Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Da Redação
Publicado em 10 de setembro de 2009 às 08:21
- Atualizado há 2 anos
Quando foi inaugurada, em agosto de 2005, a Unidade Especial Disciplinar (UED) era o inferno para a bandidagem encarcerada na Bahia. Hoje, a história é outra. O lugar virou o quartel-general da Comissão da Paz (CP), facção do crime organizado cujos líderes ordenaram a série de ataques que há quatro dias aterroriza a cidade. >
Mesmo abrigados sob o que se chama, no jargão do sistema prisional, de esquema de “segurança máxima”. “Se a segurança é máxima, como entram celulares lá?”, indaga uma agente penitenciária com cerca de 15 anos de atuação no Complexo Penitenciário do Estado, na Mata Escura, onde a UED está situada. Foi ela quem decidiu procurar o CORREIO. “Estou cansada das coisas que vêm acontecendo lá dentro”, justificou. Para explicar o que a levou a romper o silêncio comum a quem trabalha no corpo a corpo com a criminalidade, impôs duas condições: a de não ver divulgado qualquer detalhe que possa identificá- la e de só conversar pessoalmente. >
O encontro é marcado em uma casa humilde, localizada em um bairro da cidade alta. É através do seu relato que se pode traçar um panorama de como a mais moderna e segura unidade prisional do estado, erguida por nada módicos R$ 46 milhões, se transformou no QG do crime organizado baiano. “Posso garantir que entra qualquer coisa lá dentro”. Como? “Corrupção, meu caro. Só assim se dribla o sistema”. Segundo a agente, é através da conivência de colegas de trabalho, funcionários do complexo e visitantes, que os líderes conseguem ordenar execuções, manter vivas suas posições no tráfico e tocar o terror visto na cidade nos últimos dias. “O celular entra escondido na vagina das visitantes, nas quentinhas de comida ou diretamente da mão de agentes. Sem falar que há visitas íntimas, onde as ordens podem ser passadas”, assegura. >
Na quarta-feira (9), em uma batida, nove celulares e três chips foram achados na UED.“Recentemente, foram encontrados 38 celulares lá”, diz a fonte. O diretor da UED, Paulo Salinas, confirma a apreensão dos aparelhos, mas nega a quantidade.“Não lembro agora, mas foram bem menos do que isso”. >
Números à parte, a estrutura do lugar não justifica tanta displicência em relação aos contatos telefônicos que movem, atualmente, a máquina do crime organizado. Feita em estrutura de concreto armado e dividida em 36 celas, com capacidade para 432 detentos, a UED é, pelo menos na teoria, impenetrável. Sobretudo pela vigilância constante feita através de câmeras. “Os detentos não teriam, na prática, como esconder os celulares. Não dá para fazer buracos, como nas paredes do Presídio Salvador”, conta a fonte. A prova de que a unidade não é tão segura foi a transferência de Cláudio Campanha, líder máximo da CP, para um presídio em Campo Grande (MS). >
Diretor da UED nega conivência durante revista das visitas “Desconheço qualquer tipo de conivência de agentes penitenciários em esquema de entrada de celulares na UED”, afirma Paulo Salinas, diretor da unidade de segurança máxima. Ele informa que nenhuma investigação comprovou a participação de servidores da UED. Para ele, a entrada de aparelhos ocorre apenas durante as visitas. >
Unidade não possui sistema de bloqueio de celulares A Unidade Especial Disciplinar (UED), embora de segurança máxima, não possui sistema pra bloquear os sinais de telefonia celular. A informação foi confirmada pelo diretor da UED, Paulo Salinas. Hoje, outras unidades do Complexo Penitenciário do Estado, a exemplo da Penitenciária Lemos Brito e o Presídio Salvador, possuem sistema de bloqueio, além de aparelhos de raio-x e detectores de metal, mas eles acabam não funcionando como deveriam. “Quando há um bloqueio forte, ele acaba impedindo ligações em toda a Mata Escura”, justifica. Esse fator esbarra em normas da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). “Outro problema é que a tecnologia evolui muito rapidamente”, destaca Salinas. Ele se refere a sistemas como o da Nextel, que não pode ser bloqueado pelos equipamentos usados. >
Detentos tinham 16 celulares Mariana RiosDezesseis celulares, três chips e 140 gramas de maconha foram apreendidos na Unidade Especial Disciplinar (UED) - prisão estadual de segurança máxima no Complexo Penitenciário da Mata Escura, em uma vistoria realizada na manhã de ontem (9). “A maioria estava no gramado, do lado de fora. Os presos tentaram se desfazer quando sentiram a operação”, explicou o diretor da UED, Paulo Salinas. >
Na edição de ontem (9), o CORREIO revelou que a ordem para os ataques na capital foi dada por dois presos da UED, através de ligações feitas com celular, segundo uma fonte do alto escalão da Secretaria de Segurança Pública (SSP). >
A UED tem capacidade para 432 presos mas, por segurança, abriga apenas 364. A estrutura física é reforçada e, em quatro anos, nenhuma fuga foi registrada. Há restrição ao número de visitantes e ao grau de parentesco. Não é permitido o uso de aparelhos eletroeletrônicos nas celas. Não há televisão individual, apenas uma comunitária. Todos são fardados e as revistas são mais rígidas. Celulares entram, normalmente, através de visitantes, que escondem o aparelho em partes íntimas. No início de agosto, uma mulher foi flagrada por tentar entrar com aparelhos dessa forma. >
O diretor Paulo Salinas afirmou que estão sendo adquiridos equipamentos de raio-X mais potentes para evitar essas ações. “É uma guerra de gato e rato: temos bons detectores, mas eles descobrem que se guardar em uma determinada embalagem o aparelho não pega. Eles têm 24 horas por dia para pensar em formas de burlar a segurança”. >
Presos 9 homens ligados a Campanha A polícia prendeu nove pessoas e apreendeu três adolescentes suspeitos de participar dos ataques que incendiaram um ônibus na Federação e outro na Vasco da Gama.Um deles foi capturado com queimaduras nas duas pernas, que teriam ocorrido no momento que incendiava os coletivos. Como antecipou o CORREIO, na edição de ontem (9), ao atacar, os suspeitos cumpriram ordem dos líderes da quadrilha, Kléber Nóbrega Pereira, o “Kekéu”, e José Henrique de Souza Conceição, ambos presos na Unidade Especial Disciplinar (UED). “Kekéu” e José Henrique comandavam o tráfico no Engenho Velho da Federação, antes de serem presos. Os dois são ligados ao traficante Cláudio Campanha, líder da facção Comissão da Paz dentro da UED, onde cumpria pena até ser transferido para um presídio de segurança máxima em Mato Grosso do Sul, na semana passada. >
Em represália à transferência de Campanha, Kekéu e Henrique ordenaram ataques ao comparsa Jeferson Santos da Silva, 19, o “Tchutchutchu”, integrante do baixo escalão da quadrilha. Junto com o parceiro Jefferson Francisco Santos, 18, o “Fofão”, comandou os ataques aos dois ônibus. A dupla foi capturada junto com mais dez pessoas (entre elas três adolescentes), à tarde, no Engenho Velho da Federação. Três outros suspeitos de praticarem os ataques foram presos em São Cristóvão , à tarde. À noite, mais quatro pessoas foram capturadas no Vale da Muriçoca.>
Veja também: >
(Notícia publicada na edição impressa do dia 10/09/2009 do CORREIO)>