Descubra se você faz parte da geração 'ageless'

Os "sem idade" quebram os estereótipos de idade e preservam o espírito jovem

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  • Maysa Polcri

Publicado em 12 de agosto de 2023 às 05:00

Jandira Andrade, 79, já fazia parte do grupo antes de conhecer o termo em inglês
Jandira Andrade, 79, já se considerava ageless antes de conhecer o termo em inglês Crédito: Paula Fróes/CORREIO

Quando tinha 69 anos, em 2018, o holandês Emile Ratelband entrou com uma ação na Justiça pedindo algo nada convencional. O homem queria reduzir em 20 anos a idade em seus documentos. A ideia veio da dificuldade em conseguir se conectar com pessoas em um aplicativo de relacionamentos porque, segundo ele, era alvo de etarismo - preconceito com pessoas mais velhas. Naquele ano, a discussão do caso engrossou o caldo do debate sobre "ageless", termo que, desde então, ganha cada vez mais espaço nas páginas de jornais e rodas de discussão.

Em tradução livre do inglês para o português, "ageless" significa "sem idade". Mas, afinal, o que isso quer dizer? O termo é designado a pessoas que não se identificam com os estereótipos consolidados pela sociedade para indivíduos de sua faixa etária. Emile Ratelband, por exemplo, mesmo perto de completar 70 anos, se mantinha ativo e até paquerava nas redes sociais, o que vai de encontro com a imagem que se tem, em geral, de idosos.

Daí surge o termo "ageless" que, na contramão do etarismo, tem o objetivo de romper com ideias pré-estabelecidas e abarcar aquelas pessoas mais velhas que têm comportamentos diferentes dos tradicionais. Se você nunca tinha ouvido falar nesse tema antes e está na dúvida se pode ser considerado "ageless", basta se fazer algumas perguntas rápidas. Caso você tenha mais de 50 anos, procura manter a mente e o corpo ativos com frequência e se considera detentor de um "espírito jovem", pode comemorar: talvez você seja um "sem idade".

Muito antes de conhecer o termo em inglês, Jandira Andrade, 79, já não se identificava com os rótulos designados para as pessoas da sua idade. Extrovertida, a carioca que mora em Salvador há 50 anos não aceita ser chamada de "senhora" e é categórica nas palavras: "senhora está no céu". Para ela, o segredo de se manter com a mente jovem é estar sempre ativa e sociável.

"A idade está na mente de cada um. Chico Xavier já dizia que tinha o corpo de um velho de 92 anos, mas que a mente era de um jovem de 20. Eu estou incluída nesse grupo de pessoas. Tenho 79 anos de idade, mas com espírito de 29", afirma Jandira Andrade. Quando ouviu pela primeira vez a explicação do termo "ageless", os olhos de Jandira brilharam. Foi aquela satisfação típica de quando alguém se identifica, de cara, com algo que já lhe é próprio.

O grupo de pessoas que não se identificam com a idade que têm foi um dos temas abordados por Mauro Wainstock no Agenda Bahia. O sócio-fundador e consultor de diversidade etária da HUB 40+ (plataforma de capacitação de pessoas acima dos 40 anos), apresentou o painel "Como conectar distintas gerações no mundo do trabalho".

"Ageless são aqueles que não têm idade. São aquelas pessoas que se assemelham por terem perspectivas e comportamentos comuns, independente da idade", explica Mauro Wainstock. O palestrante utiliza o exemplo da japonesa Hamako Mori, 90, que faz sucesso no YouTube com seu canal de games. "Ela se sente realizada com o trabalho e ganha dinheiro com o que faz. Como podemos definir a qual geração ela pertence? Não tem nada a ver com a idade. Podemos conhecer pessoas de 20 anos que tenham características velhas, no mau sentido, ou pessoas de 90 que se comportam como novas", afirma.

Mercado de trabalho

Em uma sociedade como a brasileira, em que a aposentadoria compulsória por idade ainda é uma realidade, o caminho para compreender aqueles que se identificam como "ageless" ainda não está bem definido. As pessoas mais velhas (de idade e não de comportamento) enfrentam preconceitos e dificuldades, especialmente dentro do mercado de trabalho. Hoje, a idade média dos trabalhadores com carteira assinada no Brasil é de 41,3 anos, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

"O mundo corporativo ainda está caminhando para combater o etarismo. Mas os mais velhos carregam experiências e diferenciais valiosos que não podem ser desperdiçados pelas corporações", diz Mauro Wainstock. Para integrar as diferentes gerações no mercado de trabalho, o sócio fundador da HUB 40+ defende que é preciso: promover o intercâmbio constante através de eventos e palestras, construir um ambiente de trabalho acolhedor e intercambiar os verdadeiros conhecimentos e experiências.

Apesar de a Justiça da Holanda não ter autorizado Emile Ratelband a reduzir em 20 anos a idade em seus documentos em 2018, a tentativa do holândes abriu caminho para uma discussão importante. Com a expectativa de vida se tornando cada vez maior com o passar dos anos, será que não está na hora repensar os estereótipos criados para as pessoas mais velhas?

Mauro Wainstock apresentou palestra sobre diversidade geracional no Agenda Bahia
Mauro Wainstock apresentou palestra sobre diversidade geracional no Agenda Bahia Crédito: Ana Lucia Albuquerque/CORREIO

Dicas de filmes e séries para entender melhor a geração 'ageless'

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