Três pedidos: fiéis repetem procissão criada há cinco anos no domingo do Bonfim

Festa teve encerramento oficial neste domingo (14) com missa solene e nova caminhada até a Colina Sagrada

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  • Alexandre Lyrio

Publicado em 14 de janeiro de 2018 às 17:13

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva/CORREIO

Devotos caminharam dos Mares à Colina Sagrada na Procissão dos três pedidos. Encerramento das homenagens ao Bonfim (Foto: Arisson Marinho) Naquelas mesmas ruas, três dias antes, se viu de tudo: de música a molequeira, de protestos políticos ao  pagodão, de manifestações culturais à religiosidades diversas. Todos sob o mesmo hino: “Gloria a ti nesse dia de glória...”. O que alguns ali não sabiam é que, pelo calendário católico, o “dia de glória”, na verdade, foi ontem. No domingo, encerramento das homenagens ao Senhor do Bonfim, milhares de pessoas voltaram  às ruas da Cidade Baixa para saudar a maior devoção da Bahia.

Pela manhã, a missa solene presidida pelo arcebispo primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger, lotou a basílica. Diante de tanta gente querendo entrar na igreja, ele lembrou: “Este santuário pode não  conter todos os devotos, mas, nos braços dele, todos nós cabemos”. À tarde, às 16h, teve a Procissão dos Três Pedidos.

Criada há cinco anos pelo reitor da Basílica, Padre Edson Menezes, a procissão levou outros tantos a caminhar entre a Igreja dos Mares e a Colina Sagrada, onde, manda a recente tradição, todos dão três voltas ao redor da igreja, uma para cada pedido. Às 16h15, a imagem de Senhor do Bonfim, carregada pelo povo em mais uma penitência, seguiu rumo à Colina Sagrada.

Quase todos que estavam ali já haviam cumprido a tradição da quinta-feira, quando a caminhada, três vezes maior, sai do Comércio rumo à mesma colina. “Quinta-feira é a lavagem da gratidão. Hoje é uma caminhada penitencial”, ensinaram as irmãs Eliene, 49, e Eliana, 50. A festa do senhor do Bonfim ocorre no segundo domingo depois do dia de Reis. Antes disso, na quinta-feira, uma multidão que mistura fé católica, candomblé e festa profana vai às ruas para “lavar” as escadarias da igreja, repetindo o que faziam, desde o século 18, os escravos, que aproveitavam  para celebrar Oxalá. Daí vem a tradição religiosa híbrida.

Ontem, a própria procissão católica fez referência a essa tradição. Dividida em quatro partes, a caminhada tinha a ala das devotas que carregavam quartinhas com flores, em referência às baianas. “Isso é para lembrar que nossos irmãos de matriz africana também fazem parte da festa do Bonfim”, disse a voluntária Maria da Neves.  “Hoje é, de fato, o dia mais importante das homenagens ao Senhor do Bonfim. A lavagem faz parte da programação”, explicou Padre Edson. 

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Missa solene

Nem mesmo uma forte dor no joelho impediu Neuza Conceição de subir a Colina Sagrada e visitar a Basílica Santuário Senhor Bom Jesus do Bonfim. A merendeira queria ver, mesmo que só por alguns minutinhos, a missa presidida pelo arcebispo primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger. Afinal, neste domingo (14), aconteceu o último dia de homenagens ao Senhor do Bonfim, em Salvador.

"Sou devota dele e sempre participo das festas. Não poderia ficar de fora hoje, já que é um dia ainda mais especial: meu aniversário", disse Neuza, que completou 58 anos. Com a basílica lotada, a missa solene começou um pouco atrasada. Marcada para 10h, só foi iniciada por volta de 10h15. Nada que tirasse as centenas de pessoas de lá. Era tanta gente que até Dom Murilo fez um comentário, durante a celebração. "Este santuário pode não conseguir conter todos os devotos que subiram a Colina Sagrada por tantos motivos, mas, nos braços dele, todos nós cabemos", disse o arcebispo.

A doméstica Ediluze Paulino, 42, e a filha, a estudante Caroline Paulino, 10, chegaram cedinho, às 9h. "Todos os anos, tento ir ou para a Lavagem do Bonfim ou para a programação do domingo. Já que não pude participar da Lavagem, vim para a missa. É sempre muito cheia. E é ótimo o fato das pessoas virem para a igreja mesmo que em um dia de sol e praia", comentou Ediluze. Ediluze e Caroline chegaram na Basílica às 9h (Foto: Giuliana Mancini/CORREIO) A farmacêutica Larissa Gomes, 35, e a mãe, a aposentada Maria das Graças Barbosa, 65, vieram de Barreiras, no Oeste da Bahia, para fazer exames em Salvador. Mas trataram de conciliar a viagem com as homenagens ao Senhor do Bonfim. "A missa é a parte mais importante. Me programei para estar aqui neste dia", falou Larissa. "Morei na capital baiana durante 15 anos e participava da data sempre que dava. Sou devota do Senhor do Bonfim", completou. 

Além da celebração com Dom Murilo Krieger, a  Basílica Santuário Senhor Bom Jesus do Bonfim recebeu missas às 5h, 6h, 7h30 e 15h, alvorada de fogos às 5h e a tradicional Procissão dos Três Pedidos, partindo da Igreja dos Mares, às 16h, com direção à Colina Sagrada.