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Hilza Cordeiro
Publicado em 17 de outubro de 2021 às 11:00
- Atualizado há 2 anos
Quem já apostou por cortar a Bahia mais adentro sabe que as belezas naturais do estado não se resumem ao litoral e Chapada Diamantina. Há maravilhas para os lados do Oeste que ainda não foram bem descobertas nem mesmo pelos próprios baianos. No território onde imperam as poderosas culturas da soja, algodão e café também brotam encantos do bioma Cerrado, a savana brasileira, considerada a mais biodiversa do mundo. Ao mesmo tempo, este também é considerado o bioma mais ameaçado do país atualmente.>
Longe de Salvador, os destinos para aquelas bandas são ótimos para quem quer fugir do óbvio e das aglomerações. Nessa região, a hospitalidade baiana é a mesma, mas com um desejo maior de mostrar que há vida, natureza e possibilidades na terra do agronegócio. Apesar da forte circulação de dinheiro, não espere encontrar coisas luxuosas, tudo por lá é majoritariamente simples e transpira vida cotidiana. >
Para quem vive mais próximo da costa baiana, mas adora curtir a Chapada Diamantina, fica o incentivo para dar um pulo nas cidades do Oeste, já que dali é metade do caminho para lá. Para quem vem de fora do estado, a cidade de Barreiras tem aeroporto com voos que ligam à Brasília. Como muitas localidades têm ligações com estradas de terra e limitações de transporte até os pontos turísticos, a viagem é mais confortável de carro próprio.>
Confira o guia que preparamos com dicas para conhecer lugares incríveis no Alto Oeste nas cidades de Correntina, São Desidério, Baianópolis e Barreiras: 1. Arquipélago das 7 Ilhas; 2. Restaurante Ilha do Ranchão; 3. Casa de Louro; 4. Museu Municipal de História Natural Raimundo Sales; 5. Parque Municipal da Lagoa Azul e Gruta do Catão; 6. Sumidouro do João Baio; 7. Gruta da Beleza; 8. Rio dos Angicos; 9. Rio de Ondas; 10. Cachoeira do Acaba Vida; 11. Cachoeira do Redondo>
1. Correntina>
917 Km de Salvador - 32,2 mil habitantes>
O principal atrativo turístico da cidade é o Arquipélago das Sete Ilhas, balneário a cerca de 1,5 km do Centro. O complexo foi montado ao redor do caudaloso Rio Correntina e é formado pelas pequenas ilhas da Juventude, das Crianças, da Melhor Idade, dos Casais, dos Namorados, das Flores e dos Pássaros. Entrada do Arquipélago das 7 Ilhas (Foto: Prefeitura Municipal de Correntina/Divulgação) O ambiente tem boa infraestrutura com estacionamento, loja de lembrancinhas, pontes, banheiros, restaurantes e pousadas. Há opções de piscinas naturais para todos os gostos. O melhor local para ficar é na Ilha da Juventude. É possível migrar de uma ilha para outra andando mesmo, sem barcos, basta atravessar pontes. A entrada no arquipélago é gratuita e o estacionamento custa R$ 10. Não é necessário ir com guia turístico porque não há perigo de se perder, tudo é bem pertinho, acessível e sinalizado. >
Na cidade, o encanto fica por conta da força do Rio das Éguas, que corta Correntina ao meio. Só a oportunidade de observar a vida dos moradores à margem desse rio já valeria a viagem. Não é raro ver cenas de crianças brincando nas pontes, mulheres aproveitando o leito do rio para lavar roupas e pessoas descendo a corredeira em bóias.>
Você encontrará uma bela vista para esse rio no famoso Restaurante Ilha do Ranchão, um lugar de atendimento simpático para tomar umas cervejas e almoçar. O imenso espaço é tido como um cartão postal da cidade. A depender do volume das caixas de som no dia, não dá para ouvir o gostoso barulhinho do rio. O bar fica na região central da cidade e vale dar uma volta para ver as lindas casinhas de arquitetura colonial.>
