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Portal Edicase
Publicado em 23 de setembro de 2025 às 15:43
A saúde mental aparece como a principal preocupação de saúde no mundo, segundo o relatório global World Mental Health Day 2024 . O estudo, conduzido pelo Instituto Ipsos entre julho e agosto de 2024 em 31 países, revelou que os transtornos psicológicos despertam mais apreensão até mesmo do que o câncer entre os entrevistados. Nesse contexto, o acolhimento e a escuta ativa se revelam essenciais, devendo ser lembrados não apenas no Setembro Amarelo, mas ao longo de todo o ano. >
Conforme a pesquisa do Instituto Ipsos, em 2018 apenas 18% dos brasileiros apontavam a saúde mental como a maior preocupação de saúde. Esse cenário mudou durante a pandemia da covid-19, quando o tema passou a ser mencionado por 40% dos entrevistados em 2021, mantendo uma trajetória de crescimento até alcançar 54% em 2024. >
Com o estresse ganhando cada vez mais espaço entre os problemas de saúde mental, torna-se compreensível a dificuldade que muitos têm em desacelerar, olhar nos olhos e oferecer atenção genuína. Por isso, a prática da escuta ativa se apresenta como um recurso valioso para contrapor a pressa diária e reafirmar a importância do cuidado humano. >
Para a psicóloga Luciana Dainese, profissional da área de psicologia do AmorSaúde, rede de clínicas parceiras do Cartão de TODOS, o ponto de partida para colocar a escuta ativa em prática é a disposição genuína em acolher. “Escutar com atenção é um ato de cuidado. Muitas vezes, quem fala não precisa de soluções prontas , mas de um espaço seguro para expor suas vulnerabilidades. O acolhimento abre caminho para que a pessoa se sinta respeitada, vista e valorizada”, explica. >
Esse acolhimento vai além das palavras. Envolve postura corporal, olhar atento e a decisão consciente de estar presente. Segundo a profissional, a escuta ativa é menos sobre dar respostas e mais sobre permitir que o outro fale com liberdade. >
Quando um familiar ou amigo procura apoio, a intenção costuma ser ajudar. Mas alguns comportamentos, mesmo bem-intencionados, podem ter efeito contrário. “Um dos erros mais comuns é o julgamento. Muitas vezes, na tentativa de orientar, apontamos erros ou damos conselhos de forma precipitada. Essa postura não transmite amparo nem confiança. A escuta verdadeira não julga, apenas acolhe”, explica Luciana Dainese. >
Segundo a psicóloga, outra falha recorrente é a pressa em “resolver o problema” da outra pessoa. “Nem sempre quem está em sofrimento busca soluções. Muitas vezes, ela só precisa ser ouvida sem interrupções, para organizar pensamentos e sentimentos”, completa. >
A prática da escuta ativa não beneficia apenas quem fala, mas também quem ouve. Ao se dedicar a uma escuta mais empática, familiares e amigos conseguem criar laços mais sólidos e verdadeiros. “Reconhecer que a dor humana é singular, é fundamental. Cada pessoa sente de forma diferente. Quando oferecemos um espaço seguro, de afeto e de cuidado, permitimos que o outro se expresse e se sinta respeitado. É nesse movimento que os vínculos se fortalecem e que a confiança se estabelece”, diz a psicóloga. >
Luciana Dainese destaca também que a escuta ativa é uma oportunidade de humanização. Em tempos de excesso de telas e distrações, parar para ouvir pode ser um gesto raro — e justamente por isso tão transformador. >
Embora pareça desafiador, cultivar a escuta ativa pode começar com atitudes simples, que aos poucos se tornam hábitos. Para isso, Luciana Dainese sugere: >
“O nosso desenvolvimento enquanto pessoa também acontece na experiência com o outro. Somos seres relacionais. Precisamos lembrar que o outro importa — e ele precisa sentir isso”, reforça. >
Os benefícios da escuta ativa vão além do momento da conversa. A prática pode trazer resultados concretos para quem enfrenta sofrimento emocional. “No acolhimento, encontramos alívio, clareza e fortalecimento. Quando alguém se sente ouvido, ganha confiança para lidar com suas questões. A escuta ativa pode ser um divisor de águas para quem atravessa momentos de dor. Ela tem potencial de mudar histórias de vida”, explica a psicóloga. >
Ao criar um espaço de escuta, familiares e amigos tornam-se aliados importantes no enfrentamento de desafios emocionais. A prática, segundo Luciana Dainese, é simples, acessível a todos e pode gerar impactos duradouros. “Não é preciso ser especialista para ouvir com atenção. A escuta ativa é um exercício de humanidade, que qualquer pessoa pode desenvolver no dia a dia. É uma forma de estar presente de verdade para quem amamos”, finaliza. >
Por Nayara Campos >