elas influenciam para diminuir a potência das doenças. A gente não vai erradicar essas doenças virais, é impossível com tantas mutações, mas podemos fazer nossa parte para não dar tanto poder a elas”, diz.>
Risco de perda de vacinas>
A bivalente é produzida pela Pfizer, que tem os imunizantes com validades mais curtas, segundo Doiane Lemos, coordenadora de imunização da SMS. Entretanto, ela afirma que a expiração de uma vacina tem início apenas após o descongelamento, o que faz com que perder doses não seja uma preocupação tão expressiva atualmente. >
"A gente já trabalha com as vacinas de covid desde 2021, quando iniciou a campanha. Então já temos uma uma organização e manejo dessas vacinas. Não descongelamos um quantitativo grande sem que a gente tenha esse planejamento de uso. Por isso a gente vem pedindo, recebendo e distribuindo essa vacina aos poucos, justamente para dar tempo de consumir e de não perder, porque o nosso interesse é vacinar a população", diz.>
Ainda assim, há a possibilidade de que doses se percam caso a procura seja ainda menor que o número descongelado. "Se a procura pela vacina bivalente for baixa e não houver um uso adequado das doses disponíveis, existe o risco de que algumas vacinas atinjam sua data de validade antes de serem utilizadas. Isso poderia resultar em perda de vacinas e desperdício de recursos. Portanto, é importante incentivar a adesão à vacinação para evitar desperdício e garantir que a proteção seja alcançada na população", afirma a infectologista Astrid.>
Ministra da Saúde comenta baixa adesão>
Nesta sexta-feira (19), a ministra da Saúde, Nísia Trindade, esteve em Salvador para anunciar investimentos de R$ 300 milhões na pasta, e comentou sobre a baixa adesão da vacinação bivalente em todo o país. >
“A vacinação bivalente tem sido garantida com aporte de vacinas do Ministério da Saúde para estados e municípios, mas ela está aquém do que precisamos. Temos que intensificar muito essa campanha. A Organização Mundial da Saúde já definiu o fim da emergência sanitária, mas não o fim da pandemia ou que estejamos livres da covid-19. Já sabemos comprovadamente, o Brasil é um exemplo disso, que com a vacinação nós temos uma redução grande de casos graves e de óbitos. A vacinação salva vidas”, disse a ministra. As bivalentes foram aprovadas pela Anvisa em novembro de 2022. Mas a aplicação só teve início no final de fevereiro deste ano.>
*Orientada pela chefe de reportagem Perla Ribeiro>