Perto dali, fica a Casa de Louro, curiosa residência de um radialista guardião da memória da cidade. Lá, ele reúne fotos e objetos que ajudam a contar a história de Correntina. O espaço cultural preserva causos e imagens de amigos pessoais de Louro, com nomes como Zé Bundão, Um a Um, Júlio Doido, Tõe Besta, Maria Balão, todos já falecidos. Ao fundo, há pinturas nas paredes que reproduzem alguns célebres imóveis do município. Louro, o colecionador (Foto: Leandro Caetano/Reprodução Facebook) Vale muito a pena ainda visitar o ousado Museu Municipal de História Natural Raimundo Sales, que contém artefatos rochosos extraídos de sítios arqueológicos e animais típicos do Cerrado extintos ou ameaçados de extinção — e que foram levados empalhados para lá depois de serem atropelados nas estradas. O espaço tem ainda trajes e outros itens doados pelos próprios moradores, como uma bodega que tem até caderneta de compra fiada. >
Sem se eximir de tocar nos dramas territoriais do Oeste, uma pergunta pintada no topo do museu convida a refletir: “Qual será o futuro dos gerais?”. Os geraizeros, povos moradores dos campos gerais, há anos denunciam grilagem de terras naquelas bandas, supostamente promovidas pelos donos do agronegócio com a conivência e corrupção do judiciário. Lobo-guará empalhado (Foto: Hilza Cordeiro/CORREIO) Informações: Prefeitura Municipal de Correntina | Casa do Louro |>
2. São Desidério>
880 Km de Salvador - 34,7 mil habitantes>
Essa cidade é quase a Chapada Diamantina do cerrado baiano. São Desidério tem grutas, rios, paredões, cânions, pinturas rupestres, uma imensa lagoa azul e muitos outros atrativos que fazem dela um paraíso do ecoturismo. Apesar disso, o destino ainda não foi descoberto pelo grande público e a atividade turística ainda está em estruturação — o que, por um lado, dá a sensação de exclusividade e, por outro, a de estar perdido. >
Entre os três principais atrativos estão o Parque Municipal da Lagoa Azul, o Sumidouro do João Baio e a Gruta da Beleza. O primeiro é público e tem entrada gratuita, já os dois últimos ficam em áreas privadas e é cobrada taxa de R$ 15 e R$ 10, respectivamente. Para todos eles, é preciso pegar estradas de terra e não há boas placas sinalizadoras ensinando como chegar, não dá para confiar no GPS e, às vezes, nem mesmo moradores conhecem o caminho, então não arrisque ir a canto nenhum sem a ajuda de condutores. >
Fundado há mais de 20 anos, o Parque da Lagoa Azul é, sem dúvidas, o ponto de visitação obrigatória. Com ótima infraestrutura, ele fica a apenas 17 km da sede e a entrada exige acompanhamento de guias. A área tem 16 hectares e dentro dela está também a Gruta do Catão, que leva o nome do morador que a descobriu e faleceu ali mesmo. Área externa da Gruta do Catão (Foto: Hilza Cordeiro/CORREIO) A trilha mais popular tem cerca de 2 Km, sem grandes dificuldades, tranquilo para ir com crianças e o percurso é cheio de plaquinhas que informam os nomes de plantas nativas, como a mama-porca, barriguda e imbaúba. O trecho é cheio de mocós, pequenos roedores engraçadinhos que se abrigam nas tocas. A fauna e flora misturam bem a diversidade da caatinga e do cerrado.>
Com um trajeto de paisagem seca, torna-se um colírio a chegada ao mirante com vista para a lagoa azul, cercada por paredões rochosos. Há uma escadaria que leva mais próximo da água e esse é um ótimo ponto de parada para fotos. Por ser uma unidade de conservação e devido aos minerais pesados existentes na água, não é permitido tomar banho no local. Escadaria leva próximo da água, mas banho é proibido (Foto: Hilza Cordeiro/CORREIO) Ao fim do passeio, almoce a deliciosa e bem servida galinha caipira com pirão de Dona Marlene, moradora das imediações do parque. É preciso agendar com antecedência pelo telefone: (77) 99929-2936. >
Um balneário divertido é o Sumidouro do João Baio, onde é possível observar um curioso fenômeno do surgimento e desaparecimento de um lago esverdeado. A cada seis minutos mais ou menos, ele enche e seca. Isso ocorre porque há um sifão natural dentro do paredão que represa e depois vai soltando o rio. Um mistério que rende vídeos legais. Sumidouro do João Baio (Foto: @joa.oguia/Acervo pessoal cedido ao CORREIO) A trilha até lá é curta, de 600 metros, mas dificultosa e escorregadia, por isso também exige a presença de guia turístico. Os dóceis cachorrinhos da dona do terreno acompanham e é uma graça.>
