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Da Redação
Publicado em 13 de setembro de 2019 às 21:49
- Atualizado há 2 anos
A polêmica envolvendo o Projeto de Lei (PL) que proibiu a realização do arrastão de carnaval da Quarta-feira de Cinzas ainda está rendendo. A Arquidiocese de Salvador divulgou uma nota, nesta sexta-feira (13), em que apoia a decisão dos vereadores e afirma que os membros da igreja têm o direito, em qualquer ambiente ou setor em que atuam, de defender valores que consideram importantes, de acordo com a fé, e que isso vale também para políticos que exercem um mandato.>
“Preservar o início da Quaresma é um desses direitos. Por sinal, a Quarta-feira de Cinzas é um dia depois de inúmeros dias de festas carnavalescas. Por mais que uma festa seja importante na vida de uma pessoa ou de um grupo, ela não pode durar sempre ou indefinidamente, pois há outros valores que devem ser preservados”, diz a nota.>
A igreja manifestou preocupação também com a situação dos comerciantes por causa dos feriados e dias que ficam impossibilitados de trabalhar, com impacto no pagamento de fornecedores, funcionários e impostos.>
A proibição divide opiniões. Criado por Carlinhos Brown, o arrastão da Quarta-feira de Cinzas foi sendo incorporado aos poucos à folia tradicional. Em 2016, Brown anunciou que não faria mais o arrastão. “Deixei isso para os meus colegas”, disse, na época.>
O prefeito ACM Neto escreveu nas redes sociais, nesta sexta-feira (13), que, como católico, não vê nenhuma incompatibilidade entre o arrastão e o início da Quaresma, argumento usado pelo vereador Henrique Carballal, para solicitar o fim da festa. Além disso, o prefeito também ressaltou que o projeto deveria ser debatido com a Prefeitura, a sociedade e Conselho do Carnaval, o que não aconteceu, ele diz.>
“Em meio a tantos comentários, e devido à grande repercussão, acho que o projeto que proíbe o arrastão na Quarta-feira de Cinzas deveria ser debatido com a Prefeitura, sociedade e Conselho do Carnaval. Infelizmente, não foi. Vou examinar com critério, observando os aspectos jurídicos e objetivos do projeto, para só então tomar a melhor decisão para a cidade”, escreveu Neto. “Desde já, afirmo, como católico, que não vejo conflito entre a manifestação popular e o respeito ao início da Quaresma. Salvador é a cidade do Brasil onde o ‘sagrado’ e o ‘profano’ convivem sem conflitos ou preconceitos”, afirmou.>
O projeto foi aprovado pelos vereadores na quarta-feira (10) e prevê multa de R$ 500 mil para quem descumpri-lo. O placar foi 38 votos a favor, dois contra, uma abstenção e uma ausência. Após receber o texto, o prefeito tem 15 dias para decidir se ele será vetado ou sancionado. O vereador Carbalall, autor da matéria, explicou o motivo.>
“O Brasil é oficialmente um Estado laico. Se por um lado essa laicidade pressupõe a não intervenção da Igreja no Estado, por outro implica em efetivo respeito à crença e costumes religiosos. Por isso, o Carnaval não pode estar alheio a esse contexto e sua ocorrência deve se adequar às tradições religiosas”, afirmou.>
Neste ano, o cantor Léo Santana foi a principal atração da Quarta-feira de Cinzas, pelo segundo ano consecutivo, ao lado de Danniel Vieira, que se apresentou pela quarta vez nessa data.>
Artistas O projeto de lei aprovado pelos vereadores também provocou comentários de artistas baianos. Para o cantor do Psirico, Márcio Victor, a decisão deve ser do povo. “É da vontade do povo. Se o povo tá lá, é porque o povo quer”, acredita.>
Ele defendeu que a festa é voltada para as pessoas que trabalham durante os dias oficiais de Carnaval. “Há 18 anos, Brown começou essa festa, que tem uma retribuição para quem trabalha e não tem condições de acompanhar os artistas que gosta no trio durante o percurso porque aproveita para ganhar uma grana. Então por que acabar? Se o país da gente é um estado laico, onde respeitamos todas as religiões?”, questionou.>
Em um vídeo, a cantora Daniela Mercury pediu que as autoridades reconsiderem a decisão. “Estou sentida com essa notícia de que não haverá mais arrastão. Não consigo compreender essa decisão em uma cidade tão diversa, com uma população que tem muitas crenças e em um país laico. Fica aqui o meu pedido, o meu clamor, para que possamos continuar fazendo o arrastão espontâneo como sempre foi para que o carnaval tenha o seu dia de confraternização”, afirmou.>
Procuradas, as assessorias de Léo Santana e Ivete Sangalo não se pronunciaram até a publicação da reportagem. O CORREIO não conseguiu contato com as assessorias de Claudia Leitte e Carlinhos Brown. Já Danniel Vieira informou que vai comentar apenas depois que a lei for sancionada ou não pelo Executivo.>