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Donaldson Gomes
Publicado em 22 de agosto de 2024 às 05:00
A história da Fazenda Progresso, em Mucugê, na Chapada Diamantina, a cerca de 450 quilômetros de Salvador, têm ensinamentos importantes para quem vive do campo, além de mostrar uma face da pujante produção agrícola brasileira que ainda é desconhecida por muita gente. Novas tecnologias de digitalização, inteligência artificial e internet das coisas, quase sempre associadas ao setor industrial e a atividades urbanas, já se tornaram presenças constantes no campo. “O agro é extremamente relevante para nossa existência, não apenas pela alimentação, mas também pelo vestuário e pelo suporte que dá a tantas outras cadeias”, destaca o empresário Fabiano Borré, CEO da Fazenda Progresso, controladora da Vinícola UVVA e Café Latitude 13. Ele será um dos palestrantes do Agenda Bahia, amanhã, no auditório da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb). >
Quem é>
Fabiano Borré é empresário e CEO da Fazenda Progresso, controladora da Vinícola UVVA e Café Latitude 13. Nascido em São Paulo das Missões, no Rio Grande do Sul, chegou à Bahia aos 9 anos de idade, acompanhando a família que migrou para a Chapada Diamantina. Crescido em meio aos negócios da família, formou-se em Administração de Empresas pela Universidade Jorge Amado, em Salvador, e cursou MBA em Finanças pela FGV com Extensão Internacional na Ohio University. Antes de ingressar profissionalmente nos negócios da família, acumulou experiência nas áreas industrial e financeira. Na Fazenda Progresso, com sede em Mucugê, Fabiano esteve à frente do exitoso projeto de expansão e desenvolvimento do segmento de café premium, que hoje é exportado para os quatro cantos do mundo e que, no mercado interno, carrega a marca Latitude 13. Fabiano capitaneou a concepção, implantação e lançamento do projeto da Vinicola UVVA, aberta ao público em 2022. Na indústria do turismo também é sócio do Hotel Boutique Refúgio na Serra, em Mucugê, empreendimento lançado em 2021 e que vem contribuindo para a consolidação do turismo regional. Junto com a família e colaboradores, Fabiano reforça a visão de futuro da empresa, sempre atento às tendências, inovações e buscando o crescimento sustentável de todos os negócios em que atua.>
A associação entre indústria e serviços com tecnologia é muito direta, mas ainda temos dificuldade em olhar assim para o campo, sendo que temos no Brasil algumas das culturas agrícolas mais tecnológicas do mundo. Por que?>
Num primeiro momento, diria que isto tem relação com uma dificuldade de comunicação do agro com o público brasileiro e até internacional. Temos enormes avanços, muita tecnologia de ponta em muitos segmentos, mas isto é pouco comunicado. Acredito que em razão até por uma questão de mercados, já que produzimos muitas commodities e estes produtos já são certificados. O produtor acaba não sentindo a necessidade de ter uma aproximação maior em relação consumidor final, no sentido de mostrar como ele faz aquilo. A gente tem uma realidade diferente no caso do café, que é exportado para dez países, saindo daqui da Chapada. Como é um nicho premium, os clientes fazem questão de vir às fazendas, ver como tudo acontece, porque são os próprios certificadores da qualidade do produto. Há um interesse em saber como nós produzimos, como o café é irrigado, como as pragas e doenças são controladas, enfim. Eu sinto que o agro não mostra tudo o que ele faz. Já a indústria está muito conectada com essa agenda, nós pensamos em inovação e associamos a microchips e robôs fabricando carros. >
Qual é a importância dos investimentos em tecnologia e inovação para a história de vocês?>
O maior patrimônio de quem trabalha com o agro é o solo. Se a gente não adotar iniciativas que preservem os recursos naturais, em particular a terra, dando longevidade à nossa fonte de sustento, estaremos dando um tiro no pé. Isso se faz com o uso de tecnologias como a agricultura de precisão, por exemplo. Antigamente, quando meu pai e meus tios começaram a fazenda, o que se usava de fertilizantes era algo tipo “em uma prescrição, você precisa colocar duas toneladas por hectare”, por exemplo. Era um padrão, não se consideravam as manchas de solo. Hoje, com a agricultura de precisão, se colocam dez quilos, cinco quilos, ou quinhentos quilos, mas tudo depende da análise do solo, que é feita com a ajuda de diversas tecnologias, como o GPS, que nos permite trabalhar no local exato em que precisamos. >
Você consegue reduzir o uso de produtos numa proporção de duas toneladas por hectare para dez quilos?>
O que acontecia é que antes dos avanços tecnológicos se trabalhava com a chamada taxa de aplicação fixa. Hoje a gente usa taxas variáveis. Primeiro vai lá um quadriciclo na área e coleta centenas de amostras, gera um mapa e a máquina que aplica o produto já vai trabalhar de acordo com o mapa inserido no trator. Isso traz a princípio uma redução enorme de custos, de volumes transportados, sem contar que aí você está trazendo, de fato, um equilíbrio para o solo. Tem também o uso da água, que hoje é definido por dados de estações meteorológicas e softwares de controle. Antigamente, o técnico agrícola ou o agrônomo tomavam estas decisões de maneira mais empírica. Era algo como olhar a umidade do solo, comparar com o período do ciclo da cultura e definir colocar 5 milímetros. Hoje não é mais assim. Os sensores indicam onde estão as raízes, as estações meteorológicas ajudam a definir o melhor dia, em que haverá maior necessidade e menor evapotranspiração. Isso significa a economia de recursos hídricos, evita desperdícios. Somente estes dois elementos que trouxemos já fazem enorme diferença, mas eu lembro também dos equipamentos que aplicam volumes menores, etc. >
Isto traz uma pegada de sustentabilidade maior para a operação. >
Perfeitamente, são produtos com mais qualidade e mais saudáveis. O ESG (a responsabilidade ambiental, social e de gestão) está intimamente ligado a tudo isto. O nível de avanço tecnológico aplicado no campo tem tudo a ver com o ESG. Não tem como fugir destas tendências no agro. >
Qual a importância deste movimento da Fazenda Progresso de agregar valor à produção, investindo inclusive na criação de marcas, como a Latitude 13 e a Uvva?>
Os impactos deste adensamento às vezes são imensuráveis. Te dou um exemplo da nossa realidade. Mucugê, depois da abertura da Vinícola Uvva, se transformou. Atraiu um novo público, os imóveis triplicaram de valor e isto acaba distribuindo riqueza na sociedade local, porque traz outros tipos de oportunidades de ganhos, além do trabalho direto dentro das empresas. O enoturismo atraiu mais restaurantes, pousadas, pessoas passaram a investir para atender um novo público. Começa a ter uma diversificação e até uma segmentação muito interessantes. O turismo de aventura também se beneficia, porque o apaixonado pelo vinho chega para ir às fazendas, mas decide ficar mais tempo para ver uma cachoeira, ou uma roça de frutas vermelhas. Além disso, promove uma conexão entre as grandes, médias e pequenas empresas, na oferta de serviços. Eu acredito que a Bahia tem um potencial enorme neste sentido e nós já vemos iniciativas importantes no Oeste, no Sul da Bahia, com o cacau, só para citar dois exemplos. >
O Agenda Bahia é uma realização do Jornal Correio com patrocínio da Acelen, Tronox e Unipar, apoio institucional da FIEB, Sebrae e apoio da Bracell, Grupo Luiz Mendonça - Bravo Caminhões e Ônibus e AuraBrasil, Plano Brasil Saúde, Salvador Bahia Airport, Salvador Shopping, Suzano, Wilson Sons e parceria da Braskem.>