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Vitor Villar
Publicado em 17 de maio de 2021 às 14:22
- Atualizado há 2 anos
Hoje, a pauta é sua! Essa matéria foi sugerida à redação do CORREIO pela nossa assinante Regina, moradora da Pituba, que inclusive ajudou na apuração. Quer ter informação de qualidade todos os dias e ainda sugerir pautas? Basta assinar o Jornal Correio por apenas R$ 5,94/mês. O gerente comercial Esaú Costa, morador de Mussurunga, viveu uma situação insólita em 2020. Ficou três dias rodando por Salvador com a caçamba de sua picape cheia de garrafas, sem conseguir encontrar onde descartar corretamente tanto vidro.>
“Parei numa blitz voltando para casa e tive que explicar para os policiais porque tinha tanto vidro no carro (risos)”, lembra Esaú. “O meu patrão é dono de uma pousada em Barra Grande, e trouxe esse vidro para cá porque não encontrou em Maraú onde descarta-lo corretamente”.“Aí falei pra ele: ‘não, fique tranquilo, pode deixar comigo’! Eu achando que seria fácil, né (risos)? Saí ligando, mandando mensagem no WhatsApp, perguntando a todo mundo aonde levar. Fui em vários lugares aqui e em Lauro de Freitas e não achei nenhum que aceitasse vidro. Todo mundo dizia que não adiantava pegar na minha mão porque não tinha para quem repassar”, completa Esaú.O ‘perrengue’ não é novidade. Até o ano passado, não havia na Bahia uma usina para pulverizar vidro e recicla-lo. Antes de ser vendido à indústria, para que seja reaproveitado, esse material precisa ser transformado em pó.>
Por isso, as cooperativas baianas e os pontos de coleta não aceitam vidro. Porque não há para onde levar. E, quando tem, a logística torna-se muito custosa.“O vidro é uma ‘pedra no sapato’ na reciclagem de Salvador. Não é que não tenha como reciclar, a questão é que não agrega valor. Até temos uma indústria que recebe vidro, mas tem que levar para Sergipe. E o preço que pagam não custeia essa viagem”, explica Elias Júnior, da Cooperbari.O vidro tem dois inconvenientes principais: é mais pesado que os demais materiais e ocupa um volume maior, pois não pode ser amassado. Por isso, qualquer transporte exige mais veículos do que plástico, papel ou alumínio. Além disso, é mais perigoso para quem os manuseia.>
“O descarte de vidro é mesmo um ‘problemão’ para o estado. No passado, as cooperativas até coletavam, mas de uns cinco anos para cá começou a ficar muito caro fazer a logística. Hoje em dia tem até quem recolha, mas só consegue destinar quando tem muitas toneladas. E não é toda cooperativa que tem esse espaço para armazenagem”, explica Sandro Camargo.>
Por isso, o vidro que é entregue nos Ecopontos muitas vezes não atrai cooperativas e acaba descartado no aterro. Juliana Tourinho, que sempre deixou seus vidros no Ecoponto do Itaigara, ficou surpresa ao saber disso por meio da reportagem.>
“Eu não sabia disso não! Morreria sem saber! E eu me achando o máximo, crendo que fazia reciclagem das minhas cervejas, dos meus vinhos... Estou indignada (risos)!”, disse, brincando. A engenheira Juliana Tourinho separa seus recicláveis por tido e faz a entrega diariamente (Foto: Paula Fróes / CORREIO) Só em março do ano passado foi inaugurada a primeira usina de vidro na Bahia, a Revida, em Camaçari. Ainda assim, a empresa tem enfrentado obstáculos para obter adesão, justamente por conta da custosa logística.“Muita gente nos procura, individualmente, para destinar seu vidro. Só que o preço que a gente encontra para revende-lo depois não paga nem esse diesel”, explica Val Dias, fundadora da empresa. “O nosso desafio é que os grandes geradores (supermercados, restaurantes, hotéis, locais de evento) custeiem esse deslocamento”, completa.A outra ponta dessa cadeia também está quebrada: “O vidro que a gente processa aqui também não é aproveitado na Bahia. A gente revende para São Paulo, Pernambuco, Ceará. Então temos também esse custo elevado. O cliente final são as indústrias de vidro que transformam esse triturado em novas garrafas, novos recipientes. E isso não existe aqui no estado”, diz Val Dias.>
Por isso, além da entrega voluntária na sede – que fica no bairro Limoeira, próximo ao Hospital Geral de Camaçari –, a empresa tem buscado parcerias com prefeituras e grandes geradores.>
Pelo menos um desses projetos saiu do papel: desde o final de abril último o Vale Luz, da Coelba, tem também recolhido vidro e destinado para a Revida. A empresa também tem parceria com os hotéis da Praia do Forte, que têm destinado o material para lá, além de condomínios do Litoral Norte e da Coopmarc, cooperativa de reciclagem sediada em Camaçari.>
A usina, porém, ainda não conseguiu apoio das prefeituras da Região Metropolitana. “O custo do vidro no aterro sanitário é imenso para os municípios. É um material que não é degradável, toma muito espaço, é um prejuízo ambiental enorme”, diz Val Dias.“E o estranho é que o vidro é 100% reciclável. O plástico e o alumínio, por exemplo, não são totalmente reaproveitados. Uma garrafa que você pulveriza se transforma numa nova garrafa por meio da indústria”, salienta a fundadora.Para as cooperativas, o preço que a Revida paga pelo vidro também não custeia a logística. “A gente está em diálogo permanente com o Ministério Público para ver o que é possível fazer. A gente precisa chamar a atenção do poder público para que nos ajude com esse transporte”, diz Sandro Camargo.>
“A gente também precisa estimular para que as indústrias de vidro venham para a Bahia. E assim tenhamos toda a cadeia por aqui e assim os custos reduzam para todo mundo”, completa.>
O que fazer?É importante que cada cidadão separe o seu lixo reciclável (papel, plástico, vidro e alumínio, sobretudo) e leve para um ponto de coleta. Ou, que entre em contato com alguma cooperativa de reciclagem e agenda uma coleta em seu condomínio. Onde levar meus recicláveis?>
Projeto Vale Luz: Através dessa iniciativa da Coelba, é possível trocar recicláveis por desconto na sua conta de luz. Locais:Salvador Shopping Salvador Norte Shopping Ecoponto na Praia do Forte Ecopontos da Limpurb: Nesses pontos, é possível deixar lixo reciclável ou entulho, que serão entregues a cooperativas. Locais:Rua Wanderley Pinho, 710, Itaigara (atrás do Hiperposto da Av. ACM) Rua Alto do Abaeté, S/N, Itapuã (em frente à sede do bloco Malê Debalê) >