Com projeto sobre tartarugas marinhas, professora baiana está entre vencedores de prêmio de educação

Débora Gonçalves dá aula aos alunos do 2º ano da Escola Municipal João Francisco dos Santos, em Mata de São João

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  • Thais Borges

Publicado em 3 de setembro de 2016 às 07:31

- Atualizado há um ano

Encontrar uma tartaruga na praia faz parte da rotina dos alunos da Escola Municipal João Francisco dos Santos, em Mata de São João, na Região Metropolitana de Salvador (RMS). Por isso, quando a professora Débora Gonçalves, 26 anos, que dá aulas ao 2º ano do Ensino Fundamental quis fazer um projeto para incentivar a leitura de textos informativos pelas crianças, ela sabia que falar de tartarugas marinhas seria uma boa escolha. 

“Minha sala compreende o ciclo de alfabetização, que é do 1º ao 3º ano, e eu tinha a ideia de que eles começassem a ler textos informativos, porque normalmente trabalham os contos, os textos literários. Assim, busquei uma coisa da vivência deles e observei que eles relatavam essas experiências com as tartarugas”, conta Débora, que se formou em Pedagogia há dois anos. Por um mês, os alunos estudaram sobre tartarugas marinhas. Ao fim, visitaram o Projeto Tamar (Foto: Acervo pessoal)O contexto ajudou: é em Mata de São João - mais especificamente, na Praia do Forte - que fica uma das sedes do Projeto Tamar, um dos principais expoentes para a preservação das tartarugas marinhas no Brasil. Por um mês, os alunos mergulharam na vida das tartarugas marinhas para exercitar a interpretação e a produção textual. Deu tão certo que, hoje, ela está concorrendo a um dos maiores prêmios da educação básica no Brasil: o Prêmio Educador Nota 10. A iniciativa é organizada pela Fundação Victor Civita em parceria com o Grupo Abril, a Globo e a Fundação Roberto Marinho.

Em sua 19ª edição, o prêmio, que recebeu mais de 4,2 mil inscrições, busca educadores que desenvolveram as melhores práticas pedagógicas do país. Débora é a única baiana entre os 10 que já foram escolhidos como vencedores por uma comissão de educadores e especialistas. Cada um deles já vai receber R$ 15 mil, além de uma assinatura da revista Nova Escola digital. Agora, falta o prêmio maior. No dia 17 de outubro, Débora ainda poderá ser coroada como a Educadora Nota 10 do ano, em uma cerimônia que será realizada em São Paulo.  Débora já é uma das 10 vencedoras do prêmio. Em outubro, concorre ao título nacional(Foto: Acervo pessoal)Para chegar entre os finalistas, o caminho foi longo. Os alunos fizeram desde fichas técnicas com as características de cada espécie até atividades de interpretação de tirinhas e pesquisa de opinião na escola, que serviu como ponto de partida para criar e analisar gráficos.

No dia do encerramento, o grupo de pouco mais de 20 alunos fez uma visita ao Tamar, na Praia do Forte. E, para ela, o maior trunfo foi justamente enxergar o contexto social da comunidade. “A escola precisa compreender a realidade da comunidade onde ela está. Quando a gente compreende isso e conhece a comunidade, ela também passa a contribuir com a escola e com a construção do conhecimento”, diz. 

De fato, foi isso que aconteceu. Os alunos ficaram tão envolvidos que, a cada dia, traziam informações sobre as tartarugas para as aulas. Até os pais ficaram interessados – alguns chegaram a inscrever os filhos nos programas infantis do Tamar.A turma do 2º ano tem pouco mais de 20 alunos, com idades entre sete e oito anos (Foto: Acervo pessoal)Para a professora, a conquista é consequência de um esforço que esbarra, por vezes, na estrutura da rede pública. Em 2013, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) da escola foi de 5,3 – maior do que o do próprio município de Mata de São João, que tem nota 5. Só para comparar, em Salvador, a última média foi 4. “É um desafio, enquanto professor, pensar em educação na escola pública, pelas grandes dificuldades que a gente encontra. Mas já tive experiências em escolas particulares e penso que os alunos (da escola pública) são tão capazes quanto os outros. Meu pensamento era que eu tinha que superar mais desafios”, completou. 

Para a coordenadora do Prêmio Educador Nota 10, Adriana Muzetti, o projeto da baiana teve três destaques. "Ela trabalhou muito bem com a interdisciplinaridade, sem deixar de lado as aprendizagens de uma das disciplinas envolvidas; leitura e escrita contextualizadas, constituiu metodologias de ensino e aprendizagem possíveis e necessárias, principalmente considerando no passo a passo as concepções nas produções das crianças. Nesse projeto, os avanços na leitura e na escrita andaram juntos com a aprendizagem sobre ciclo de vida das tartarugas".Já a coordenadora de Educação do Projeto Tamar, Valéria Rocha, enfatizou que iniciativas como a da professora Débora são fundamentais para desenvolver consciência ambiental nas crianças. O próprio Tamar já tem um projeto chamado Tamar na Escola, quando fazem visitas às instituições. No ano passado, inclusive, fizeram na João Francisco dos Santos com alunos do Ensino Fundamental II. “Esse contato não apenas sensibiliza, mas desperta a curiosidade para conhecer um pouco mais desse mundo marinho. Isso pode criar futuros profissionais, como temos muitos aqui. Por isso, a gente tem programas para as escolas e podemos adaptar as visitas para os temas que estão sendo estudados”, explica. Escolas da rede pública podem visitar o Tamar gratuitamente – basta agendar com o Centro de Visitantes, através do telefone (71) 3676-0321 ou do e-mail [email protected]