Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Yasmin Oliveira
Publicado em 12 de junho de 2024 às 06:00
A imagem de Santo Antônio em seu altar cor-de-rosa decorado com papel nacarado - uma espécie de celofane transparente - se destaca pela janela da casa de Rodrigo Guedes, na Rua Direita do bairro que também leva o nome do santo. As portas abertas chamam devotos e curiosos para apreciar a homenagem feita pelo artista plástico. “É só chegar aqui, se encantar com a beleza do altar, das luzes, que Santo Antônio acolhe”, diz o artista. >
Já se foram 18 anos desde que Rodrigo deu início a tradição do Tríduo, onde os dias 11, 12 e 13 de junho são repletos de reverências ao dono da festa. Tudo começou com suas avós Dona Elza Guedes - que faleceu em junho de 2015, no dia de Santo Antônio, logo após a reza - e Dona Maria do Socorro, ambas devotas do santo casamenteiro.>
É ao santo que o artista plástico credita dois milagres em sua vida: o primeiro, foi a passagem de sua avó paterna, Dona Elza, e o segundo, um livramento recebido por Dona Maria. “O teto dessa casa desabou em cima do quarto dela, dando só o tempo de ela levantar da cama. Todo o telhado caiu em cima da cama dela e ela está aqui viva para contar história”, relata.>
Além de seus milagres pessoais, ele coleciona relatos de visitantes nessas quase duas décadas de celebrações a Santo Antônio: desde casamentos a pedidos por saúde e cuidado de familiares. Rodrigo conta que é prazeroso ver que “santo de casa faz milagre não só para quem mora, mas também pra quem vem de fora”.>
O santo português, que aos poucos foi se tornando também baiano, é festejado com alegria na Rua Direita. O processo criativo de Rodrigo é bastante pessoal, tornando cada altar único. Neste ano, o artista escolheu homenagear as festas populares de Salvador, utilizando a cor rosa que trouxe inspiração por significar amor e o feminino.>
“Eu abro para o público não só as portas da nossa casa, mas também um pouco da nossa intimidade, das nossas famílias e das vivências de Santo Antônio em prol de um resgate dessas memórias e lembranças que se perderam no tempo. E o altar é todo confeccionado à moda antiga com papel, papelão, material reciclado, criatividade, amor, dedicação e entrega”, conta.>
No auge de seus 80 anos, Marise Fernandes observa com encanto a imagem de Santo Antônio e pede energia para que possa ajudar os outros. A professora aposentada, conhecida por ser ‘a menina do terço’, visita o altar gigante dedicado ao santo há seis anos e acredita que, a cada ano, ele fica mais bonito. “Ele fica cada vez mais lindo do que antes. Ele [Rodrigo] é um artista verdadeiro, um artista de primeira. Eu digo que ele tem mãos de anjo para fazer uma coisa linda dessa”, conta Marise. >
A aposentada Dinalva Santana, 67, que foi visitar os festejos da trezena pela primeira vez, se encanta com o altar. A curiosidade ao ver a imagem na janela é o chamariz para ver a decoração mais de perto. “A gente sempre vê Santo Antônio nos tons de azul e ele trouxe o rosa, que é a amorosidade, a coisa mais linda junto com o dourado”, expressa.>
A escolha da cor foi um gancho para que o artista também homenageasse as mulheres, a luta contra a homofobia e a intolerância religiosa. Manter a tradição, conta Rodrigo, não é uma tarefa fácil, mas prazerosa. “A gente vê o reconhecimento das pessoas, o semblante, as lágrimas, a emoção, a devoção, então tudo isso motiva a seguir ao longo desses dezoito anos”, avalia.>
Outro devoto que sempre visita o altar é Tiago Pedro, 32. Sua fé no padroeiro o acompanha desde criança, por ter vindo da família. Para ele, visitar o altar é como se estivesse em um santuário, por ter a junção das pessoas e da arte sacra com a festa. “Quando perco uma coisa, lembro de Santo Antônio. Me ajuda a recuperar o perdido, como diz na oração. Também falar, porque eu era muito tímido, eu tinha dificuldade de falar e ele é um grande pregador. Falar e aquecer os corações”, diz Tiago.>
A movimentação intensa nem sempre esteve presente. Segundo o artista plástico, em 2007, quando iniciou a tradição, apenas dez pessoas foram visitar. No entanto, nos anos que se seguiram, ele perdeu a conta do número de visitas. “Hoje, não contabilizo, uma vez que as portas ficam abertas e a cada ano as pessoas se convidam e convidam outros. Porque a reza é pública, as pessoas ocupam todos os cômodos da casa”, explica. >
O espaço fica aberto à visitação gratuita das 16h até às 20h. Nesta terça-feira (11), por ser o primeiro dia do Tríduo, houve apresentação do coral do Mosteiro de São Bento na calçada, em frente à casa de número 559, e uma procissão que rodeou o Largo do Santo Antônio Além do Carmo. Em seguida, às 19h30, teve início a reza com cantigas ao ritmo do ijexá.>
Nos últimos dois dias do Tríduo, a reza segue acontecendo às 19h30.>
O Projeto São João 2024 é uma realização do jornal Correio com apoio do Sicoob.>
*Com orientação da subeditora Fernanda Varela>