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Sarau conta a história do Sotaque Baiano na Caixa Cultural de Salvador

Idealizado pela dramaturga Aninha Franco, o Sarau da Caixa - Sotaques Baianos se propõe a mostrar a evolução do sotaque baiano desde 1549 até os dias atuais. Os atores Ricardo Bittencourt e Rita Assemany assinam a direção artística

  • Foto do(a) author(a) Camila Botto
  • Camila Botto

Publicado em 2 de julho de 2015 às 11:22

 - Atualizado há 2 anos

“Oxe”, “abrir o gás”, “se picar” e tantas outras expressões fazem parte do nosso “baianês”. Com o objetivo de mostrar a evolução do sotaque baiano desde 1549 até os dias atuais, a dramaturga Aninha Franco, 64 anos, encabeça o Sarau da Caixa - Sotaques Baianos, que começa no dia 14 de julho e segue até o dia 12 de agosto, sempre às 20h, na Caixa Cultural, na Rua Carlos Gomes, no Centro.

Para o projeto, Aninha Franco recrutou os atores Ricardo Bittencourt e Rita Assemany, a escritora Mabel Velloso, a cantora Wil Carvalho e o cantor e compositor Luciano Salvador Bahia, que vão ler textos, trechos de músicas e poesias.

“Vamos contar a história do sotaque baiano. Como foi formado o baianês? Como isso foi feito? E por aí vai... A gente vai da formação dele, lá com o poeta Gregório de Matos e vem falando de século a século, contando novidades que ninguém acredita”, pontua Aninha, que tem vários livros publicados sobre cultura baiana e escreve uma coluna aos sábados no CORREIO. Wil Carvalho, Ricardo Bittencourt, Mabel Velloso, Rita Assemany, Luciano Salvador Bahia e Aninha Franco estão à frente do Sarau da Caixa - Sotaques Baianos, que começa no dia 14. Foto: DivulgaçãoEla já havia liderado saraus na década de 90 no Theatro XVIII. Mas explica que o novo é uma evolução. “É um outro sarau. O sarau foi criado para divulgar conhecimento e agora o que estamos fazendo é um sarau de ideias históricas”, diferencia a dramaturga.

De acordo com Aninha, suas maiores inspirações para os encontros são o cantor e compositor Caetano Veloso e o poeta Gregório de Matos (1636-1696). “Tudo com sotaque entra no roteiro. E é bom observar que quanto mais a liberdade chega, mais o sotaque fica forte. No século XX, o sotaque chega total com Caetano Veloso e Jorge Amado”, ressalta.

Ou seja, o público pode esperar trechos de obras baianíssimas como os romances Capitães da Areia (1937), Bahia de Todos os Santos (1944), Gabriela, Cravo e Canela (1953), Dona Flor e Seus Dois Maridos (1966) e Tieta do Agreste (1977), todos de Jorge Amado.

Pérolas de Caetano que exaltam a Bahia e seu povo também estarão nos encontros semanais. Entre elas, A Luz de Tieta, Terra, Deus e o Diabo, Qual é Baiana? e São João, Xangô Menino. “Desde que terminou o sarau ficou essa vontade de voltar. Resolveram fazer com outro grupo. Das que ficaram tem Rita, eu e Aninha”, conta Mabel Velloso, 81. 

Aprendizado  

A escritora adianta que o espetáculo está bem interessante e que já aprendeu muito durante os ensaios. “Quanto mais a gente ensina mais aprende o que ensinou. Eu acho que todo mundo que for vai gostar e aprender”, acredita.

Através de textos, poemas e trechos de músicas, será explicada a origem de expressões como o “oxe”. Para a etnolinguista Yeda Pessoa de Castro, a palavra deriva do português trazido pelos colonizadores. “Oxente vem de ‘Ô gente’, é bem antigo, é uma expressão do português arcaico. O ôxe já é abreviatura (de oxente). É a mesma coisa de vosmicê que deu origem a você”, pontua ela,  que também é professora, especialista em línguas africanas e autora do livro Os Falares Africanos na Bahia.

“A língua é um ser social vivo. Nós criamos muitas palavras através da inspiração em outras línguas. O baiano, estamos falando do soteropolitano, é muito ligado às coisas do candomblê. Criamos e decalcamos muitas palavras da língua religiosa dos candomblés e mudamos o sentido. É o caso do axé, (no candomblé) são os fundamentos sagrados do candomblé. Trouxemos o sentido de boa sorte, amém. Em cima disso, temos outra palavra que é axezeiro (quem gosta do ritmo musical axé). Nós falamos a língua do português brasileiro, mas cada região tem suas particularidades. Vamos criando de acordo com a nossa vivência”, diz Yeda.

E não é só os baianos que devem correr atrás de saber a história de seu sotaque, os turistas também devem curtir os encontros. “Ninguém percebe seu próprio sotaque, seu próprio acento. A gente não percebe a musicalidade da nossa fala porque a gente está no nosso meio. Quando eu vou para outro estado e falo alguma coisa, logo sou identificado”, pontua o antropólogo baiano Ordep Serra.

Iniciativa

“O público tem avidez por conhecimento. De projetos interessantes, coisas novas, então acho que isso bate com uma demanda do público baiano. A Bahia tá muito sem grandes iniciativas. Acho que esse sarau cumpre com esse papel de apresentar um produto bacana com pessoas feras em suas áreas”, completa o ator Ricardo Bittencourt, 48 anos, que assina a direção artística do projeto, ao lado da atriz Rita Assemany.

A idealizadora do sarau também acredita no sucesso da iniciativa. “Nós temos sempre uma receptividade enorme. O espaço é lindo e tem uma programação maravilhosa. Acho que vai ser um sucesso. Só de fãs de Mabel e Rita, imagina a quantidade”, afirma Aninha.