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Portal Edicase
Publicado em 24 de abril de 2025 às 19:09
A série “Adolescência”, da Netflix, fenômeno mundial já assistido por mais de 65 milhões de pessoas, trouxe à tona uma das grandes dificuldades da parentalidade na era digital: como ter acesso ao que o filho consome ou publica nas redes sociais e como abordar esse tema com ele? >
O desafio não está apenas em orientar e educar sobre o uso das redes. Trata-se de identificar comportamentos positivos ou negativos e, por meio do diálogo, compreender o que o filho posta e identificar os grupos com os quais ele se conecta e que influenciam sua identidade online. >
De acordo com a pesquisa TIC Kids Online Brasil, publicada em 2024 pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), 93% da população brasileira de 9 a 17 anos é usuária de internet. Entre os jovens de 13 a 17 anos, cerca de 90% fazem uso de redes sociais. >
O número de adolescentes conectados à internet é grande, e a série aborda apenas um dos muitos desafios enfrentados na era digital ao trazer à tona a discussão sobre os incels (abreviação de involuntary celibate ou, em português, “celibatário involuntário”). O termo se refere a pessoas, geralmente do gênero masculino, que se sentem incapazes de ter relacionamentos românticos ou sexuais e acabam se envolvendo em comunidades online para compartilhar suas frustrações, muitas vezes expressando discursos de ódio. >
O primeiro passo para reduzir esse abismo entre pais e filhos , afirma a psicóloga Fernanda Pacheco, é estabelecer uma comunicação aberta. “A parentalidade é desafiadora por si só, mas estar presente na vida do filho, permitindo-se ter conversas difíceis e conhecer o mundo dele e a forma como ele se comporta também no ambiente digital, é uma forma de criar uma abertura para que os filhos possam se sentir seguros a procurar os pais diante de uma circunstância que não saibam lidar ou, ainda, sobre possíveis situações que tenham passado na internet”, explica. >
Mestre em Psicologia Forense e professora do curso de Psicologia do UniCuritiba, Fernanda Pacheco ressalta um ponto que a série “Adolescência” evidencia: “O fato de o filho estar dentro de casa não é garantia de segurança, já que o ambiente online apresenta tantos (ou até mais) desafios do que o offline “. >
Considerada “forte e visceral”, a série mais assistida do momento no streaming leva exatamente a essa reflexão. Mas a dúvida que fica é: como os pais podem se aproximar de seus filhos e identificar comportamentos inadequados nos relacionamentos virtuais e nas redes sociais? Para ajudar pais, mães e cuidadores nessa tarefa, Fernanda Pacheco propõe algumas estratégias práticas: >
Os adolescentes têm uma forma própria de se expressar no ambiente virtual, utilizando códigos específicos, como emojis e linguagens próprias.“Os emojis são frequentemente utilizados por adolescentes para expressar emoções, ideias ou até mesmo substituir palavras nas conversas. Além disso, o uso de todas as letras minúsculas na escrita é outro exemplo de estilo comunicativo próprio”, explica a psicóloga, que atua com foco no atendimento a adolescentes e adultos emergentes. >
Além da linguagem, outro recurso comum entre adolescentes e jovens adultos são os perfis restritos, criados exclusivamente para um grupo seleto de amigos. Entre elas, estão as extensões como Dix e Daily, acessadas apenas por determinados usuários. >
Cada rede social tem suas próprias funções, gírias e lógicas de uso. Reserve um tempo para explorar, com seu filho(a), as plataformas que ele utiliza, mostrando interesse genuíno pelo universo digital em que ele está inserido. >
Os emojis podem ter múltiplos significados, dependendo do contexto e da geração. Peça ajuda ao seu filho para entender os símbolos que ele usa — isso ajuda no vínculo. Também há sites que reúnem interpretações atualizadas sobre os emojis mais populares entre os jovens. >
A linguagem na internet muda o tempo todo. Muitas vezes, palavras, símbolos ou até cores têm significados específicos em certos contextos. Pergunte aos adolescentes sobre hashtags , memes e assuntos do momento — isso demonstra interesse e favorece o diálogo. >
Há comunidades dedicadas à parentalidade digital que oferecem trocas valiosas entre os responsáveis. Esses espaços ajudam a reduzir inseguranças, compartilhar experiências e aprender com os relatos de outras famílias. >
Muitos adolescentes acompanham influenciadores com os quais se identificam, mas que os pais nem sempre conhecem. Observar quem seu filho(a) segue pode oferecer pistas sobre seus interesses, ideias e comportamentos. >
Na internet, tudo muda rápido. Para acompanhar seu filho, é preciso entender que a forma de se comunicar, de criar vínculos e de viver experiências hoje é diferente. Reconhecer essas diferenças geracionais é essencial para uma escuta ativa e respeitosa. >
Para que um adolescente se sinta acolhido, é fundamental que ele perceba o interesse dos pais pelo seu mundo: o que gosta de ouvir, assistir, jogar, com quem conversa. Evite comparações e críticas automáticas. Esteja presente e disponível — isso faz toda a diferença. >
Se houver dificuldades em compreender ou se conectar com o adolescente, um profissional especializado pode ajudar. Psicólogos(as) oferecem suporte tanto para os jovens quanto para os responsáveis. Mudanças bruscas de comportamento — como isolamento, irritabilidade ou agressividade — podem indicar a necessidade de apoio profissional. >
Por Marlise Groth >