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João Gabriel Galdea
Publicado em 17 de setembro de 2023 às 05:00
O sapeca-iaiá que o Vitória tomou do CRB, pela Série B, já entrou pra história dos clubes. Os 6x0 dos alagoanos sobre o líder do torneio, de fato, surpreendeu, mas na opinião deste torcedor rubro-negro, o que surpreende mesmo é o Leão na liderança, a essa altura do campeonato. Ok, o plantel é bacana, o desempenho idem, mas pra quem já tava se acostumando com as sofrências dos últimos anos – incluindo virtual descenso à Série D, ano passado, somente no fim transformado em acesso, nos ombros da torcida –, ser favorito para voltar à Série A, da qual não devíamos ter perdido a intimidade, parece até mentira. >
No embalo da goleada sofrida, decidi tentar reanimar a torcida relembrando um amasso ainda menos verossímil que o de Maceió: há 20 anos, a meninada craque de bola formada na Toca do Leão aplicava aquela que foi a derrota mais feia da história do todo poderoso Palmeiras: 7x2, em São Paulo, pelas oitavas da Copa do Brasil. Teve show do jovem e promissor Nadson, falha escrota do pentacampeão Marcos e uma espécie de vingança à final do Brasileirão ocorrida uma década antes. “Foi espetacular e até hoje, irmão, eu rodo a Bahia, rodo pra tudo quanto é canto como observador técnico, e só falam desse jogo”, relembra o carrasco que virou Nadgol depois daquele show.>
Na verdade, a vendeta rubro-negra havia começado cinco meses antes, no final de 2002, quando o Vitória, mesmo sem pretensões na última rodada da Série A, meteu 4x3 no desesperado Palmeiras, fazendo o Porco chorar seu primeiro rebaixamento. O reencontro em 23 de abril de 2003 seria o início de uma reabilitação dos alviverdes, mas virou prego no caixão de uma geração de palestrinos.>
“Vitória obtém goleada histórica no Parque Antárctica” dizia o título da reportagem do Correio da Bahia de 24 de abril, com a linha de apoio já indicando o desfecho óbvio: “Resultado por 7x2 sobre o Palmeiras praticamente garante a vaga na próxima fase da Copa do Brasil”.>
O jogo>
Com o resultado, o Vitória podia perder por até quatro gols de diferença no jogo de volta. “O garoto Nadson, 20 anos, foi o herói de uma atuação brilhante do Vitória nos 45 minutos iniciais, quando a equipe definiu o jogo. O lépido atacante marcou três gols, sofreu o pênalti chutado por Zé Roberto e foi responsável pela expulsão do zagueiro Gustavo ao ser chutado por trás. No segundo tempo, o rubro-negro diminuiu o ímpeto e ainda assim foi superior, com Nadson voltando a marcar. Dudu Cearense e Marcelo Heleno completaram o placar. Thiago Gentil e Corrêa descontaram”, resume o início da reportagem, antes de citar toda a pressão que envolvia o Porco naquela época. >
“A torcida ficou revoltada, pedindo a saída do presidente Mustafá Contursi. (...) Três torcedores invadiram o gramado e um deles ficou segurando a rede até que foi convencido pela PM a deixar o campo”.>
Após a confusão, o placar contava 6x1, e aos 21 da segunda etapa, Corrêa descontou de falta para o time da casa. Mas aos 30, o ponto alto (ou baixo) da partida, retrato do alviverde naquele período: o goleiro Marcos, que menos de um ano antes tinha sido um dos heróis do penta do Brasil, falhou de forma bisonha ao tentar isolar a bola na frente de Nadgol. Sozinho, ele invadiu a pequena área e só não entrou com bola e tudo porque teve humildade: sétimo no placar.>
Resenha>
Hoje observador técnico e à frente da Nadgol Academy, escolinha de futebol com 125 alunos em Serrinha, Nadson conta que nunca se reencontrou pessoalmente com Marcos, após o parqueantacticaço, mas diz que ambos costumam resenhar sobre o episódio nas redes. “A gente se fala no Instagram, sempre. Os torcedores do Vitória publicam, eu comento, ele vai e comenta também, dá risada. Marcos é uma figura que é um exemplo. Ele não liga pra essas coisas, não. Cai na zoeira mesmo”, revela o artilheiro do Leão em 2003.>
Apesar do bom humor do goleirão, o baque foi grande: no embalo do vexame, Marcos anunciou que desistia de novas convocações para a Seleção Brasileira. Em sentido contrário, a goleada virou a credencial que Nadson precisava para vestir a amarelinha. O serrinhense foi convocado para a equipe Sub-23 que disputou a Copa Ouro, em julho daquele ano, chegando à final contra o México. Derrota por 1x0 para os titulares deles, mas excelente experiência de vida junto a outros craques em início de carreira como Kaká, Nilmar, Robinho, Diego, Júlio Baptista, Maicon, entre outros. >
A lembrança desse estágio de luxo foi boa, mas a repercussão de seu triunfo sobre o Verdão foi melhor ainda. “Em 2003, eu fiz 30 gols no profissional em seis meses. E a maioria desses gols foi eu entrando durante as partidas. Aí quando começou o Brasileiro, eu entrei de titular e me firmei. Mas, quando chegou na Copa do Brasil, que foi esse jogo especificamente, cara, o assédio foi muito grande. No aeroporto, na volta, os torcedores do Corinthians comemorando e zoando demais. São-paulinos, santistas. A gente passava, todo mundo batendo palmas, ‘é isso aí’. E pra mim tudo aquilo era muito novo, porque a coisa aconteceu muito rápido. E a recepção em Salvador, meu Deus do céu, eu nunca esperava”, recorda Nadgol Barril, que conseguiu o feito ao lado de outros pratas da casa como Paulo Musse, Adaílton, Dudu Cearense (que também marcou e deu assistência), Leandro Domingues, Alecsandro e Samir, ou seja, mais de meio time. No atual, o único da fábrica de talentos que atua com frequência é o goleiro Lucas Arcanjo, vazado só uma vez a menos que Marcos. >
Ouça podcast especial com Nadson comentando a perda de protagonismo da base do Vitória e, claro, relembrando goleada sobre o Verdão em 2003.>