Centro Histórico celebra 35 anos como Patrimônio Mundial

Título foi concedido pela Unesco, em 1985

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  • Gil Santos

Publicado em 3 de dezembro de 2020 às 13:29

- Atualizado há um ano

. Crédito: Tiago Caldas/CORREIO

Foi em um sobrado no Largo do Cruzeiro de São Francisco, no Terreiro de Jesus, que nasceu o poeta Gregório de Mattos, internacionalmente conhecido como o Boca do Inferno, em 1623. Dona Maria deu a luz na casa de número 8. Alguns metros distante, na Rua Alfredo Brito, fica o casarão onde viveram os escritores Jorge Amado e Zélia Gattai.

No caminho, tem a primeira Faculdade de Medicina do país, a igreja de São Domingos Gusmão, e o museu Eugênio Teixeira, mais conhecido como Museu da Moeda, com peças do período colonial. No entorno ficam o Elevador Lacerda, o primeiro elevador urbano do mundo, igrejas barrocas, além de uma série de prédios de arquitetura antiga.

É por essa riqueza cultural que o Centro Histórico de Salvador foi tombado  pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 1984, e é considerado um Patrimônio da Humanidade  pela Unesco desde 1985. Hoje, faz 35 anos que esse título foi concedido, e para muitos turistas a área  é mesmo a cara de Salvador. 

As amigas Fernanda Garcia, 33 anos, e Gabriela Moraes, 32, caminhavam pelas ruas do Pelô, ontem, e contaram o que acharam. “Quando a gente pensa em Salvador a gente lembra logo do Pelourinho. Acredito que isso acontece porque essa associação vem sendo trabalhada há muito tempo e também porque Salvador é uma cidade antiga, foi a primeira capital do Brasil, tudo começou por aqui, então, fazer essa referência faz todo o sentido”, contou Fernanda.

Segundo a Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Secult), o local abriga 25 museus, cerca de 100 lojas, 250 comerciantes, e 21 igrejas, algumas delas conhecidas fora do país como a Catedral Basílica, a Igreja de São Francisco, e a de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. A do Santíssimo Sacramento, na Rua do Passo, foi usada como locação para o filme "O Pagador de Promessas", indicado ao Oscar, em 1963, e vencedor em Cannes e Cartagena.

Outra arquitetura muito fotografada é a casa onde morou a maioria dos governadores da Bahia, o Palácio Rio Branco. Mais recentemente, o local que serviu por séculos de sede da Igreja Católica em Salvador, o Palácio Arquiepiscopal, na Praça da Sé, também entrou para o hall dos queridinhos. A lista é grande. (Foto: Tiago Caldas/CORREIO) Governo ACM  Mas quem conheceu o Centro Histórico na segunda metade do século XX lembra que nem sempre a região foi tão valorizada. Clarindo Silva, 78, é uma figura icônica do Pelourinho. Começou a trabalhar no local aos 12 anos, na década de 1940, quando a região ainda era habitada por famílias abastadas de Salvador.

“Depois, com o tempo, essas famílias foram migrando para outras regiões da cidade e, em 1970, o Centro Histórico já havia sofrido um processo de esvaziamento. Saiu a Faculdade de Medicina, o Instituto Médico Legal, a sede do Incra, e da Academia de Letras da Bahia. Fecharam o cine popular, o Baneb, e a Caixa Econômica, e a sociedade baiana virou as costas, dizendo que aqui só tinha prostituição e marginalidade”, contou.

O menino, que começou como empregado doméstico, hoje é proprietário de um dos restaurantes mais famosos da região,  Cantina da Lua, que funciona no mesmo prédio em que ele trabalha há 66 anos. “As autoridades só voltaram a olhar com atenção para o Pelourinho na década de 1990. Antes disso, alguns governantes fizeram alguns esforços, mas as intervenções mais intensas aconteceram a partir da década de 90”, conta.

Ao assumir o governo baiano pela terceira vez, em 1991, Antonio Carlos Magalhães colocou como uma das suas prioridades na área cultural   a restauração do Pelourinho. De 1992 a 1994, ele concluiu quatro etapas do Programa de Recuperação do Centro Histórico, que  restaurou de cerca de 300 casarões.

Em 1993, o cartão-postal foi reaberto ao público e logo ganhou o mundo. Para manter vivo o conjunto declarado Patrimônio da Humanidade, ACM atraiu empresas para o Pelô e  determinou a montagem de projetos para fomentar espetáculos nos espaços livres.   (Foto: Tiago Caldas/CORREIO) Pesquisa  A Secult fez uma pesquisa em julho deste ano que mostrou que para 46,6% dos visitantes as atrações históricas e culturais são os principais atributos considerados para escolher Salvador como destino. Os outros 56,7% destacaram as praias. O órgão não contabiliza o número de visitas por monumento, mas os turistas têm suas preferências.

O secretário de Cultura e Turismo de Salvador, Pablo Barrozo, contou que a próxima campanha criada pelo Município para atrair às pessoas para o Pelô vai enfatizar outras características do local. O objetivo é dar novos rostos para o cartão postal que é a cara da capital, através da visibilidade de grupos artísticos menos conhecidos na cidade, mas que valorizam o papel do povo negro e das mulheres. Ela será lançada até janeiro.

“O Centro Histórico, junto com as praias, é responsável pela maior atração turística de Salvador no mundo todo, por isso, temos tido o cuidado de fazer a revitalização dessa região da cidade. Agora, em dezembro, vamos entregar a restauração da Casa dos Azulejos Azuis, no Comércio, que vai se tornar a Casa da Música de Salvador e será um dos maiores atrativos turísticos da cidade”, disse.

Para o arquiteto e diretor geral do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac), João Carlos Oliveira, o valor do Centro Histórico é inestimável.

“Salvador é uma cidade que conta, através da arquitetura, a história desde a fundação, ou seja, desde a chegada dos portugueses, até os dias atuais, passando por diversas épocas. É um tecido e uma arquitetura mista da história brasileira. O tombamento é importante porque é a preservação desse registro. Do ponto de vista histórico e cultural, isso é inestimável”, afirmou.

Salvador e o Centro Histórico se completam, são dois lados de uma mesma moeda, ou como disse Boca do Inferno em um de seus sonetos “O todo sem a parte não é todo, e a parte sem o todo não é parte”.  

Confira o que visitar no Centro Histórico:

Catedral Basílica

Terrreiro de Jesus

Antiga Faculdade de Medicina

Igreja de São Francisco

Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos

Fundação casa de Jorge Amado

Largo de Santo Antônio

Mercado Modelo

Praça da Cruz Caída

Memorial das baianas

Grupo afro Olodum

Museu Afro-Brasileiro

Palácio Arquiepiscopal de Salvador

Palácio Rio Branco

Plano Inclinado Gonçalves

Elevador Lacerda

Casa da Câmara

Solar Ferrão