Defensores no ataque

Jolivaldo Freitas é jornalista e escritor

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  • Jolivaldo Freitas

Publicado em 17 de agosto de 2017 às 04:37

- Atualizado há um ano

Os advogados estão pirados. Neste pós-moderno em que filho açoita a mãe a mata o pai o que se pode esperar do respeito às autoridades constituídas? Mas o que estas linhas tratam, na verdade, é da agressividade, o destempero e a política de intimidação que os doutores do Direito têm mostrado na atuação política, em defesa dos seus milionários clientes e das suas causas milionárias. Deve haver uma cláusula de sucesso em cada contrato feito pelos empresários e políticos, cujos valores estratosféricos estão levando os advogados à loucura. Quem é louco de perder uma causa de 15 milhões de honorários como foi o caso da banca do falecido Thomaz Bastos?

Chega a R$ 80 milhões o valor total de honorários para cerca de 30 bancas de advocacia que atuam em defesa dos réus da Lava Jato. Só para examinar os autos tem banca que cobra R$ 1 milhão e mais R$ 3 milhões para a defesa. Para os advogados de Curitiba, de São Paulo e Distrito Federal a crise econômica passa distante. E no afã do lucro estão perdendo o siso.

Recentemente, 105 advogados, vários deles defensores de réus da Lava Jato, assinaram um texto e mandaram para a mídia, afirmando que nunca na história do Brasil houve um caso penal que transgredisse os códigos de defesa para tão imenso número de réus. Dizem que a Lava Jato é uma neoinquisição.

Um dos advogados, o Antonio Carlos de Almeida Castro, Kakay, só ele representa 11 investigados na Lava Jato. Calcule a fortuna que sua banca não está amealhando. É de pirar a cabeça até de santo Ivo, padroeiro dos advogados, ou deixar até Plutarco balançado.

Todo o país ficou pasmo quando viu e ouviu o advogado de Lula praticamente colocar o dedo na cara do juiz Sérgio Moro. Ele sequer respeitou a liturgia da corte, quando o ex-presidente foi ouvido em Curitiba e o que se perpetrou foi uma tentativa de intimidação e desmoralização do juiz, coisa que nunca tinha sido vista nunca antes na história do Brasil. Lula, claro, achou o manifesto dos advogados “pertinente”.

O certo é que nunca se viu na história do Brasil tanta agressividade por parte daqueles que deviam dar o exemplo e se ater à lei, às regras, ao convívio profissional ético. Interessante é que a Ordem dos Advogados do Brasil tem punido advogados que não pagam a anuidade, mas são raros os casos de punição em processos que correm no Tribunal de Ética e Disciplina, contra profissionais envolvidos em quebra de conduta.

Do jeito que tudo vai nas hostes dos advogados que transitam pelo Mensalão, Lava Jato e tantos outros que envolvem muitos e altos valores (causas que para o brasileiro comum extrapolam sua vã imaginação), quem perde é a imagem corporativista e institucional de uma classe de vital importância para o brasileiro e para o humanismo. Será que chegaremos ao ponto dos EUA, onde advogado é o mesmo que o Satanás? Saudade de Hélio Fernandes, Ruy Barbosa, Sobral Pinto, Evandro Lins e Silva, Pedro Calmon, Barão do Rio Branco e tantos outros que fizeram história aqui e acolá. Tem uma frase dita por Napoleão Bonaparte que mete medo: “Os juízes distorcem a lei enquanto os advogados a matam”.