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Daniel Aloísio
Publicado em 5 de maio de 2020 às 18:00
- Atualizado há 2 anos
Trabalhador. Essa é a palavra que Patrícia Oliveira usa para descrever o marido, Hildesio Antônio de Oliveira, de 39 anos, que morreu enquanto justamente exercía o ofício de ajudante de pedreiro em uma obra em Cajazeiras V. >
“Ele não negava serviço. Era trabalhador, ajudante de pedreiro, cavava buracos, descarregava caminhões. Tudo que pediam pra fazer, ele e o colega faziam”, lembra Patrícia, que vivia com o marido em Águas Claras, com os dois filhos do casal, uma menina de 15 anos e um rapaz de 14. >
“A vítima estava escavando no local e houve o escorregamento da terra”, explicou o diretor-geral da Defesa Civil, Sosthenes Macêdo, que destacou que a área não é considerada de risco para deslizamentos. O CORREIO tentou contato com os donos do imóvel, que contrataram Hildesio e seu colega de trabalho, que também chegou a ser soterrado, mas foi resgatado por moradores da região, mas eles não quiseram gravar entrevistas. Hildesio ficou abaixo de quatro metros de terra e não resistiu (Foto: Reprodução/TV Bahia) Os vizinhos do local também não quiseram falar sobre o assunto, em respeito ao dono da casa. “Essa foi a primeira vez que ele foi trabalhar naquele local. O dono da obra falou que podia me ajudar com alguma coisa para os serviços funerários, mas que ele não tinha muitas condições, pois é vendedor de churros”, disse Patrícia. >
Na manhã dessa terça-feira, o Departamento de Polícia Técnica fez a perícia no local, mas ainda não produziu o laudo que será enviado para a Polícia Civil fazer a investigação. Quatro casas foram interditadas após o soterramento e os moradores tiveram que deixar as residências. >
Agentes da Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Urbanismo (Sedur) também estiveram no local. Por orientação da Defesa Civil, a Sedur já demoliu, nesta terça-feira (5), um muro, as paredes internas e reduziu as paredes externas de uma construção em andamento. A equipe também deu início à demolição de um imóvel com dois pavimentos e a previsão para a conclusão do serviço é para esta quarta-feira (6).>
O caso O Corpo de Bombeiros Militar da Bahia (CBM) esteve no local na segunda-feira (4), por volta das 15h30, para realizar o resgate de Hildesio. Segundo o coronel Ramon Dieggo, do CBM, a vítima estava fazendo uma obra no fundo de uma casa e a terra cedeu. Ele explicou que Hildesio e um colega provavelmente estavam construindo uma fundação para o imóvel, mas acabaram rompendo o talude — um tipo de plano que dá estabilidade a terrenos inclinados. >
Com o deslizamento, o ajudante de pedreiro chegou a ficar soterrado em cerca de quatro metros de terra. Os bombeiros acreditam que a construção tinha o propósito de ampliar a casa. "Há muito risco em fazer um procedimento como aquele. O corte do terreno já é contraindicado, é um contexto de insegurança que soma fatores de risco como chuva, terra molhada, terreno inclinado e ainda uma escavação grande com peso em cima", alerta o coronel Dieggo. Local onde Hildesio ficou soterrado (Foto: Corpo de Bombeiros da Bahia/Divulgação) Para encontrar a vítima, os bombeiros tiveram primeiro que realizar a contenção do talude e remover parte dos escombros. A operação toda durou mais de quatro horas, encerrando após às 19h30. >
A Secretaria Municipal de Promoção Social e Combate à Pobreza (Sempre) informou que as famílias que tiveram que deixar suas casas foram cadastradas junto à secretaria e receberão auxílio moradia no valor de R$ 300, cestas básicas, colchões e kits de higiene pessoal. J´s os familiares de Hildesio terão direito ainda ao auxílio funeral. >
Equipes do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), Empresa de Limpeza Urbana do Salvador (Limpurb), Superintendência de Trânsito do Salvador (Transalvador), polícias Civil e Militar também atenderam à ocorrência. O corpo da vítima foi retirado na manhã dessa terça-feira (5) do Instituto Médico Legal (IML). Não há informações sobre o sepultamento. >
Deslizamentos Esse ano, Salvador já registrou dois casos de soterramento e duas mortes. Há quase duas semanas, uma família de seis pessoas vivenciou um drama após um deslizamento de terra no bairro de Águas Claras, que terminou com a morte da bebê Maria Eduarda, de apenas quatro meses, e da avó dela, a diarista Maria da Conceição Fraga Teixeira, 41. >
Ambas morreram depois de ficarem soterradas com o desabamento do imóvel em que estavam, que não resistiu às fortes chuvas. A casa da família, localizada na 2ª Travessa Celika Nogueira, foi demolida e outras 16 construções foram interditadas pela Defesa Civil (Codesal). >
No mesmo dia em que avó e neta morreram, uma criança de 8 anos também foi soterrada após um deslizamento no bairro de Sussuarana. A pequena Sofia conseguiu ser resgatada com vida. Na ocasião, uma vizinha da família contou ao CORREIO que o barranco cedeu pelos fundos da casa da família, depois das 10h do dia 23 de abril. >
"Quando eu passei para ir para casa de minha mãe eu vi o desespero da mãe da menina, gritando, pedindo socorro. Eu chamei o pessoal para ajudar a socorrer", diz ela, que prefere não se identificar. >
*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro. >