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Darino Sena
Publicado em 12 de dezembro de 2017 às 05:12
- Atualizado há um ano
Estamos em fevereiro de 1989. Depois de eliminar Sport, Fluminense e Internacional nos mata-matas, o Bahia conquista seu segundo título brasileiro. Vinte e oito anos depois, onde estamos? Nesse período, o Sport ganhou uma Copa do Brasil, o Flu, dois brasileiros e quase uma Libertadores e o Inter foi campeão mundial, bi da Liberta e levantou uma Sul-americana. E o Bahia? Parou no tempo. Entre os 13 clubes mais tradicionais e de maior torcida do país, foi o único não levou nenhuma estrela pra casa depois de 1989. Por quê?
Porque foi pessimamente administrado. Os interesses pessoais e políticos de quem mandava vinham em primeiro lugar. Faltou também capacidade de se adaptar às mudanças que as transformações do futebol exigiam, dentro e fora de campo.
As dinastias da incompetência foram tão nefastas que levaram o clube a suas maiores humilhações – Série C, os inadmissíveis 11 anos sem título e os vexatórios 5x1 e 7x3 diante do maior rival, em plena Fonte Nova. Não dava mais pra aguentar os monarcas de sempre. Foram expulsos e o clube se tornou mais transparente. Há quatro anos, pela primeira vez na história, o torcedor teve direito a votar. O primeiro mandato de alguém eleito trouxe o rebaixamento. Infelizmente, a democracia não é infalível, mas as outras formas de governo existentes ainda são muito piores, como ensinou o notável Winston Churchill.
Felizmente, o Bahia não desistiu da democracia. Sábado, os sócios tornaram Guilherme Bellintani o terceiro presidente eleito pela torcida com 82% dos votos. Uma demonstração incontestável de aprovação do antecessor e, consequentemente, do processo democrático que já tinha levado Marcelo Sant’Ana ao poder.
Sant’Ana fez valer seu mandato. Modernizou a gestão, racionalizou as dívidas, aumentou as receitas, ampliou o patrimônio, devolveu e manteve o Bahia na elite e conquistou dois títulos. Mais pelo que produziu fora de campo, Marcelo fez história. Provou que o velho perfil coronelista estava definitivamente morto e enterrado. O Bahia não precisa mais dos velhos cartolas.
Claro que ainda há muito a ser feito. A gestão de futebol tem que melhorar. Não dá pra continuar errando tanto em contratações e ter um time tão irregular como o desse ano no Campeonato Brasileiro. Se manter na Série A não pode mais ser objetivo único. Há de se ir além. É preciso também estreitar relação com o tricolor raiz. O Bahia de Marcelo Sant’Ana tratou muito bem os sócios. Mas o cobrador de ônibus, o ambulante, o frentista, o desdentado, minha tia do acarajé, da feira, a desempregada, enfim, o tricolor mais humilde, que pode até não ser “de carteirinha” e mensalidade paga, mas é de coração, a alma desse clube, esse precisa ser levado mais em conta, mais ouvido e melhor tratado. O Bahia é um clube genuinamente popular. Feito para e pelo povo. Essa essência não pode ser esquecida. Não há o que justifique.
São os maiores desafios do novo presidente.
Minha deferência também aos demais candidatos. O tricolor não pode voltar a ser um feudo, propriedade privada ou de um grupo político. O embate de ideias é essencial. Esclarece os torcedores, fortalece a democracia e a instituição. Apesar da vitória esmagadora de Bellintani, os opositores tiveram um papel fundamental. Fizeram muito bem ao Bahia.
Darino Sena é jornalista e escreve às terças-feiras