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Gil Santos
Publicado em 10 de outubro de 2018 às 05:30
- Atualizado há 2 anos
O direito de votar e como fazer dessa conquista um meio para promover as transformações sociais no Brasil já foi tema da Redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Isso foi em 2002. Quase duas décadas depois e no meio de uma disputa eleitoral que deixou os ânimos acirrados no país, os professores garantem que a possibilidade do tema voltar à pauta é grande.>
Não tem santinho que ajude a prever as questões sobre eleições que podem aparecer nas provas, mas os professores afirmam que elas sempre estão presentes, mesmo que de maneira indireta. Para a professora de História e Atualidade do Instituto Dom de Educar (Rede FTC), Daniela Praia, as perguntas são feitas sob uma perspectiva histórica.>
“O Enem nunca aborda esse tema de maneira direta, fazendo o candidato dizer o que é certo ou errado. As eleições sempre aparecem em um contexto histórico. O exame cita as mudanças na legislação em 1932 e pede que o candidato responda a uma pergunta sobre o direito das mulheres de votar, por exemplo”, afirmou ela.>
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A Plataforma SAS fez uma busca nas edições anteriores do Enem e encontrou 13 questões ligadas diretamente às eleições. Na prova de 2009, o texto de apoio de uma das perguntas cita um trecho de O Estado Nacional, de Francisco Campos, que afirma que a democracia de partidos conduziria à desordem. Em seguida, pede que o candidato reflita sobre o papel de Getúlio Vargas na história da política nacional.>
Daniela Praia aconselha ainda que os estudantes revisem as principais ideias de cada uma das sete constituições brasileiras e as mudanças que aconteceram de uma para a outra. “Ele vai perceber as transformações no sistema eleitoral e a importância do voto, como era restrito no início”, disse.>
Pensando nisso, o estudante do 3º ano do ensino médio do Colégio Antônio Vieira Henrique Barros, 17 anos, contou que está de olho nos noticiários, seja pela televisão ou pela internet. Outra estratégia adotada pelo futuro engenheiro mecânico é revisar as edições anteriores do Enem (veja algumas questões sobre o tema ao lado e mais exemplos no correio24horas.com.br).>
“As provas anteriores têm questões sobre eleições e processo eleitoral, por isso, são importantes. Faço exercícios em casa e procuro me manter informado, lendo notícias e refletindo sobre essas questões”, justifica o aluno, que já recebeu até medalha pelo desempenho na disciplina de Química. O estudante Henrique Barros diz que está de olho no noticiário, pela TV e internet (Foto: Almiro Lopes/ CORREIO) Temas Dentre os temas ligados às eleições que podem cair na prova, os professores apostam, além da Era Vargas, na política do Brasil Colônia e Imperial e o voto na República Velha. O papel da democracia e a participação das mulheres na história das eleições são outros pontos bastante cotados.>
A professora de Redação Bruna Almeida, do Colégio Antônio Vieira, concorda que o tema aparece pouco de forma direta, mas frisou que ele está sempre presente de maneira ampla, discutindo problemas sociais e políticos provocados ou solucionados através de eleições.>
“Pedi que os alunos escrevessem sobre as práticas assistencialistas e se elas contribuem para a equidade social do Brasil, mesmo tema de um vestibular da Uefs, e isso dividiu opiniões na sala de aula. Eles relacionaram o assunto com alguns dos presidentes do Brasil e as eleições. Então, o tema ‘eleições’ pode ser trabalhado sem necessariamente trabalhar o voto, mas questões sociopolíticas”, afirmou a docente.>
Ela não acredita que esse será o tema da Redação do Enem em 2018, não de forma direta como foi em 2002, mas disse que os problemas sociopolíticos devem estar presentes mais uma vez. “São questões mais frequentes, porque podem ser abordadas de muitas formas”, disse. A professora de Redação Bruna Almeida alerta para questões sociopolíticas (Foto: Almiro Lopes/ CORREIO) Em uma questão do ano passado, o candidato foi provocado a refletir sobre a legitimação de governos através das eleições e sobre o papel dos meios de comunicação nesse processo, enquanto que a Redação abordou os desafios para a formação educacional de surdos no Brasil, com textos de apoio que falavam da importância que essa questão teve nos diferentes governos brasileiros.>
O estudante Caetano Augusto Abreu, 18, vai fazer o Enem pela terceira vez. Ele está no 3º ano do ensino médio e também não acredita em uma abordagem direta do tema na Redação, no entanto, está lendo o máximo que consegue sobre assuntos ligados a esse universo eleitoral.>
“As redações do Enem sempre tratam de questões sociais e isso também é política. As provas anteriores são importantes nesse sentido, porque já trabalharam esses temas, então, é um ótimo exercício”, afirmou Caetano, que quer cursar a faculdade de Direito.>
As provas começaram a ser distribuídas para os estados na semana passada e estão sob a guarda dos batalhões do Exército. Apesar da ansiedade, os 398 mil candidatos baianos terão de aguardar até os dias 4 e 11 de novembro para ter acesso ao conteúdo dos cadernos. No meio do caminho, tem o segundo turno para a Presidência e mais notícias sobre as eleições. Prof. Daize orienta os alunos a redobrarem a atenção (Foto: Divulgação FTC) Cuidado com as opiniões>
Eleições é um tema espinhoso até mesmo para o Enem. Segundo os professores, a prova tem por tradição evitar polêmicas, não citando nomes de políticos da atualidade nem questões partidárias, mas em tempos de disputas acirradas e nervos à flor da pele, os estudantes correm o risco de extrapolar os limites do permitido pelos avaliadores.>
“Às vezes a gente se empolga, coloca bastante opinião, mas o que está sendo avaliado são os argumentos. Além disso, se essa opinião não respeita os direitos humanos, perdemos ponto”, frisou o estudante do ensino médio Caetano Augusto Abreu, 18 anos. E ele tem razão. A competência 5, observada pelos avaliadores, é “elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos”.>
A professora de Linguagem do Instituto Dom de Educar (Rede FTC) Daize Fonseca orienta os estudantes a redobrarem a atenção e a não se deixarem levar pelo discurso superficial das redes sociais.>
“Eles precisam de argumentos, de ideias, por isso, precisam buscar fontes fidedignas e diversificadas. Neste ano, tem fortes chances das eleições aparecerem como tema, então, o aluno deve conhecer opiniões diferentes e refletir sobre isso”, disse.>
A professora aposta ainda em temas ligados ao processo democrático, ao preconceito e às fake news como possibilidades para as questões do exame. Prof. Daniela reforça a necessidade de ter bons argumentos (Foto: Divulgação FTC) A professora de História e Atualidade Daniela Praia acredita que as comparações devem estar presentes: “A prova não cita nomes de políticos, mas pode pedir para os estudantes compararem o cenário político brasileiro com o de outros países, como os EUA, por exemplo, por isso, a importância de revisar a história política do Brasil”, diz ela.>
Ainda segundo a professora, “os alunos devem ter cuidado, porque, quando o assunto é política, é comum eles fugirem do tema e reproduzirem pensamentos, sem apresentar bons argumentos, o que acaba provocando muitas notas baixas”, afirmou.>
Veja questões de exames anteriores: Enem 2010 – Prova 1 - Segunda aplicação 2013 - 1º dia Caderno 1 - Azul >