O melhor Carnaval do Brasil

Por Armando Avena

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Publicado em 16 de fevereiro de 2018 às 03:30

- Atualizado há um ano

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Conta-se que certa vez perguntaram a Mao-Tsé-Tung qual o impacto da Revolução Francesa na humanidade. Impávido, o velho Mao respondeu:  ainda é cedo para avaliar. Não sei se a história é verdadeira, mas a parcimônia do líder chinês devia ser exemplo para um monte de gente que anda por aí vaticinando sobre o futuro do Carnaval de Salvador e dizendo falácias como: o modelo do Carnaval está esgotado; os blocos estão acabando, expulsos pelo folião pipoca; os camarotes vão substituir os blocos; o Carnaval de rua do Rio e São Paulo está superando o Carnaval de Salvador.

Os teóricos da nossa folia dizem tudo isso, mas não explicam por que o Carnaval de Salvador em 2018 foi uma festa espetacular e de longe o melhor Carnaval do Brasil. Para começar, comparar o Carnaval de Salvador com o do Rio e São Paulo, com seus blocos improvisados, seus cantores mambembes, e milhões de pessoas tentando ouvir um som improvisado que ninguém consegue escutar, é brincadeira. Enquanto no Rio, na melhor das hipóteses, uma solitária atração famosa puxa os foliões, em Salvador são dezenas de artistas que se revezam puxando os foliões em dois circuitos monumentais e com nível de segurança invejável. Convenhamos, não dá para comparar. Aliás, quem viu a virtuosidade de Saulo e a beleza do show de Daniela Mercury no Campo Grande, circuito que foi revitalizado em 2018, e o Olodum e os Filhos de Gandhy na Barra percebe que Carnaval de verdade é em Salvador.

A outra falácia é o esgotamento do modelo de Carnaval, o fim dos blocos de cordas e sua substituição pelos camarotes. Com os trios sem cordas puxados por grandes artistas, o folião pipoca imperou neste Carnaval e é assim que tem de ser, mas isso não quer dizer que os blocos vão desaparecer. Os blocos são um nicho de mercado e seu número foi reduzido este ano por conta da crise que descapitalizou alguns empresários, mas no ano que vem com o país crescendo a 4%, os blocos vão retornar reunindo os turistas e baianos que se sentem mais seguros nas cordas e as tribos de todas as tendências e matizes que desejam sair e brincar juntos.

Em 2018, os blocos vão voltar e quem vai ter trabalho é a coordenação do Carnaval para acomodar todo mundo em dois circuitos. Aliás, quem viu Claudia Leitte, Durval Lélis, Bel Marques, Psirico, Léo Santana e outros tantos puxando blocos cheios de foliões, percebeu que eles ainda vão permanecer por muito tempo no Carnaval de Salvador. E não me venham com essa história de que os camarotes vão substituir os blocos.

Os camarotes não existem sem blocos ou sem o trio pipoca, eles são o sucedâneo dos antigos clubes e apenas reúnem a classe média para ver o Carnaval passar.  E mesmo aqueles focados na classe alta, que se dão ao luxo de contratar artistas, são a versão moderna de clubes como o Bahiano de Tênis, Yatch e Associação Atlética. O povão, os jovens de classe média, a comunidade LGBT, as tribos de todos os gêneros, a cultura afro da Bahia querem sair mesmo é na rua, seja em blocos ou na pipoca.

A verdade é que o Carnaval de Salvador é o Carnaval da diversidade e tem lugar para blocos, pipoca, camarotes e todas as tribos, sem qualquer preconceito, como bem frisou Fernando Guerreiro em brilhante artigo nesta folha. Mas faltou alguma coisa no Carnaval de 2018? Faltou, sim, faltou mais blocos afros na avenida, faltou mais músicas de qualidade, faltou a alegria de Ivete Sangalo. Mas, felizmente, ano que vem, Ivete volta a fazer o melhor Carnaval do Brasil.

A BAHIA NO BNDES Os desembolsos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico para a Bahia atingiram em 2017, R$ 4,3 bilhões, quase 13% mais que em 2016.  A Bahia ficou com 6,1% do total destinado ao país e 30% do montante destinado ao Nordeste. No ranking nacional, ficou em sexto lugar com empréstimos superiores aos destinados ao Rio de Janeiro, mas inferior aos estados do Sul, São Paulo e Minas.

PIB DA BAHIA O PIB – Produto Interno Bruto da Bahia acumula um crescimento de 0,3% entre janeiro e setembro de 2017, o que representa metade do crescimento do PIB brasileiro no mesmo período, que foi de 0,6%.  O problema é que a economia baiana se mostrou mais instável que a brasileira e caiu 1,1% no primeiro trimestre, cresceu 2,4% no segundo e ficou estagnada no terceiro. Para que a Bahia tenha um crescimento do PIB semelhante ao nacional terá de ter crescido bem mais que a brasileira no último trimestre do ano. As informações são da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais.

O GURU DE LUCIANO HUCK Um dos maiores entusiastas da candidatura de Luciano Huck é o economista Andrea Calabi, muito ligado ao PSDB. Calabi é padrasto de Luciano Huck, casado com sua mãe, Marta Grostein, e faz a cabeça do apresentador em questões de economia. Convivi com Calabi, quando presidi o Conselho Nacional de Secretários de Planejamento, e ele era secretário do governador Geraldo Alckmin. O guru de Huck se destacava no fórum pela postura progressista e por ser simpático às reivindicações dos estados nordestinos. Mas Huck tem conversado com outros economistas considerados bem mais ortodoxos, como Paulo Guedes e Marcos Lisboa.

MINISTÉRIO DA SEGURANÇA Os políticos brasileiros não aprendem nunca. Quando estão acuados por um problema complexo criam uma comissão ou um ministério, como se isso fosse resolver alguma coisa. Acuado pela violência nas cidades brasileiras, o governo Michel Temer resolveu agir e... vai criar o Ministério da Segurança Pública. Isso não resolve nada, o que resolve é repetir as experiências concretas de cidades como Bogotá e Medellín, que eram tão violentas quanto as cidades brasileiras, e reduziram a violência drasticamente. Essas cidades articularam a ação do governo federal, dos estados e dos municípios. Não foi preciso criar ministério, nem acabar de uma hora para outra com a miséria, mas apenas dar funções e responsabilidades a prefeitos, governadores e ao Poder Judiciário. Bogotá e Medellín reformularam a polícia e o sistema prisional, mas ao mesmo tempo aumentaram a autoestima da população, urbanizando os bairros e as favelas, tomando os bairros das mãos dos traficantes, reformando espaços públicos, construindo centenas de bibliotecas, inserindo os jovens, criando centros de recuperação e policiamento comunitário, enfim, agindo em todas as frentes e dando responsabilidades a todos os agentes envolvidos. Medellín, outrora paraíso do tráfico de drogas, fez tudo isso, derrubou em 100% sua taxa de homicídios por mil habitantes. Enquanto isso, no Brasil, cria-se mais um ministério.