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Da Redação
Publicado em 19 de outubro de 2013 às 08:52
- Atualizado há 2 anos
Clarissa [email protected] você já sentiu aquela raiva ao tentar marcar uma consulta ou exame médico e não contar com o plano de saúde que lhe cobra caro, está na mesma situação que 79% dos usuários de convênio em São Paulo. Este é o índice de pessoas insatisfeitas com seu plano, segundo pesquisa do Instituto Datafolha e a Associação Paulista de Medicina (APM). Assim, pelo menos 30% dos pacientes já recorreram ao Sistema Único de Saúde (SUS) ou ao atendimento particular. Foram ouvidas 861 pessoas que precisaram dos planos nos últimos dois anos. >
Na Bahia, os planos de saúde não chegam a ser recordistas, mas estão entre os principais serviços que levam consumidores à Superintendência de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon-BA). Somente no ano passado, 17 operadoras de planos de saúde – incluindo odontológicos – ficaram entre as empresas com maior número de queixas no órgão. As principais diziam respeito a problemas na cobertura e à negativa de atendimento. O Procon ainda não divulgou um balanço deste ano. >
E se engana quem pensa que somente os pacientes estão insatisfeitos. Ontem, quando era festejado o Dia do Médico, a categoria aproveitou para se queixar. Para os médicos, a tendência é cair o número de profissionais credenciados por conta do desrespeito e dos problemas com os repasses.>
Entre os planos que possuem cobertura na Bahia, a Amil lidera o ranking de reclamações na Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). O índice de reclamações contra a operadora junto à ANS (3,36), de setembro de 2013, é quase três vezes maior do que a média das demais operadoras de grande porte (1,16). >
“O que a gente vê hoje é o aparecimento de planos sem a menor capacidade de atender à população. Quando precisa, a população tem que recorrer ao SUS ou a outra sistemática, já que os planos colocam filtros dos interesses deles”, disse o presidente do Sindicato dos Médicos do Estado da Bahia (Sindimed), Francisco Magalhães. Para ele, a relação desigual entre planos, médicos e pacientes tem diminuído a rede credenciada no país.Queixa A gerente de contas Liliam Carine dos Santos, 35 anos, é um exemplo de insatisfação. Cliente da Amil há cinco anos – operadora contratada pela empresa em que trabalha –, ela teve que suspender um tratamento de fisioterapia há 15 dias por um problema entre o plano de saúde e a clínica.>
“Eu faço fisioterapia por causa de uma lesão no pé. Quando fui fazer uma sessão, a atendente disse que a Amil não estava pagando”, contou Liliam, que entrou em contato com a operadora e ainda aguarda uma definição. “Eu consigo caminhar, mas não consigo usar salto. É também uma questão de autoestima”, disse. Em outra situação, quando precisou fazer uma cirurgia para tratar um problema de rinite, Liliam teve que recorrer a outro plano, já que a burocracia da Amil a impediu de realizar o procedimento. “Vários colegas já tiveram problemas com negativa de atendimento. Se eu pudesse, mudaria de plano”.>
A Amil informou, por meio da assessoria de comunicação, que a Associação Brasileira de Medicina de Grupo (Abramge) é quem responde pelo índice de reclamações. O CORREIO procurou a Abramge, que não havia se manifestado até o fechamento desta edição.Diferenças De acordo com o assessor técnico do Procon-BA, Filipe Vieira, há dois tipos de planos de saúde: os regulamentados, criados após a Lei 9.656/1998 – que define parâmetros de direitos e deveres dos planos –, e os não regulamentados, criados antes da vigência da lei, em 1999.>
Mas a lei regulamenta apenas os planos novos e individuais, o que faz com que os anteriores sejam regidos somente pelo contrato.As diferenças entre as regulamentações também estão presentes nos números de queixas. De acordo com o Procon-BA, somente este ano foram registradas 45 queixas contra planos de saúde regulamentados por descumprimento à oferta do contrato. Com os planos não regulamentados, foram 32 queixas, incluindo não cobertura, abrangência e reembolso.>
Para o assessor técnico do Procon-BA, Filipe Vieira, os problemas entre médicos credenciados e planos de saúde não podem atingir os pacientes. “Na relação de consumo, ele é considerado vulnerável. As alterações contratuais devem ser feitas de comum acordo ou com um aviso prévio ao consumidor”, disse. Desde abril deste ano, os planos são obrigados a ter ouvidorias.>
Para médico, tendência é que profissionais deixem convêniosDe acordo com a pesquisa Datafolha, feita em São Paulo, 60% dos médicos ouvidos afirmam que os planos pagam valores baixos por consultas ou procedimentos. Já 56% dizem que são pressionados a reduzir o tempo de internação dos pacientes. Problemas como esses têm feito cair cada vez mais o número de profissionais que atendem por planos.>
“Para se ter uma ideia, hoje não se encontra nenhum pediatra credenciado por plano. E isso vai acontecer com outras especialidades, porque é muito mais fácil fazer um atendimento e emitir um recibo para que o paciente vá buscar ressarcimento”, disse o presidente do Sindimed, Francisco Magalhães. >
A pediatra Normeide Pedreira confirma a tese. Ela já deixou de atender por convênios. “A relação com os planos de saúde é complicada e o nosso trabalho desvalorizado”, disse. De acordo com Filipe Vieira, assessor técnico do Procon-BA, quando o plano não dispõe de médico ou especialista em determinada área, o consumidor que tiver gastos particulares poderá solicitar ressarcimento.>