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Elton Serra
Publicado em 21 de janeiro de 2018 às 05:02
- Atualizado há um ano
Há alguns anos, cultivo o costume de conversar com treinadores de futebol, independentemente da equipe. É enriquecedor buscar entender a cabeça dos comandantes de equipes, suas dificuldades, ideias e anseios. Porém, não é preciso bater um papo com Guto Ferreira e Vagner Mancini para perceber que ambos não estão satisfeitos com os desempenhos de Bahia e Vitória em seus primeiros jogos no ano. Está muito claro.
No caso do Vitória, o que ameniza é o resultado conquistado no Rio Grande do Norte, contra o Globo. Vencer dá tranquilidade para prosseguir o trabalho. Por mais que o rubro-negro tenha apresentado um certo padrão de jogo, pecou nos três setores do campo – Mancini, inclusive, teve apenas seis jogadores no banco de reservas. Uma derrota em Ceará-Mirim traria pressão para uma equipe que ainda carrega o peso de ter feito um Campeonato Brasileiro longe dos sonhos da torcida.
Guto Ferreira também tem o seu fardo para carregar. Precisa superar a desconfiança da torcida e fazer um grupo praticamente novo jogar bem. O resultado contra o Botafogo-PB, na Fonte Nova, não ajudou o técnico do Bahia a ter a tranquilidade que Mancini terá para começar o ano. Além do desempenho abaixo da crítica, a derrota para os paraibanos criou um clima desconfortável na relação entre torcida e técnico.
Os dois episódios são extremamente exagerados e injustos. Ambos os técnicos praticamente não tiveram tempo para trabalhar. É impossível conseguir colocar em campo um time competitivo com duas semanas de treinamentos. Não há tempo hábil para fazer os jogadores assimilarem novas ideias de jogo, adquirirem entrosamento, ganharem ritmo e atingirem um nível ideal de preparo físico. Desempenhos ruins já eram esperados, devido ao cenário criado neste início de ano.
Claro que tudo isso é culpa do calendário do futebol brasileiro, espremido no primeiro semestre em virtude da Copa do Mundo. Os estaduais se juntam à Copa do Nordeste, que dividirá atenções também com Copa do Brasil e Sul-Americana. Em abril, começa o Brasileirão. Não há tempo de fazer com que times atinjam um patamar minimamente aceitável de competitividade. Os comandantes do futebol preferem quantidade a qualidade. No final das contas, sobra para jogadores e técnicos. A torcida, consumidor final, recebe um produto bem abaixo do que realmente merece.
Os clubes têm responsabilidade direta no modelo de gestão do futebol brasileiro. Ao aceitar e aprovar um calendário desumano, colocam a corda no próprio pescoço e atraem problemas precoces para resolverem em curto prazo. Dos 19 times da Série A que estrearam na última semana, apenas nove venceram. Nenhum deles convenceu, e muitos suaram para conquistar os três pontos. A prioridade dos técnicos era vencer para afastar crises prematuras.
Guto ainda terá muitas dificuldades até encontrar o time ideal. Sem tempo, terá que abrir mão de alguns jogos do Campeonato Baiano para fazer seus principais jogadores assimilarem o jeito de o Bahia jogar. Mancini irá pelo mesmo caminho, ainda com um grupo reduzido e que não lhe dá possibilidades de poupar muitos atletas ao mesmo tempo. Colocar resultado acima do desempenho, nas primeiras partidas da temporada, não será absurdo. Para a sobrevivência de técnicos e tranquilidade dos elencos, administrar o calendário será uma arte no sufocante ano de 2018.
* Elton Serra é jornalista e escreve aos domingos