Já a Gruta da Beleza fica num povoado e tem um circuito mais completinho com trilha e banho no fim. Dentro da gruta, só dá para andar com lanternas. Depois de ver estalactites, estalagmites, paredões e cânions, nada melhor do que se refrescar no Rio Porto Alegre, a 300m da gruta. Paredão da Gruta da Beleza, no Povoado da Beleza (Foto: @joa.oguia/Acervo cedido ao CORREIO) Na cidade, você se sentirá em um verdadeiro giro pelo interior, com vidinha normal durante o dia e à noite, sem grandes movimentações. Encontre hospedagem nas pousadas Lagoa Azul e Porto da Sereia. Informações: procure os guias locais João (@joa.oguia), Juscelino (@juscelinosaodesiderio), Gleivison (@trilhe_na_natureza.sd) ou o coletivo Associação de Condutores de Turismo Caminhos do Oeste (@act.caminhosdooeste) | Departamento de Turismo de São Desidério>
3. Baianópolis>
819 Km de Salvador - 13,9 mil habitantes>
Mais nova modinha entre o pessoal do Oeste, o Rio dos Angicos é um balneário de águas muito clarinhas, rasas, que lembram de leve o Jalapão. Donos de chácaras têm investido em infraestrutura e tá todo mundo descendo para passar o dia ou se hospedar por lá. O local fica longe da sede, a 92 Km, na região do povoado Cocos, zona rural do município. Não é fácil chegar, mas geralmente são lugares assim que conservam certa magia. Só dá para ir lá com veículo próprio ou contratando agência de turismo. Espreguiçadeiras à beira do rio (Foto: Chácara Paraíso das Águas/Divulgação) O local mais bombado é a Chácara Paraíso das Águas e o estabelecimento cobra R$ 20 para passar o dia, aberto até às 18h. Quem quiser ficar mais tempo, pode optar por pagar R$ 60 para acampar ou R$ 200 pelo quarto com duas camas, mas podendo ocupar com quantas pessoas quiser, basta levar colchão. Apenas crianças acima de sete anos pagam e animais são bem-vindos. >
O ambiente tem espreguiçadeiras, redes, escadarias, quiosques, mirantes, bar com drinks tropicais e a cozinha serve principalmente galinha caipira, carne do sol e peixe frito. Caixas de som pequenas são permitidas e há três churrasqueiras para uso livre das pessoas. A área não tem cobertura de operadoras de celular e o sinal de Wi-fi é fraco, então só vai ser legal para quem não se importa com um pouquinho de desconexão. >
Informações: Chácara Paraíso das Águas>
4. Barreiras>
873 Km de Salvador - 158,4 mil habitantes >
Apelidada de Capital do Oeste, Barreiras é mais conhecida por suas atividades comerciais, como uma Feira de Santana, com forte entroncamento rodoviário, mas o município tem lá as suas belezas naturais e é essencial dar um pulinho na cidade. Os locais favoritos para giros dos moradores são o Rio de Ondas, a Cachoeira do Acaba Vida e Cachoeira do Redondo. >
O Rio de Ondas passa por dentro da cidade e está para o lazer dos barreirenses assim como o mar está para os soteropolitanos. Como faz muito calor por lá, ele é frequentado diariamente e há muitos bares na “orla”, na beira do rio. O point mais famoso é o Três Bocas. Nos finais de semana, é possível ver as pessoas descendo o rio em bóia-cross, esporte com câmaras de pneu de caminhão. 3 Bocas no Rio de Ondas (Foto: Cezar Oliveira) Mais próxima do município de Luís Eduardo Magalhães do que de Barreiras, a Cachoeira do Acaba Vida tem acesso fácil de carro pela estrada, mas a trilha a pé até a parte de baixo dela é bem íngreme e complicada. Quem chega já vê logo a paisagem de cima da cachoeira, com sua bonita queda d’água de 32 metros. >
Dá para tomar banho na parte de cima, mas para um mergulho só mesmo encarando a descida selvagem. Lá não tem serviço de banheiro, barraca, restaurante ou pousada, então leve água e comida. Próximo dali, a 23Km, fica a Cachoeira do Redondo, com queda de 15 metros, mais calma e melhor para banho com crianças. Cachoeira do Acaba Vida, no caminho entre Barreiras e Luís Eduardo Magalhães (Foto: Glauco Umbelino/Wikipedia) >