Afroempreendedorismo não é sinônimo de projeto social

Empresas e projetos de DNA negro mostram potência e viabilidade cada vez maiores no mercado

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  • Emilly Oliveira

Publicado em 12 de agosto de 2023 às 05:00

Painel debateu empreendedorismo
Painel debateu empreendedorismo Crédito: Paula Fróes/CORREIO

Você tem uma ideia? Acredite nela. Se esse é primeiro passo para que qualquer projeto vire realidade, no empreendorismo negro a dica tem significado ainda mais profundo. Reconhecer o próprio talento individual é um dos passos importantes para a entrada de profissionais negros em um mercado que abraça, cada vez mais, produtos que não são só produtos.

Representatividade e fortalecimento de identidade étnica investem significado em negócios de sucesso protagonizados por pessoas pretas. O ambiente é favorável e o céu é o limite, mas há um caminho a percorrer e desafios a enfrentar. O primeiro - e mais óbvio - deles é aquela velha associação limitante entre afroemprendedorismo e projeto "sem fins lucrativos".

Ao falar das dificuldades que enfrentou para posicionar a grife Dendezeiros como um case de afroempreendedorismo na Bahia e no país, o CEO e diretor criativo da marca, Hisan Silva, destaca a resistência que o mercado ainda tem em reconhecer as características empresariais de negócios de pessoas negras.

"Existe um estigma sobre os empreendedores negros: quando lançamos um negócio, as pessoas sempre acham que é um projeto social, mas não, é um négócio. Existe um braço social nele, mas estou investindo nisso para fazer dinheiro, mudar a minha história e a história das pessoas que trabalham comigo", afirma.

Ao lado de Hiran, no painel que teve mediação do empreendedor, consultor em diversidade e autor do livro Oportunidades Invisíveis, Paulo Rogério Nunes - estavam a empresária e presidente da Associação de Jovens Empreendedores da Bahia (Aje - Ba) Alana Sales e a editora-chefe do CORREIO, Linda Bezerra.

A bela onda negra

Reconhecer-se talentoso e acreditar no potencial de crescimento do negócio, ter um bom gerenciamento financeiro, elaborar um plano de comunicação eficiente e formar parcerias, foram passos apontados como necessários aos afroempreendes que pretendem protagonismo no cenário favorável.

Segundo a avaliação de Alana Sales, a boa maré é chega com novas iniciativas públicas e privadas de investimento no segmento. A empresa de cosméticos sustentáveis que ela abriu no ano passado, chamada Dumato, foi uma das beneficiadas em uma dessas iniciativas, oferecida pela cantora Iza. "Ao abrir o edital, Iza premiou os negócios. Foi uma aceleração, mas ela colocou dinheiro também. Então, eu entendo que estamos surfando uma bela onda de empreendedorismo [negro]", disse Alana.

Para Hisan Silva, o reconhecimento da autoria negra nos produtos é outro ponto favorável. "Durante muito tempo, tudo que criamos e desenvolvemos foi usurpado daqui, ou usado em outro lugar. Nesse momento, estamos assinando nossas criações", destacou o CEO da Dendezeiro.

Cases

O lado social continua existindo, mas avança em um sentido cada vez mais longe do conceito de "caridade". O compromisso social aparece na enorme capacidade do afroempreendedorismo transformar vidas de pessoas negras, em justa troca entre oportunidades e talentos. O Afro Fashion Day, apresentado por Linda Bezerra, é exemplo dessa dinâmica vitoriosa.

Produto do CORREIO, o projeto destaca talentos negros na moda há oito edições e tem seu clímax em um desfile de moda consagrado como "a maior passarela negra do Brasil". A valorização de talentos negros, no entanto, começa muito antes do evento principal e não termina depois dele. Quase toda a produção do evento envolve profissionais negros, que, por sua vez, priorizam o trabalho de estilistas afroempreendedores.

"O projeto nasceu da percepção de que Salvador, uma cidade com mais de 80% de pessoas negras, não tinha um projeto de afroempreendedorismo na moda. Temos estilistas talentosos, belos modelos e esse empreendorismo no sangue [...] É preciso reconhecer os talentos que a cidade tem", ressaltou Linda.

Quem também trabalha para aumentar a representatividade no mercado e contabiliza cases de sucesso é Paulo Rogério, por meio do Vale do Dendê. O hub atua na aceleração de negócios. A Dendezeiro foi uma das empresas que já passaram por lá e, hoje, avançou as fronteiras da Bahia, acumulando parcerias com marcas do país inteiro, além de estar há pelo menos três temporadas na São Paulo Fashion Week.

"Ao ver exemplos como esses, você percebe que não há nada de coitadinhos, de olhar pro pequeno. Os resultados mostram que é o empreendedorismo negro é potência", destacou Paulo.

Caminhos para aumentar a representatividade no negócio

1 - Entender que a inclusão é importante para o negócio;

2 - Buscar experiências de sucesso e se inspirar nelas;

3 - Buscar maneiras de inovar;

4 - Mapear oportunidades de ampliar a representatividade;

5 - Olhar para a cadeia de fornecedores.

fonte: Paulo Rogério Nunes

*Com orientação de Jorge Gauthier

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