O mantra das beiradas

Elton Serra é jornalista e escreve aos domingos

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  • Elton Serra

Publicado em 28 de janeiro de 2018 às 05:11

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O chamado “futebol moderno” é resumido por muitos como um esporte de “força e velocidade”. Para garantir três pontos, muitos professores apostam no jogo reativo, transições velozes e amplitude no último terço ofensivo, utilizando jogadores leves, rápidos e eficientes no um contra um: os famosos “jogadores de beirada” – ou pontas, como eram conhecidos antigamente.

O futebol baiano tem seguido essa tendência. Nos dois grandes clubes do estado, os pontas são jogadores que assumem certo protagonismo. Se lembrarmos do Vitória em 2016, a frase “toca no Marinho!”, gritada por Argel Fucks jogo após jogo, era o mantra do time no Campeonato Brasileiro. Forte e rápido, Marinho era poderoso no confronto individual e letal nas finalizações. Um ponta com as características perfeitas para o futebol brasileiro de hoje. Não à toa, despertou interesse de clubes do Brasil e do exterior, e atualmente ganha uma boa grana na China – sem tanto brilho, diga-se.

O Bahia de 2017 terminou reverenciando Stiven Mendoza. Apesar da grande temporada de Zé Rafael, que atuou como um meia-armador pelos lados do campo, foi o colombiano quem ganhou a simpatia dos técnicos que passaram pelo tricolor na última temporada. O tipo do atleta que todo treinador gosta: no momento defensivo, é capaz de marcar o lateral adversário até a primeira linha defensiva de seu time; com a bola, transforma-se num atacante rápido, capaz de incomodar as defesas rivais. Mesmo sem uma técnica refinada, reúne bem os pré-requisitos do jogador moderno: força e velocidade.

A atual temporada começou, e a dupla Ba-Vi já sente falta de seus ponteiros fortes e velozes. O Vitória negociou David, único jogador do time que fazia a função, com o Cruzeiro. Já o Bahia não conseguiu manter Mendoza. Os dois tentaram investir em atletas com características parecidas, mas ainda não sabem se colherão frutos com as aquisições. Enquanto o rubro-negro anunciou Denilson, atleta que foge das características física e técnica dos antecessores Marinho e David, o tricolor adquiriu em definitivo o jovem Élber, que se assemelha a Mendoza, mas também é menos veloz. O resultado é a mudança de postura tática de ambos – o Vitória, nos dois últimos jogos, apostou em jogadas de velocidade pelo corredor central do campo; o Bahia, mais técnico, usou seus laterais como válvula de escape no momento ofensivo. Tudo por conta da ausência de “jogadores de beirada” mais confiáveis.

O encaixe da equipe de Vagner Mancini, necessariamente, passará pela entrada de jogadores velozes nos extremos do campo. A contratação de Rhayner, apesar de o atacante não ter mais a velocidade de outros anos, pode dar fôlego ao time. O Vitória ainda busca no mercado outros atletas com essas características. O técnico Guto Ferreira, que se acostumou a jogar com meias criativos pelos lados e apostar num centroavante móvel, tenta buscar alternativas para sair da previsibilidade. Élber é sua única aposta para deixar o time rápido no último terço.

Ainda é cedo para identificar os padrões táticos de Bahia e Vitória. Entendendo a cabeça de seus treinadores, se seus conceitos forem mantidos na atual temporada, é possível ter uma noção, apenas. A única ideia concreta é a da utilização dos recorrentes “jogadores de beirada”. Se serão protagonistas dos esquemas de Guto Ferreira e Vagner Mancini, só a sequência de jogos dirá.

Elton Serra é jornalista e escreve aos domingos