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Murilo Gitel
Publicado em 3 de outubro de 2017 às 17:17
- Atualizado há 2 anos
Representantes de 14 setores da indústria brasileira se reúnem nesta quarta-feira (4/10), em Brasília, para apresentar o quanto avançaram nos últimos cinco anos – desde a realização da Rio+20 (Conferência da ONU Sobre Desenvolvimento Sustentável) – nas áreas de uso eficiente de recursos naturais, como água e energia; desenvolvimento de produtos mais sustentáveis e gestão de resíduos.>
O evento, promovido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), busca fazer um balanço sobre os progressos que as empresas da indústria brasileira realizam no campo da sustentabilidade desde à realização da Rio+20, conferência que marcou os 20 anos da Rio-92 e contribuiu para definir a agenda do desenvolvimento sustentável para as próximas décadas.>
“A transição para um novo modelo de produção deve ser apoiada por políticas públicas amplas de apoio às empresas”, defende Mônica Bessenberg, diretora de Relações Institucionais da CNI. Segundo ela, a indústria está comprometida com a sustentabilidade. “Entre as medidas propostas estão estímulos a investimentos em inovação e em tecnologias sustentáveis, além de incentivos e desoneração tributária para empresas que usem recursos naturais de maneira mais eficiente”, acrescenta.>
Resultados>
Entre os destaques dos estudos setoriais de âmbito nacional (sem abordagem regional) que serão apresentados nesta quarta-feira, e que o CORREIO Sustentabilidade teve acesso com exclusividade, está a reciclagem de latas de alumínio para bebidas, que atingiu 97,9%, em 2015. Ao considerar a relação entre a sucata recuperada e o consumo doméstico de produtos de alumínio, o Brasil está acima da média dos principais países consumidores do metal, que é de 27%. No País, reciclam-se 46% desses materiais.>
Na indústria automobilística, entre os principais avanços nos últimos cinco anos está o ganho de 12% de eficiência energética dos veículos. Outro destaque é a inserção no mercado dos veículos flex. Hoje 88% dos veículos leves novos vendidos são flex e, desde 2003, mais de 29 milhões de unidades foram comercializadas.>
Alimentos e vestuário>
As unidades brasileiras de multinacionais do setor de alimentos têm se tornado referência global nesse segmento, segundo os estudos da CNI. A Cargill, por exemplo, diminuiu o consumo de água por produção em 14% entre 2010 e 2015, superando com folga a meta mundial de reduzir a intensidade de consumo em 5% até 2020. Na Bunge, cuja meta global era de diminuir 3% no consumo de água entre 2013 e 2016, o Brasil atingiu 9,92% de redução já em 2015. Em cinco anos, a Unilever conseguiu uma diminuição no consumo em 30% no país.>
O setor têxtil se destaca no tratamento de efluentes e mantém, de acordo com a CNI, um contínuo esforço para redução e reuso de água em sua produção. Exemplo disto foi a criação, em 2015, de um processo inovador de lavagem de denim (tecido de algodão que é a matéria-prima do jeans) que pode reduzir, em até 100%, o consumo de água.>
No caso da indústria de base florestal, dos 7,84 milhões de hectares de florestas plantadas, 5,4 milhões de hectares são certificados, conforme dados da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá). Estima-se que as áreas de plantios florestais no Brasil são responsáveis pelo estoque de aproximadamente 1,7 bilhão de toneladas de dióxido de carbono equivalente por ano. Além disso, o setor gera e mantém reservas de carbono da ordem de 2,48 bilhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente em 5,6 milhões de hectares em áreas protegidas.>
O quadro abaixo destaca alguns dos principais avanços da indústria nacional nos últimos cinco anos:>
Automobilístico: concepção de veículos mais econômicos, menos poluentes, mais seguros e confortáveis. Um exemplo de ganho de eficiência dos produtos é a melhoria média de 12% da eficiência energética dos carros. Para isso, o setor anunciou investimentos de R$ 85 bilhões entre 2012 e 2018, dos quais R$ 15 bilhões destinados à pesquisa, desenvolvimento e engenharia. A Ford utiliza garrafas PET para fazer revestimentos internos de carpete; tampas de garrafas para confecção de partes do painel; para-choques antigos para a produção de para-choques novos.>
Eletroeletrônicos: Empresas como a HP e a Whirlpool já vêm fazendo a sua parte para reduzir resíduos desde a concepção de produtos até a destinação correta de resíduos. Um exemplo é a impressora HP Deskjet 5822, produzida com plástico reciclado e que traz maior eficiência no consumo de energia e possui funções que otimizam o uso de papel e tinta. Já a Whirlpool estabeleceu em 2011 a meta de zerar o envio de resíduos para aterros, que naquela época era de 8%. Essa meta foi atingida em 2015 e a estratégia usada foi envolver a cadeia de fornecedores para encontrar alternativas de aproveitamento para os diferentes materiais.>
