Futebol feminino ainda é uma bagunça

Linha Fina Lorem ipsum dolor sit amet consectetur adipisicing elit. Dolorum ipsa voluptatum enim voluptatem dignissimos.

Publicado em 14 de setembro de 2017 às 05:56

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

Sábado começa o Campeonato Baiano de futebol feminino e, embora não desperte tanta paixão quanto a versão masculina encabeçada pela dupla Ba-Vi, o cenário atual é de uma agitação nunca vista neste século.

O fato é: depois de uma hegemonia que durou de 2001 até o ano passado, o São Francisco implodiu em uma crise interna que culminou na saída do coordenador Mário Augusto e de 15 jogadoras para o Lusaca, tudo isso na semana de início da competição.

Há duas possibilidades. Uma, de viés otimista quase utópico, é o futebol baiano passar a ter mais uma força. Isso porque a prefeitura de São Francisco do Conde mantém o apoio logístico dado ao clube nos anos anteriores (como transporte e local de treinamento). Por essa lógica, é possível manter o time com qualidade e acrescentar o Lusaca ao quadro de forças que antes só tinha o São Francisco e, do ano passado pra cá, também o Vitória. 

Mas vamos à vida como ela é. Quem acompanha o futebol feminino sabe que Mário Augusto era o responsável pelo processo de captação que fez do São Francisco o melhor time da Bahia e um dos cinco melhores do Brasil por mais de uma década. Apesar de manter a estrutura, a equipe perdeu a matéria-prima mais essencial no futebol: talento. Mário é o profissional que tem o olho para revelar jogadoras e, não à toa, meninas de outros estados procuravam o São Francisco.

Dito isso, eis a segunda possibilidade: o time virar somente uma sombra do que foi, o que infelizmente é o mais provável. O próprio São Francisco é prova viva do ciclo da história: após a saída de Mário do Galícia, clube que nos anos 90 fazia uma parceria com a Ucsal, o treinador e muitas jogadoras seguiram para São Francisco do Conde, onde o time foi reeditado, enquanto o Galícia feminino chegou a sumir do mapa – está de volta no campeonato deste ano.

O futebol feminino cresceu muito de duas décadas para cá, não só na Bahia, como no Brasil e no mundo. Por aqui, há mais mulheres interessadas pela modalidade; a Federação Bahiana de Futebol (FBF) passou a promover peneiras no interior do estado para recrutar meninas e distribuí-las nos times; o estadual deste ano chega ao recorde de 18 equipes. Nacionalmente, a CBF ampliou o Campeonato Brasileiro para duas divisões, e o Profut forçará os clubes masculinos a investirem em equipes femininas a partir de 2018 - particularmente, considero um absurdo atrelar o futebol masculino ao feminino, mas a obrigatoriedade vai fomentar a modalidade.

No entanto, um problema crucial persiste: a estrutura do futebol feminino. Na verdade, a falta de.

Na Bahia e em boa parte do Brasil, a modalidade ainda é feita por abnegados, como era o futebol masculino na primeira metade do século XX. São militantes que se dedicam à causa, mas não há uma estruturação que permita a saída de pessoas sem prejuízo ao funcionamento da equipe. E por isso acontece um caso como o do São Francisco, em que a saída de Mário Augusto desencadeou uma crise tão grande que deve comprometer a história do clube.

A falta de força e a desorganização da modalidade causaram um episódio que parece surreal, mas aconteceu no atual campeão baiano. O técnico Marcos Carvalho deixou o time feminino do Vitória em agosto para assumir o sub-16 masculino. Seu substituto, Lucas Grillo, que havia treinado o time masculino de fut-7, assumiu nesta semana. E o Campeonato Baiano começa depois de amanhã...Herbem Gramacho é editor de Esporte e escreve às quintas-feiras.