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Roberto Midlej
Publicado em 4 de agosto de 2017 às 16:27
- Atualizado há 2 anos
Aos 44 anos de idade, Selton Mello já acumula 35 de carreira, desde que começou como ator. Enveredou-se pela direção, no teatro, há mais ou menos 15 anos, e comandou alguns curtas no cinema. A estreia na direção de longas veio em 2008, com o denso drama Feliz Natal, que beirava o trágico. Em seguida, veio O Palhaço, num caminho completamente oposto. A comédia com um toque de drama existencialista, dirigida e protagonizada por Selton, conseguiu o que poucos filmes no Brasil conseguem: ao mesmo tempo, agradou crítica e público, levando 1,5 milhão de espectadores às salas, cifra impressionante para um filme daquele porte. >
Agora, o ator e diretor mineiro investe em O Filme da Minha Vida, que, segundo ele próprio, “está na mesma prateleira” de O Palhaço. “Estamos vivendo um momento cinzento, obscuro. E é importante algo que nos conforte”, diz Selton, que esteve em Salvador e conversou com o CORREIO. E é isso mesmo: como seu longa anterior, o atual oscila entre o cômico e o dramático e, embora de uma leveza cativante, O Filme da Minha Vida, assim como O Palhaço, desperta questionamentos existenciais. Há nostalgia e, às vezes, é até meio triste. Mas jamais angústia. O novo filme de Selton é baseado no livro Um Pai de Cinema, do chileno Antonio Skármeta, o mesmo de O Carteiro e o Poeta, que rendeu um filme em 1994, indicado a cinco Oscars. Mas, diferentemente do romance ambientado no Chile, o longa é passado no Sul do Brasil, na fictícia Remanso. Tony Terranova (Johnny Massaro) é um jovem professor de francês que, depois de passar um tempo fora de Remanso, retorna à cidade e recebe a notícia que seu pai, Nicolas (Vincent Cassel), se separou de sua mãe, porque decidira voltar à sua terra natal, a França. Tony vai seguindo a vida, embora inconformado com o abandono do pai, com quem sempre teve forte ligação, especialmente quando era criança. Como forma de suprir a ausência paterna, Tony mantém contato muito próximo a Paco, espécie de mentor seu, interpretado por Selton. Introspectivo e de poucos amigos, o protagonista preenche o tempo com idas ao cinema e poesia, além da companhia de Luna (Bruna Linzmeyer), por quem se apaixona. O filme é um retrato do processo de amadurecimento de Tony, da sua chegada definitiva à vida adulta. A ambientação dos anos 1960 é uma das grandes virtudes do longa. Do figurino à trilha sonora (incluindo o francês Charles Aznavour e Sérgio Reis, este cantando Coração de Papel), tudo dá certo. E ainda tem a fotografia sempre adequada de Walter Carvalho, que dá um tom escuro, meio desgastado, às imagens. A certa altura, Paco diz a Tony: “Cinema é um troço escuro que você fica lá dentro vendo a vida dos outros em vez de cuidar da sua. E, quando vê, você perdeu duas horas”. O Filme da Minha Vida está aí para mostrar justamente o contrário. Felizmente. >