Tapinha na potranca

Jolivaldo Freitas é jornalista e escritor

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  • Jolivaldo Freitas

Publicado em 10 de fevereiro de 2018 às 02:15

- Atualizado há um ano

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Tem gente fazendo tudo errado. Abre a porta do carro, afasta a cadeira para que elas sentem. Oferece a primazia da escolha do cardápio, espera que entre em casa antes de seguir em frente, pergunta qual o filme que quer ver, espera todos os sinais, é gentil, pois aprendeu que teria de ser assim. Mas hoje veem que para fazer sucesso com as minas têm de dar um tapinha na potranca, como orienta o compositor: “Dou tapinha na potranca/Com o bumbum ela balança/Yuri chama de malandra/Ela vai se apaixonar”.

Tudo mais simples e mais direto e “Agora vai sentar/Vai sentar, vai sentar...”. Bem linear, sem salamaleques e blá blá blá que o tempo de agora é diferente. Acho interessante esta contramão da história que a música baiana de vez em quando nos impõe e não acho que deva censurar, pois se expressiva parcela das mulheres gosta e dança a valer, aplaude e quer mais, como vi no Furdunço, tem mais é que seguir em frente e jogar duro.

Interessante é que as letras de músicas que permeiam este Carnaval vão em seu conteúdo lúdico, informal ou espectral de encontro a tudo aquilo que as emponderadas (palavra feia por demais) e as feministas têm conceituado e feito escarcéu, como o movimento das americanas o #MeToo (Time´s Up) Não é Não! E por aí vai.

O homem cavalheiro vem sendo questionado. Estava observando um texto da psicanalista Regina Navarro Lins em que observa que cavalheiro  traz embutida a ideia subliminar de ser a mulher frágil necessitando de alguém até para abrir a porta de um carro ou puxar uma cadeira. Em sua concepção, “É importante não esquecer que nos últimos cinco mil anos a mulher foi considerada incapaz, incompetente e limitada, ou seja, um ser inferior. Muitas vezes algo que parece tão inocente pode ser profundamente prejudicial por reforçar inconscientemente ideias que já deveriam ter sido reformuladas”.

Havia discussão em meu grupo de amigos quando adolescentes, em que era tido como certo que os bad boys sempre se davam bem, em detrimento dos meninos bonzinhos, talvez levados pela influência do cinema norte-americano com filmes como Juventude Transviada (Rebel Without a Cause) ou Os Embalos de Sábado à Noite (Saturday Night Fever). Meninos bonzinhos sempre foram escolhidos para amigos, confidentes. Um cara legal é ótimo para irmão e,  se for mais velho, melhor. Quem gosta de bons moços são as sogras, dizíamos em tom piegas em nossa “vasta” cultura de relacionamentos e psicologia das esquinas lá do bairro. Um estudo feito por uma universidade australiana e pela California State University mostra que mulheres cientificamente preferem os cowboys. Mas isso não implica que sejam grosseiros.

Boa parte das músicas do Carnaval deste ano na Bahia - segundo o Spotify, estão bombando e é o que se vê nas ruas e nas festas -, faz  menção à bunda. Da popa à rabiola. E o que será que se passa na cabeça das feministas? Das emponderadas? “Vem devagar, vem devagar/Vem com calma nêga vem devagar/Vem devagar, vem devagar/Vem com calma nêga vem devagar/Eu não tô nem aí/Tô a fim de olhar, olhar popa da bunda”. E o tapinha na potranca deve funcionar. Vá saber.

Jolivaldo Freitas é jornalista e escritor