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Da Redação
Publicado em 20 de dezembro de 2013 às 07:10
- Atualizado há 2 anos
Os moradores de Salvador ganharam mais uma opção para as compras de fim de ano, o JJ Center, na Baixa dos Sapateiros. Aberto no sábado passado com 68 das 130 lojas-boxe funcionando, o novo centro dá as caras aos poucos. Até ontem, mais 13 estabelecimentos começaram a funcionar. A maioria vendendo bijuterias, acessórios, confecções e produtos eletrônicos a preços bastante competitivos. O Shopping JJ Center, na Baixa dos Sapateiros, tem ar condicionado, banheiro e praça de alimentação para conforto dos consumidoresCada um dos boxes, com quatro metros quadrados, foi vendido por cerca de R$ 11 mil. E, no sexto dia de funcionamento, tem lojista que comemora já ter vendido quase o suficiente para cobrir o investimento.“No primeiro dia, vendi R$ 1,1 mil, e venho mantendo mais ou menos essa média”, diz Cláudio Miranda, 34 anos, dono da JC Bijuteria, uma das várias lojas do comerciante radicado em São Paulo. Para se ter uma ideia da quantidade de brincos, anéis e pulseiras que Cláudio tem que vender para chegar à média de R$ 1 mil diários, basta dividir o valor pelo preço de suas mercadorias que variam de R$ 0,99 a R$ 10. “Aqui é o melhor negócio do mundo. Não tem gerente de banco que esteja melhor que a gente”.O shopping é todo climatizado, tem 3,5 mil metros quadrados de área construída, com banheiros, duas entradas e praça de alimentação. “A população quer uma coisa organizada, quer segurança, limpeza. Não é porque o público é classe C ou D que não vai gostar dessas coisas”, afirma o diretor do JJ Center, Cláudio Correia. Em sociedade com investidores mineiros, Correia aplicou cerca de R$ 7 milhões no shopping.DescontoCom todos os pontos vendidos, mas nem todas as lojas funcionando, Cláudio busca incentivar os comerciantes a abrir logo as suas portas. “Estou dando desconto de 10% nos aluguéis durante todo o ano de 2014 para quem colocar a loja em atividade até sábado”, diz o diretor do shopping.Mas tem loja que só vai abrir em janeiro, como a Xoroquê Fight, especializada em artigos para MMA (Mixed Martial Arts) e malhação em academia. Os donos, o casal Rodrigo de Almeida, 32 anos, e Mariana Colamonico, 22, tiveram que adiar os planos de tocar um comércio na melhor época de vendas do ano por conta de um problema de saúde de Rodrigo.Mesmo sabendo que vai inaugurar em um dos períodos mais dramáticos para o comércio, o início de ano - quando listas de materiais escolares dos filhos e o IPTU se embolam com a fatura do cartão de crédito usado nas compras de Natal – Rodrigo acredita que tem tudo pra vender bem.“Eu acredito muito no projeto, a proposta foi excelente”, diz ele, que comprou dois boxes. “O peixe que nos venderam é que seria a Rua 25 de Março [rua de São Paulo conhecida pelo comércio popular] de Salvador. É onde as pessoas vão com pouco dinheiro e compram coisas baratas ou em quantidade”, explica ele.Não sou camelô Mesmo comparando o shopping com uma rua paulistana famosa pelos camelôs, a direção do JJ Center garante que cuida para que nenhum ponto esteja ilegal. “O boxe pode até ser comprado no nome de uma pessoa física, mas em até 70 dias é preciso transferir para o nome de uma pessoa jurídica. Senão, pode acabar perdendo o direito de funcionar”, diz Claúdio Correia. De acordo com o diretor, a maioria dos lojistas é de microempreendedores individuais e de microempresários.DiversidadeNo segundo andar, Myrela Mueller achou o cantinho certo para abrir a primeira loja oficial do Flamengo na Bahia. Entre os detalhes, um gramado sintético que cobre todo o piso do box; uma foto imensa vista de cima do Maracanã lotado na final da Copa do Brasil deste ano, em que o time venceu o Atlético-PR por 2x0; e uma plotagem de Zico em alto contraste, parecendo a famosa foto de Che Guevara, na porta do trocador. Sabendo que a maior torcida do mundo tem representantes na Bahia, Myrela passou os últimos três meses anunciando no rádio a abertura da loja. “Eu vim ao shopping só para isso. É a terceira vez. Estive aqui em outubro e encontrei a loja fechada. Em novembro, a mesma coisa. Finalmente consegui conhecer”, diz o vendedor Ari Pinheiro, 40, que se dizia Flamengo “doente” até Myrela corrigi-lo: “Você é Flamengo sadio, doente é a torcida adversária”. O shopping conta também com lojas do Corinthians, do Vitória e do Bahia.E se quatro times convivem em paz, por que não duas crenças diferentes? Uma loja que vende roupas usadas na iniciação do candomblé divide o mesmo corredor com outra especializada em artigos evangélicos, como CDs e livros gospel. “Alguns passam e falam: ‘olha ali a loja da macumba!’ Mas a maioria respeita, ou nem liga. Afinal, está todo mundo acostumado a ver baianas vestidas com roupas brancas e cheias de contas”, diz Alessandra Gonzaga, 24 anos, que trabalha como vendedora na loja da tia.Shopping popular reflete novos hábitos de consumo da classe CA inauguração de shoppings populares é um fenômeno nacional e reflete mudanças nos hábitos de consumo da classe C, que, com mais dinheiro, passou a exigir mais conforto e segurança em suas compras. Isso é o que indica estudos do Instituto Data Popular, especializado em pesquisas relacionadas ao cotidiano da chamada nova classe média brasileira. Em Salvador, além do JJ Center, está confirmada a inauguração de mais um empreendimento nesta linha, o Shoppping da Gente, ao lado do G. Barbosa, no Acesso Norte. Os dois se somam ao Outlet Center, na Calçada. >
Para Renato Meirelles, presidente do Data Popular, o consumidor da classe C quer mais conforto, segurança e praticidade em suas compras. “Costumam achar que o shopping popular é um rebaixamento dos shoppings tradicionais, mas é um upgrade do camelô”. >
Para ele, a classe C busca nestes espaços algo similar aos oferecidos pelos shoppings tradicionais aos públicos A e B. “A classe C está mais exigente. Quer achar tudo em um só lugar, com conforto, segurança, garantia e opções diversificadas de pagamento”, falou.>
Discriminação O especialista disse ainda que integrantes da nova classe média não vão a shoppings tradicionais por três motivos: o simbólico, porque se sentem discriminados; o prático, porque os populares estão mais perto; e o objetivo, pois acreditam que os produtos dos shoppings tradicionais são mais caros que os dos populares.>
Paulo Mota, presidente do Sindlojas (Sindicato dos Lojistas), disse que a chegada deste tipo de empreendimento é benéfica, pois é uma opção a mais para o consumidor. “É bom para os lojistas também, pois o custo de operação é menor”, disse, completando: “Os produtos oferecidos à venda são populares, mas têm de ter qualidade. Do contrário, não vendem”. Geraldo Cordeiro, presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Salvador, concordou e disse que apoia este tipo de iniciativa, mas ressalva: “Desde que estas lojas estejam regularizadas”. Sua fala remete ao fato de que os shoppings representam mais uma concorrência ao comércio de rua, que perde clientes para shoppings por causa da comodidade, e para camelôs, que vendem produtos mais baratos, pois não pagam impostos. >
Obras incomodam o comércio de rua, mas não o shoppingEnquanto muitos comemoram, o dono de uma loja de confecções em frente ao JJ Center não para de lamentar os prejuízos que vem tendo desde o início das obras de requalificação urbana na Baixa dos Sapateiros, que interditou parte da avenida e toda a calçada em frente a seu estabelecimento.>
“Tá atrapalhando muito. Para atrair clientes, eu tenho que colocar os manequins com peças em promoção quase no meio da rua”, diz Uilson Santos, 38. A interdição para fazer os reparos de implantação da rede subterrânea de telecomunicação é de responsabilidade da Diretoria do Centro Antigo de Salvador (Dircas). Uilson diz que a obra está impossibilitando o acesso de clientes e causando prejuízos há mais de uma semana. Já o shopping, nem o atrapalha. “Por mim, se abrissem 10 shoppings, não faria falta”, diz ele. Como é o fabricante dos próprios produtos que vende, Uilson diz não se preocupar. “Eu tenho preço”, diz.>
O diretor do JJ Center, por sua vez, não se incomoda nem com o comércio local e muito menos com as obras, que ficam na calçada oposta à do shopping. “A maioria dos clientes vem andando, então não atrapalha”, diz ele.>
A Dircas, responsável pelas obras, avisa que a intervenção tem prazo previsto para terminar em outubro de 2014, mas realiza, a partir de sábado e até janeiro, um recesso para as festas de fim de ano. “Fechamos uma parceria com a Associação dos Lojistas da Baixa dos Sapateiros (Albasa) para interromper as obras durante o período de festas de fim de ano. Começa sábado e termina depois do Ano- Novo”, diz a assessora de imprensa da Dircas, Tita Moura.>