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Da Redação
Publicado em 1 de novembro de 2013 às 07:15
- Atualizado há 2 anos
Clarissa [email protected] Quando a Avenida Paralela foi inaugurada, Salvador ganhou, então, a maior obra viária de sua história: 14 quilômetros de vias para desafogar o trânsito e facilitar o acesso ao norte da cidade. Isso foi na década de 1970 e a Paralela não facilita mais nada. Hoje, a capital baiana ganha uma nova via com objetivos parecidos: os 4,3 quilômetros da Via Expressa Baía de Todos os Santos cortam a cidade entre o porto e a BR-324, evitando que os motoristas passem por gargalos crônicos. Junto com os viadutos da Rótula do Abacaxi, a via causará impacto em áreas como Cabula, Retiro, Cidade Baixa e Avenida ACM, além de todos os bairros que margeiam a BR-324. >
Após quatro anos de obras e R$ 480 milhões de investimento, a via será inaugurada, hoje, com a presença da presidente Dilma Rousseff e do governador Jaques Wagner. O conjunto de faixas, elevados e túneis, apontado pelo governo como a maior obra viária de Salvador nos últimos 30 anos, vai possibilitar, por exemplo, que veículos de carga saiam do Porto de Salvador para a BR sem passar pela Bonocô ou Rótula do Abacaxi. >
Atualmente, de acordo com a Transalvador, trafegam 2.030 veículos de carga diariamente na Avenida Bonocô, entre a Fonte Nova e o Iguatemi. Pela Via Expressa, os caminhões poderão trafegar durante todo o dia, sem restrições de horário. A restrição passa a vigorar na Bonocô.Mas a via não servirá apenas para caminhões. Das dez faixas de rolamento, quatro serão para veículos de carga e seis para tráfego urbano. O trajeto entre o Porto e a BR-324 será reduzido em 3,2 mil metros e estima-se que ele poderá ser percorrido em pouco mais de cinco minutos. O fluxo estimado será de 63 mil veículos por dia – 3,5 mil de carga e 59,5 mil outros veículos.>
Análise Enquanto pedestres ainda andavam tranquilamente pelas faixas de rolamento, o CORREIO percorreu parte do trajeto nesta quinta (31) ao lado da arquiteta especialista em transporte e trânsito Cristina Aragón. “Todos os caminhões que vêm da BR virão por aqui e também todos os veículos que saem do Cabula, de Pernambués, em direção ao ferry-boat, também deverão usar. Vai ficar ainda melhor quando estiver pronta a ligação da Luis Eduardo ao Acesso Norte”, observou.>
Para a arquiteta, os resultados futuros da obra serão positivos, embora ela chame a atenção para a inexistência de uma solução definitiva para o trânsito. “O sonho da fluidez acabou. Eu gosto de falar em alternativa para o trânsito, porque solução não existe”.Já o engenheiro especialista em trânsito Elmo Felzemburg diz que a via é importante para a cidade, principalmente a ligação entre Água de Meninos e os Dois Leões, iniciada há cerca de 15 anos, porém interrompida. “É uma via muito importante, mas não podemos esquecer que Salvador precisa de uma rede de vias rápidas”, afirmou.>
Cinco anos Para Aragón, o uso da Via Expressa e a melhoria no tráfego das vias que a margeiam é uma questão de tempo e adaptação. Ela estima que, pelos próximos cinco anos, os motoristas não devem enfrentar na via problemas de congestionamento, como se vê hoje nas avenidas Paralela e Luis Eduardo Magalhães. “Trânsito é oferta e procura. Por um tempo, ela vai descarregar, mas depois, com o próprio aumento da frota e a notícia de que as coisas estão melhores, as pessoas vão procurar andar mais”.Para que a Via Expressa fosse construída, 650 imóveis foram desapropriados. Os que restaram certamente serão valorizados, segundo a especialista. Com a circulação intensa, novos estabelecimentos comerciais, restaurantes e bares devem surgir.>
Os imóveis, para ela, também deverão ficar mais caros. Mas é preciso ter segurança. Segundo moradores, a iluminação é precária e os assaltos são constantes.As novas vias beneficiarão, diretamente, moradores de Macaúbas, Baixa de Quintas, Caixa D’Água, Pau Miúdo, Cidade Nova, Vila Laura, Santa Tereza, Pernambués e Cabula. O trajeto da Via Expressa passa por Água de Meninos, Ladeira do Canto da Cruz, Estrada da Rainha, Largo Dois Leões, Avenida Heitor Dias, Rótula do Abacaxi, Ladeira do Cabula e Acesso Norte.>
