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Yan Inácio
Publicado em 17 de junho de 2025 às 20:31
Estão abertas até o dia 22 de julho, as inscrições para o curso gratuito “AKOBEN preenchendo currículos – O ensino de artes visuais e as culturas negadas”. A formação é voltada para professores, estudantes e interessados em arte-educação e propõe uma nova forma de ensinar artes visuais, valorizando saberes negros e indígenas que foram deixados de fora da escola. >
Idealizado por Romário Oliveira, artista-educador e pesquisador do campo das Artes Visuais, o curso será realizado presencialmente na Casa da Música, no Parque Metropolitano do Abaeté, no bairro de Itapuã, de 2 de agosto de 2025 a 28 de março de 2026, num total de 15 aulas, distribuídas quinzenalmente aos sábados, de 14h às 18h, com carga horária total de 40 horas, distribuídas em cinco módulos de 8 horas cada. A formação combina aulas expositivas, oficinas e laboratórios criativos.>
Serão selecionados 30 integrantes, profissionais da arte-educação — professores da rede pública (municipal, estadual ou federal), estudantes de licenciatura em artes e arte-educadores ou interessados na área — com prioridade para pessoas pertencentes a grupos socialmente vulnerabilizados, como mulheres, população LGBTQIAPN+, pessoas negras e indígenas. As inscrições podem ser feitas através do formulário neste link. Ou através do perfil do projeto @akoben.aprenda no Instagram.>
Os módulos abordarão temas como: introdução ao ensino e à aprendizagem das artes em perspectiva histórico-crítica e decolonial; reflexões sobre arte, educação e política a partir do Movimento Negro Educador; debates sobre lutas feministas e suas interseções com a arte contemporânea; acessibilidade e sustentabilidade na arte-educação; e, por fim, a sala de aula como espaço seguro, com enfoque na diversidade sexual e de gênero no campo arte-educativo.>
Mais do que um curso, AKOBEN é um movimento de resgate, reconstrução e enfrentamento, evocando o princípio de Sankofa, que convida a olhar para o passado como caminho para transformar o presente e o futuro. O nome do projeto parte da simbologia adinkra "akoben", que significa “corneta de guerra” na cultura dos povos Akan, do atual Gana.>
“No projeto, utilizamos a potência ancestral de Akoben, um chamado à luta e à resistência, especialmente contra o epistemicídio secular que marginaliza os saberes e fazeres dos povos da diáspora nos campos da arte e da educação”, destaca Romário Oliveira, que atualmente integra o Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação e Ludicidade (GEPEL) e o Grupo de Estudos e Pesquisa em Ensino de Artes Visuais (GEEARVI), ambos da Universidade Federal da Bahia (UFBA).>
A proposta nasce da vivência de Romário Costa como artista-educador em escolas públicas de Salvador, ao identificar graves lacunas na implementação das leis nº 10.639/2003, nº 11.645/2008 e nº 14.986/2024, que determinam a inclusão das histórias e culturas africana, afro-brasileira, indígena e femininas nos currículos escolares. “A escassez de formações continuadas e de recursos didáticos apropriados para essas abordagens motivou a criação do AKOBEN como resposta pedagógica concreta à essas ausências estruturais. A plataforma proporciona abordagens críticas e transversais, que articulam identidade, educação étnico-racial e suas interseccionalidades”, ressalta o artista-educador.>
O projeto AKOBEN atua como uma tecnologia afrofuturista para a efetivação de legislações que determinam a inserção de conteúdos étnicorraciais, de gênero e de acessibilidade nos currículos e práticas pedagógicas. Ao valorizar práticas decoloniais, críticas, afrorreferenciadas e inclusivas, a iniciativa fortalece o papel da arte-educação na implementação de políticas públicas como a Aldir Blanc, ampliando a presença de conteúdos pluriversais nas experiências educativas.>
A segunda etapa do projeto acontecerá de 25 de abril a 16 de maio de 2026, com o “Workshop AKOBEN – Recursos didáticos negrorreferenciados para ensino e aprendizagem em artes visuais”, com duração total de 12 horas, distribuídas em três encontros de 4 horas cada. Nessa fase, a proposta é explorar a gamificação como método estético-educativo, estimulando a criatividade em torno do desenvolvimento de jogos como recursos didáticos a fim de estimular o engajamento de estudantes do ensino fundamental nas aulas de artes. As inscrições e mais informações podem ser acessadas através da página do projeto.>
O workshop começa com a criação do Jogo da Memória Adinkra, que introduz símbolos dos povos Akan por meio de técnicas de carimbo e estamparia. No segundo dia, os participantes produzem pinturas postais inspiradas na linguagem geométrica e abstrata de Rubem Valentim com os Dados Compositivos. A atividade final propõe uma Batalha Naval artística, a partir de referências visuais do artista através de suas composições e simbologias afrobrasileiras.>