Na nova obra-prima de Woody Allen, a vida não é um parque de diversões

Senta que lá vem...

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  • Saulo Miguez

Publicado em 6 de janeiro de 2018 às 15:37

- Atualizado há um ano

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Kate Winslet é uma das estrelas de Roda Gigante (Foto: Divulgação) Raso. Largo. Profundo. O verso da canção Gita define a mais recente produção do cineasta Woody Allen. Em Roda Gigante, o diretor de 82 anos utiliza o cenário encantado de um parque de diversões para mostrar que a vida passa longe de ser um carrossel de pôneis rosa-choque.

Na linha metalinguística de Café Society, seu trabalho anterior, Woody se utiliza do mundo cinematográfico para falar de cinema. O diretor de fotografia Vittorio Storaro, inclusive, foi o mesmo nas duas produções e isso fica claro já no primeiro frame.

Dessa vez, ao invés do glamour hollywoodiano, o que se vê é o limbo do show bussines na península de Coney Island, onde uma (ex-)atriz e um aspirante a escritor exilados dos holofotes vivem um romance proibido e a expectativa de eclodirem para os grandes palcos.

De modo sutil, Woody apresenta os refúgios que cada personagem precisa buscar para burlar a frustração de não ser quem gostaria. O "fake mundo" tão disseminado nas redes sociais vem à superfície de forma dura nessa produção ambientada nos anos 1950.

Enquanto sonha em voltar aos palcos, Ginny (Kate Winslet) sofre na pele e no avental de uma garçonete obrigada pela culpa e carência a não mudar os rumos do seu script. Ela ainda assiste ao filho Richie literalmente incendiar o drama familiar e o marido Humpty afogar no mar e no álcool os problemas de uma relação sustentada menos pelo amor e mais pela penúria.

A leveza com a qual Woody Allen conduz a película - com a trilha sonora engraçadinha, muitas cores nos quadros e a presença do narrador-personagem - torna tudo mais palatável ao mesmo tempo que aproxima a tela da plateia. Como de costume em sua filmografia, há muita humanidade nas personagens de Roda Gigante de modo que é difícil não se enxergar na história.

A certa altura, o filme dialoga com a obra Blue Jasmine, também de Woody Allen, sobretudo pela atuação de Kate Winslet, que apesar de não ter a mesma pujança, se aproxima do papel que rendeu o Oscar de Melhor Atriz a Cate Blanchett, em 2014.

Os demais integrantes do elenco também justificaram os cachês, com destaque para James Belushi, que deu vida ao patriarca oprimido e opressor dessa família da pesada pouco tradicional, mas formada de personagens bem reais.

Texto publicado originalmente no Facebook e replicado com autorização.