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Rainhas da areia: mulheres entram em transe ao 'incorporar' Iemanjá

Elas relatam experiência de ser 'virada' na Rainha do Mar e outras entidades

  • Foto do(a) author(a) Alexandre Lyrio
  • Alexandre Lyrio

Publicado em 2 de fevereiro de 2018 às 19:07

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: Foto: Marina Silva/CORREIO

Iemanjá 'incorporada' distribui passes na Praia do Rio Vermelho. Maria Aparecida é uma das rainhas da areia (Foto: Marina Silva/CORREIO) A médium Maria Aparecida Dourado, 52 anos, não fala com ninguém. Só ao pé do ouvido. Está “virada” por Iemanjá. É o que garantem integrantes do Centro Espírita Recanto de Luz, de Feira de Santana. Com uma bacia de água do mar segura por outra pessoa, ela distribui passes para quem aparece. Não cobra nada. "Faz isso todos os anos como caridade", diz um dos voluntários da casa.

Através de filhas de santo de terreiros de candomblé, centros espíritas e casas de umbanda, eis que a rainha das águas salgadas se faz presente na areia da Praia do Rio Vermelho. Como se fosse a própria entidade, Maria Aparecida perambula seguida por uma pequena multidão. Sussurra mensagens a quem aparece em sua frente e banha dezenas de cabeças. “Ela tem mais de cem espíritos guias que a acompanham. Iemanjá é só um deles”, afirma o voluntário. Simone Torres, 21, é filha de Iemanjá do Terreiro Caboclo Boiadeiro e também foi 'virada' pela Rainha do Mar (Foto: Marina Silva/CORREIO) As rainhas da areia estão por toda a parte. Simone Torres, de apenas 21 anos, é a única vestida de azul na roda de mulheres com saias rodadas que não param de dançar ao som de atabaques bem no meio da praia. De repente, ela é tomada por um transe. As outras a amparam. Uma delas enxuga seu suor. Tão jovem, ali ela se torna a mãe de todos, a que manda nas águas salgadas e nos astros, como o sol, aliás inclemente como em quase todo 2 de fevereiro.

“Para mim é mais que maravilhoso. É inexplicável. Um axé muito grande. Saio daqui cheia de força e luz”, diz Simone, do Terreiro Caboclo Boiadeiro, de Luís Eduardo Magalhães, no Oeste, a mais de 900 quilômetros de Salvador. As sensitivas recebem não só Iemanjás, mas também outras entidades. Iaô do Terreiro Areia de Mel, na cidade de Pedrão, Jéssica dos Santos, 26, incorporou Oxum após um silencioso ritual. Outras rainhas apareceram. Jéssica dos Santos recebeu Oxum. "Elas (Iemanjá e Oxum) andam juntas" (Foto: Marina Silva/CORREIO) Os integrantes da casa se reuniram em um círculo e fizeram orações. Em dado momento, quando batiam palmas, Oxum apareceu. Ao final do transe, Jéssica não conseguia descrever o que aconteceu ou a mensagem que lhe foi passada.“Não lembro de nada, só da emoção. Toma você por inteiro”, disse a iaô. "Água do rio com água do mar é perfeito. Elas (Oxum e Iemanjá) andam juntas. É muita emoção".Outras tantas entidades apareceram. A festa é de Iemanjá, mas o Caboclo Boiadeiro também veio participar por meio de Joana dos Santos, 50, que também não soube explicar o que viveu. "Essa inspiração vem do além. Quando a gente 'dorme', não tem como explicar".

No 2 de fevereiro, os rituais religiosos na areia da praia acontecem ao longo de todo o dia, mas especialmente pela manhã. São das mais diversas denominações e doutrinas. Muitos chegam do interior desde a madrugada. Joana dos Santos diz que foi "pega" pelo Caboclo Boiadeiro em plena Praia do Rio Vermelho (Foto: Marina Silva/CORREIO) Foto proibida  Muitos terreiros tradicionais de Salvador não participam diretamente da festa de Iemanjá. Preferem não expor seus rituais. Mas, há quem consiga manter o mistério em plena Praia do Rio Vermelho. Uma das tendas montadas na areia chamava a atenção pela fila. O Terreiro de Umbanda Estrela de Aruana dava passes gratuitos, diferente de boa parte dos religiosos que cobram por banhos de pipoca, folha e passes.

Segundo um dos religiosos da casa, a própria Iemanjá, incorporada em uma mãe de santo, fazia o serviço. "É um trabalho que fazemos por amor mesmo", disse Gilbran Marques. Por outro lado, os integrantes não permitiam fotos do ritual, em total silêncio. "É a única vez no ano que fazemos trabalhos externos. Mas só porque Iemanjá é a energia maior da casa. Por isso, sem fotos. Temos que preservar a entidade e a mãe de santo", justificou.

Outras casas e denominações não se importam com a exposição e até gostam de fazer barulho. Nenhum terreiro fazia tanta festa nas areias da Praia do Rio Vermelho quanto o do Pai Miró. Mistura de ritual de umbanda com samba de roda, o som comia no centro desde a madrugada. O grupo, do Campo do Galo, em Feira de Santana, montou um imenso barracão na praia. Rainhas da areia de todas as cores, idades e orixás marcaram presença (Foto: Marina Silva/CORREIO) Quase um show de samba, com diversos instrumentos, muitos filhos e filhas de santo incorporavam entidades enquanto sambavam. “A gente tá nesse ritmo desde meia-noite, quando chegamos”, disse Uanderson Santos, ogan da casa. Mas, e Iemanjá? Alguma rainha da areia acabou “virada” pela rainha das águas salgadas. “Rapaz, Iemanjá teve aqui mais cedo e já foi. Mas tem uma imagem ali se você quiser tirar foto”, apontou o rapaz.