Além das vias, o trecho de 4,3 quilômetros ganhou três túneis - sendo um de dois andares -, 14 elevados, 3,2 quilômetros de ciclovias e duas passarelas (uma da Estrada da Rainha e outra na Heitor Dias). Para os pedestres, no entanto, Cristina Aragón ainda vê algumas necessidades. Para ela, é preciso construir pelo menos uma passarela na Avenida Barros Reis, já que todos os veículos que saírem de Pernambués e do Cabula vão precisar fazer o retorno na avenida antes de acessar a Via Expressa ou seguir em direção ao Iguatemi.>
A Secretaria Municipal de Urbanismo e Transporte (Semut) informou que linhas de ônibus devem passar por ali, mas o remanejamento ainda está sendo estudado e só ocorrerá quando a população for informada sobre os novos pontos e trajetos. A previsão é que as linhas que vão passar pela via sejam indicadas na licitação do transporte que a prefeitura pretende lançar em breve.>
Vídeo mostra mudança>
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Motoristas criam expectativa com nova viaMesmo antes da inauguração da Via Expressa, os caminhoneiros já comemoravam. Eles vão contar com quatro faixas exclusivas para percorrer o trecho entre a BR-324 e o Porto de Salvador, no Comércio. Até ontem, a alternativa era seguir pela Avenida Bonocô. “Só de não ter que pegar a Bonocô já é um alívio. Do Porto para a BR é normal perder duas, três horas. Essa via vai ser uma salvação”, disse, em tom otimista, o caminhoneiro Manoel Cosme, 45 anos. >
Mas não são só os caminhoneiros que têm boas expectativas. Com as novas vias abertas, o taxista Edson Hora, 62, espera não ter mais que recusar corridas para a região do entorno da Via Expressa. “Pode ser a melhor corrida do mundo... Se for nos horários de pico, eu recuso. Por isso, se melhorar mesmo, vai ajudar bastante”. >
No vai e vem do trânsito, o que todos esperam é que outras obras viárias de impacto não demorem a chegar. De acordo com estimativa do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), cerca de 2,5 milhões de veículos vão circular por Salvador e Região Metropolitana, o triplo da quantidade atual. >
Os dados foram discutidos pelo Sindicato de Arquitetura e Engenharia (Sinaenco) em um seminário na tarde de ontem. O estudo do Denatran já foi realizado em sete capitais, sendo quatro no Nordeste, além de Belo Horizonte, Curitiba e Porto Alegre. A situação de Salvador foi considerada a pior, levando em conta a relação entre quantidade de veículos e infraestrutura urbana.>
Ciclovia de 3 km vira pista de obstáculosOs 3,2 quilômetros de ciclovia ao longo da Via Expressa vêm atender a uma demanda dos ciclistas da capital. Além desse trecho, que será inaugurado hoje, Salvador só possui ciclovias na orla e uma ciclofaixa no centro da cidade durante os finais de semana. >
O problema é que trafegar pela ciclovia da Avenida Heitor Dias é um desafio, pois no caminho há montanhas de lixo, carros estacionados e até um boneco de ferro. Batizado de Esquisito, ele é uma espécie de publicidade da loja Pinheiro Escapamentos. Mas, para Fábio Pepe, funcionário do estabelecimento, o boneco não atrapalha.>
“Sei que não justifica, mas quase ninguém passa na ciclovia. Ele (Esquisito) já está aqui há dois anos, virou xodó da rua. A ciclovia tinha que ser feita do outro lado, não aqui, que tem comércio”, disse. Já os que usam a ciclovia como estacionamento dizem não ter alternativa. >
“Não tinha vaga. Tive que ir até as lojas, mas só demorei 15 minutos. Eu também sou ciclista, sei como é difícil”, justificou o produtor cultural Cristiano Ferreira. Segundo a Transalvador, a Via Expressa contará com fiscalização constante. Estacionar na ciclovia, por exemplo, é infração grave, com multa de R$ 127,69 e risco de ter o veículo removido. >
Além desses problemas “móveis”, a arquiteta Cristina Aragón apontou ontem também questões estruturais que, na sua visão, precisam ser pensadas. “Eu acho que tem que ter uma complementação às passarelas da Barros Reis, principalmente. E acho que, talvez, seja preciso fazer algo com relação à General Argollo (Baixa de Quintas)”, disse. >
Ela sugeriu a duplicação da Avenida Glauber Rocha, para retirar o tráfego da Baixa de Quintas e melhorar o fluxo para quem vem do Pau Miúdo e da Caixa D’Água. Segundo a Conder, já está planejada a construção de uma passarela na Barros Reis. Quanto à duplicação da Glauber Rocha, não há projetos.>