Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Da Redação
Publicado em 27 de janeiro de 2022 às 05:15
- Atualizado há 2 anos
A garantia de uma proteção mais potente contra a covid-19 - necessária, sobretudo, após a variante ômicron, mais transmissível - está em falta em Salvador. Máscaras do tipo PFF2 e a cirúrgica de camada tripla já não são encontradas em algumas lojas, devido ao aumento da procura, que chegou a quadruplicar em janeiro, frente a dezembro. Fornecedores relatam falta de material (do filtro, de TNT) e que só terão reposição entre 15 de fevereiro e março. Em alguns casos, só em abril. >
A representante da marca SOL-Millennium da Bahia, Viviane Mantovani, já dispensa clientes, porque não tem mais a cirúrgica em estoque. “Vendemos o estoque de cinco meses todo em janeiro e o mês nem acabou. A demanda está absurda com essa nova onda da covid, e os contêineres com novas unidades só chegam a partir da segunda semana de fevereiro”, relata Viviane. Ela vendeu o dobro do que tinha programado nesse primeiro mês do ano. Por conta da diminuição da oferta e aumento da demanda, o preço subiu cerca de 25%, em um mês. >
Em uma loja de produtos hospitalares no bairro de Nazaré, a previsão para entrega de uma nova remessa é final de fevereiro e início de março. “A procura aumentou em torno de 40%, mas a gente não acha máscara para comprar”, afirma a funcionária da loja, que pediu para não se identificar. A caixa com 50 unidades da máscara descartável, que ela comprava por R$ 18, agora está R$ 25 - um aumento de 38,9%. >
Ela chegou a ficar 10 dias sem estoque na loja. Agora, nem pagando mais caro ela consegue encontrar. O mesmo acontece com a PFF2, que custa entre R$ 3,50 e R$ 4 a unidade. “Comprei 400 caixas e agora não tem nem 10, sendo que essa remessa chegou há 15 dias”, afirma. Ela também teve redução nas opções de marcas. >
Elonei Filho, que vende produtos de saúde há 15 anos, relata que a procura pelas máscaras chegou a quadruplicar em janeiro. “Foi um crescimento estúpido”, diz. A reposição só será em março. “Só estou fazendo vendas futuras, para março e abril, porque não tenho mais estoque. Os fabricantes não estão dando conta. Tenho fila de espera de uma caixa de 500 mil máscaras KN95 e outras 1,8 milhão para outra empresa”, revela Filho. O preço da PFF2 aumentou 15%. As descartáveis, 60%. >
Já na loja Cirúrgica Teixeira, os donos compraram cinco vezes mais PFF2 em janeiro, prevendo o aumento da procura. Segundo funcionários, a alta foi de 60% na procura e vendas. “Comprei com bastante antecedência, porque sei que a gente vai usar por muito tempo ainda e a procura aumentou muito depois da gripe, da ômicron e o retorno das aulas”, conta uma fonte anônima. >
O reajuste de preço que o fornecedor deu a ela foi de 15%, mas ela não passou para os clientes. A da cirúrgica, no entanto, foi maior. “Tanto infantil quanto adulto, o aumento foi de quase 30%. Mas não posso aumentar o preço, para não perder os clientes fidelizados, pela concorrência e pelo cenário da pandemia que estamos vivendo”, conta. As máscaras PFF2 custam R$ 3,50 (branca) e R$ 4 (preta). A caixa com 10 sai por R$ 30. Já as cirúrgicas, o pacote com 50 é a partir de R$ 23. >
Na fábrica baiana Flex Maker, que produz máscaras e outros EPI’s, os impactos não foram sentidos. Segundo o CEO, Eiichi Nishimoto, a empresa se planejou para a alta da demanda. “Estocamos, porque vimos os indicadores do mundo e do aumento da ômicron, então sabíamos que isso poderia acontecer. Não tivemos falta, mas vendemos 125% a mais que em dezembro”, detalha Nishimoto. Fábrica Flex Maker, do CEO Eiichi Nishimoto, vendeu mais que o dobro em janeiro (Foto: Divulgação/Flex Maker/Edgar Chaves) Na Drogaria São Paulo, a procura aumentou 98% nas filias da Bahia. “A demanda deu uma abaixada em dezembro, por conta das festas, mas, depois, a quantidade de pessoas procurando aumentou, com uma intensidade muito maior. Em janeiro, tivemos que encomendar mais, para reforçar o estoque, então não tivemos falta”, explica a gerente geral, Raquel, Nascimento. >
Na Ferreira Costa, as vendas aumentaram 5% neste mês. A unidade da PFF2 está na promoção, de R$ 16,90 por R$ 10,90, enquanto durarem os estoques. >
As farmácias Pague Menos, Drogasil e Extrafarma foram procuradas, mas não responderam até o fechamento desta edição, assim como a Federação Brasileira das Redes Associativistas e Independentes de Farmácias (Febrafar). A Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma) disse não ter dados sobre o assunto. >
Cirúrgicas e PFF2 são as melhores proteções As máscaras de pano já deveriam ter sido abandonadas, segundo o infectologista Antônio Bandeira, membro da Sociedade Brasileira de Infectologia e coordenador do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar (SCIH) do Hospital Aeroporto. “As cepas da covid não têm eficácia garantida com a máscara de pano, porque não passa por nenhum tipo de avaliação. Isso foi uma necessidade de acesso a outros tipos de máscaras, no início da pandemia”, esclarece Bandeira. >
Por isso, ele recomenda que se use as cirúrgicas ou PFF2. “Não existe uma superioridade da PFF2 em relação a máscara cirúrgica, se elas forem usadas corretamente. A cirúrgica, como satura de forma mais precoce, precisa ser trocada a cada quatro ou seis horas. Já a PFF2 pode ser usada até uma semana, sem implicar risco, portanto, é mais econômica”, explica o infectologista. >
Para lugares fechados e em situações de aerossolização de partículas, como em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) e em intubações de pacientes, o recomendado é a PFF2. “É uma máscara melhor para conter os aerossóis. Mas, no dia a dia, a contaminação da covid ocorre muito mais por gotículas, que são evitadas já para quem usa a máscara cirúrgica. Então, em situações habituais, elas são idênticas”, detalha Bandeira. Ele cita que a máscara de pano tem eficácia variável, entre 30 e 70%. Já a PFF2 consegue filtrar 95% das partículas. >
A farmacêutica Debora Almeida, do Conselho Regional de Farmácia do Estado da Bahia (CRF-BA), explica que a diferença entre a N95 e PFF2 é o órgão regulador. “No caso da PFF2 é o Inmetro. São máscaras que oferecem uma garantia maior na proteção, uma vez que precisam ter uma eficiência de filtragem de no mínimo 94%. A N95 é regulamentada por um órgão americano, o NIOSH, mas apresenta eficácia comprovada de filtração de 95% das partículas”, diferencia Debora. Já a KN95 é uma cópia da N95, feita na China e não tem padrão de regulamentação. Por isso, não tem eficácia comprovada. >