Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Alexandre Lyrio
Publicado em 28 de maio de 2016 às 14:04
- Atualizado há 2 anos
What beauty”. Era o que os gringos queriam escrever na grande tela de concreto de uma antiga fábrica de cerveja, em Castelo Branco, só que em português. Pela tradução que trouxeram dos Estados Unidos, quase estamparam no muro a expressão “que lindeza”. A galera daqui estranhou. Prontamente, sugeriu a mudança: “Que Beleza”.>
O “que beleza”, com uma palavra em cada ponta do muro, abraça as outras obras que dão vida ao espaço. O trabalho, realizado por grafiteiros baianos em parceria com quatro artistas de rua americanos, agora dá vida ao paredão do bairro. Outros quatro estrangeiros filmam um documentário sobre o intercâmbio.(Foto: Almiro Lopes/CORREIO)O muro, com mais de cem metros, é uma das principais telas de grafite de Salvador. A vinda dos americanos, todos jovens de periferia, foi motivada após um encontro em Nova York. Uma organização que trabalha com jovens perguntou ao artista visual baiano Eder Muniz se ele poderia recebê-los em Salvador. Providenciado o muro, o evento foi marcado. Em dois dias, na quarta e quinta-feira passadas, a obra foi finalizada.>
Uma empresa de tintas bancou material, alimentação e transporte dos artistas. “Nos EUA, as empresas incentivam os jovens artistas. Na verdade, o grafite cresce no Brasil. São Paulo e Rio já têm até bienais de grafites. Tá na hora de Salvador entrar nesse circuito. Estamos começando a criar uma rede, que ainda é meio limitada”, afirma Eder. >
Qualidade não falta aos baianos. É o que dizem os próprios estrangeiros. “Os caras chegam aqui e se surpreendem com o trabalho da gente”, revela Eder. “Não tem como discutir a qualidade deles. Fico animado de ver o trabalho de vocês”, confirma o americano Ephraim Gebre, 17 anos. Nas mãos de brasileiros ou americanos, no total, 300 latas de spray e 50 latas de tinta acrílica foram usadas no evento.>
Entre o “que” e o “beleza”, foram pintadas figuras que remetem à natureza, tema escolhido para a exposição ao ar livre. “Por isso, escolhemos o ‘que beleza’. Tudo o que é da natureza, seja um deserto, seja um oceano, se mostra belo e digno de virar obra de arte”, afirma Shawn Dunwoody, 43, outro artista de rua americano a participar da atividade. Aliás, os oito americanos de Rochester, cidade próxima a Nova York, nunca haviam visitado o Brasil. Alguns sequer tinham viajado de avião ou visto o mar, por exemplo. >
Por esse e outros tantos motivos, o documentário Confronting The Wall (Confrontando Paredes) foi gravado durante a exposição. “Queremos mostrar como jovens artistas em dificuldade, seja brasileiros ou americanos, buscam os diferentes caminhos para fazer arte”, explicou a produtora do vídeo, Christine Christopher. Fato é que, seja por traços baianos ou americanos, mais um muro abandonado e sujo virou arte em Salvador. “Esse muro é visto por muita gente. Gente de mais de dez bairros da região passa por aqui”, cita Eder Muniz. Que beleza! >