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Da Redação
Publicado em 19 de julho de 2019 às 18:12
- Atualizado há 2 anos
Cerca de 1.500 professores da rede estadual tiveram cortes no salário de 30%, após deixaram de receber a Gratificação de Difícil Acesso (GDA), concedida para profissionais que trabalham em áreas de complicada locomoção. Para se posicionar contra os cortes no benefício, os professores realizaram, na manhã desta sexta-feira (19), dois atos simultâneos nos bairros de Paripe e em Cajazeiras, localizados nas regiões mais afetadas pela retirada do GDA.>
O Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado da Bahia (APLB) afirma que todos os professores de cinco escolas estaduais de Salvador perderam o benefício. São elas: Colégio estadual Anfrísia Santiago, Colégio Estadual Professor Carlos Barros, Colégio Estadual Dantas Junior, Colégio Estadual Eduardo Bahiana e Colégio estadual Dona Leonor Calmon (CPM). A APLB informou qure aguarda um posicionamento do governo até a próxima terça-feira (22) . Caso não ocorra, prometem avaliar a possibilidade de greve nas 26 escolas em que os professores recebem ou recebiam a gratificação.>
“Tivemos um ato na frente da SEC na terça. Na quarta, tivemos uma plenária onde foram lançados estes dois atos em paripe e cajazeiras. Se não houver a devolução, as 26 escolas entrarão em greve. Demos o prazo até segunda e marcamos uma plenária para a terça, às 9h, no colégio central para indicativo de greve”, explicou o diretor executivo do sindicato.>
No Colégio Estadual Anfrísia Santiago, os profissionais afirmam que foram informados, em janeiro, que a redução do salário havia sido um erro do RH Digital - sistema que organiza os contracheques dos servidores do estado. “Nós não fomos comunicados. A gratificação foi suspensa com a justificativa de que seria um erro no sistema do RH. De janeiro para cá nós tivemos algumas vezes na Secretaria de Educação. Eles alegam que vão resolver e que é para aguardar, mas estamos entrando no sétimo mês sem a gratificação”, contou o professor da instituição, Carlos Alberto Moreira, que deixou de receber mais de 8 mil reais desde o primeiro corte.>
Para alguns professores, a restrição foi ainda maior. O docente de História do Colégio Estadual Barros Barreto, Divolne Luz, relata que deixou de receber cerca de R$ 4 mil em julho. “O mais complicado de tudo é que, a gratificação, que era uma vantagem, passou a ser um desconto no contracheque. Eu deixei de receber auxílio alimentação, auxílio transporte, o GDA, tempo de serviço averbado, inclusive a promoção referente ao curso que fiz no ano passado. No meu caso, foi uma porrada na minha vida”, afirmou.>
Estudantes são afetados A quatro meses do Enem, o estudante do 3º ano do colégio Barros Barreto, Gilbert Santana, 17, estuda em casa para poder dar conta do conteúdo programático e conseguir entrar na faculdade de Farmácia. “Algumas aulas que não temos total proveito porque os professores faltam pela falta de verba. Professores de três matérias faltam constantemente. A gente não tem muita aula de educação física e inglês”, disse o jovem.>
Entretanto, segundo a categoria, a falta de aula nestas escolas é um imbróglio difícil de se resolver sem a manutenção do GDA. O diretor executivo da APLB, Luciano Cerqueira, aponta que a GDA era um incentivo para que os professores se deslocassem para estas áreas distantes da cidade. “Sem a gratificação, os professores não vão querer ir para estas regiões mais necessitadas”, ressaltou o professor. Luciano Cerqueira, diretor executivo APLB (Marina Hortélio/CORREIO) No Colégio Anfrísia Santiago, desde o corte do recurso, os professores vem apresentando sucessivos atestados médicos para justificar a falta no dia de trabalho. “Com a perda do difícil acesso foi sensível o número de professores a emitir atestado médico por desgaste físico e emocional. O primeiro impacto foi esse, talvez por não ter como fazer o deslocamento, já que são 25 Km entre o centro e a escola”, disse o professor Carlos Alberto, que ainda ressaltou que alguns colega estão pensando em pedir remoção da instituição.>
Aluno do 9º ano da Escola Estadual Monteiro Lobato, Djavan Santos, 17, conta que já ficou sem ter três das cinco aulas programadas para o dia. “O maior problema é que ficamos sem aula. Tá difícil porque os professores entram com um contrato provisório e depois saem e a matéria fica sem professor. Isso afeta principalmente as pessoas que estão no 3º ano e vão fazer o Enem”, contou o estudante que disse que atualmente a escola está sem professor de Ciências e Química.>
Retirada do benefício A vice-coordenadora da APLB, Marilene Betros, afirmou que o governo alega que algumas escolas cujos professores deixaram de receber o GDA não fazem mais parte de áreas de risco, o que retira destes o direito ao auxílio. Ela ressalta, entretanto, que não houve um debate entre a gestão estadual e o sindicato para que fosse decidido quais localidades poderiam perder a gratificação.>
“Nós queremos discutir uma outra forma de manter a gratificação porque 30% do salário é uma quantia muito significativa na conjuntura atual sem reajuste e de crise econômica. O que o governador não pode é simplesmente retirar uma conquista dura da classe”, pontua. Marilene Betros, vice-coordenadora da APLB (Marina Hortélio/CORREIO) A assessoria da Secretaria Estadual de Educação (SEC) aponta que as escolas que perderam o GDA foram retiradas da lista de instituições passíveis de receber a bonificação devido a melhorias na mobilidade que facilitaram o acesso às escolas. O órgão não listou quais escolas foram retiradas da listagem, nem quando essa mudança ocorreu.>
De acordo com o parágrafo único do artigo 3 do Decreto nº 7.858 de 20 de outubro de 2000, do estado da Bahia, a lista de escolas de difícil acesso deve ser revisada anualmente.>
“Anualmente, até o último dia útil do mês de dezembro, deverá ser procedida a revisão das localidades de difícil acesso, para fins de confirmação ou exclusão de UEE definidas, bem como inclusão de novas unidades implantadas, se for o caso”, determina a legislação.>
Os professores reclamam ainda que, os critérios utilizados para selecionar os profissionais que perderam o benefício também não são claros. Eles apontam que, em algumas instituições, foi retirado o benefício de apenas certos professores. >
Divolne Luz relatou que no colégio Barros Barreto apenas três docentes perderam a bonificação. “Na nossa escola, os professores têm mantido o seu trabalho, lógico que na minha escola, a gratificação não foi cortada de todo mundo. Lá foi pontual”, explicou. Divolne Luz, professor de história do Colégio Estadual Barros Barreto (Arquivo Pessoal) *Com orientação do chefe de reportagem Jorge Gauthier>