Química: Graças à gestão eficiente dos recursos naturias, a captação de água pelas indústrias químicas caiu 36% entre 2006 e 2015, passando de 7,41 metros cúbicos por tonelada de produto para 4,7 metros cúbicos por tonelada de produto. Na Bahia, a DOW conta com um projeto que gera energia limpa a partir da biomassa de eucalipto nas instalações industriais de Aratu. O vapor é 100% gerado a partir da combustão de cavacos de eucalipto de área reflorestamento próprio. Com a energia limpa gerada pelo eucalipto, a empresa substitui o consumo de 200.000 metros cúbicos de gás natural por dia.>
Aço: A indústria brasileira de aço investiu R$ 3,6 bilhões em ações de proteção ambiental no triênio 2014-2016. Os recursos foram destinados à melhoria dos processos de operação e medidas como reutilização da água, reciclagem, inventários de emissões de gases do efeito estufa e estudos sobre o uso racional de energia. As informações estão no estudo A Indústria do Aço no Brasil, que integra o conjunto de 18 documentos do projeto CNI sustentabilidade.>
Mineração: Outro setor que investe em ações que reduzem o impacto ambiental é o de mineração. Responsável por 11,6% das exportações brasileiras, a indústria extrativa mineral emprega cerca de 185 mil trabalhadores e representa 4,3% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. De acordo com o estudo Mineração e Economia Verde, produzido pelo Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), o setor reusa cerca de 85% da água em seus processos.>
Elétrico: Responsável por 2,2% da produção mundial de energia eólica, o Brasil é o nono país que mais gera energia elétrica com essa fonte, segundo o relatório da Global Wind Statistics (GWEC). Essa deve ser a fonte de energia renovável alternativa que mais se expandirá, saltando de uma participação de 3,7% na matriz elétrica brasileira, em 2014, para 11,6%, em 2024. A fonte solar deverá ter participação de 3,3% na matriz de eletricidade em 2024.>
Alumínio: Um dos setores que vem dando exemplo em iniciativas de eficiência energética é o de alumínio, sempre buscando a redução do consumo de energia, principalmente na produção do metal primário, que é a etapa eletrointensiva da cadeia. A grande vantagem da cadeia do alumínio está na etapa de reciclagem. A reciclagem do alumínio gera um “banco de energia” para as futuras gerações, uma vez que se estima que mais de 75% do alumínio até hoje produzido no mundo ainda esteja em uso, reciclado inúmeras vezes.>
Alimentos: O setor de alimentos está incorporando os conceitos da economia circular, na qual o ciclo de vida do produto é pensado inteiramente, e não apenas até a sua comercialização. Exemplos são a redução da quantidade de plástico em garrafas de água e de papelão nas caixas de inúmeros produtos, o uso de materiais biodegradáveis, a adoção do plástico verde, feito de etanol, nas garrafas de refrigerante, a inclusão de plásticos reciclados nas garrafas e em outras embalagens e a diminuição dos tamanhos das embalagens. A fábrica da Nestlé em Feira de Santana registrou um crescimento de 43% na produção da unidade somada a reduções de 20% no consumo de energia e de 25% no consumo de água a cada tonelada produzida.>
Têxtil: A eficiência energética é um dos temas prioritários para o setor têxtil. De acordo com dados do Balanço Energético Nacional de 2016, o segmento usa, principalmente, fontes renováveis na geração de energia. Segundo a Abit, ainda que tenha parcela de apenas 0,3% no consumo total de energia do país, a indústria têxtil monitora o consumo de energia para priorizar fontes renováveis e reduzir o uso de energia fóssil. Em Salvador, a fábrica da Camisas Polo é a primeira pequena indústria do país autossuficiente em energia.>
Florestal: O segmento contribui para a conservação das florestas por meio do desenvolvimento do manejo florestal sustentável, extraindo produtos da floresta de maneira que os impactos gerados sejam mínimos, possibilitando a manutenção da estrutura florestal e sua recuperação, por meio do estoque de plantas remanescentes. Essa técnica permite a manutenção da floresta em pé com contínua produção de madeira. Em média, somente quatro a seis árvores são retiradas por hectare de floresta e o retorno para a exploração da mesma área ocorrerá após 25 a 35 anos, permitindo o crescimento das árvores remanescentes.>