Dinamarca e Noruega têm meta de zerar emissões de carbono; veja medidas adotadas pelos moradores

CORREIO acompanhou ações para reduzir as emissões dos gases do efeito estufa. A ajuda dos moradores é fundamental

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  • Victor Villarpando

Publicado em 13 de outubro de 2015 às 08:02

- Atualizado há um ano

Do alto, ainda no avião, a imagem chama atenção. Uma sequência a perder de vista de turbinas para a geração de energia eólica em diversos pontos de Copenhague, capital da Dinamarca. Já nas ruas, quem percorre os bairros da cidade encontra no dia a dia dos moradores outras ações sustentáveis: as bicicletas, por exemplo, ganham cada vez mais espaço e são tão importantes que foram construídas pontes exclusivas para esse meio de transporte. 3.768 turbinas de geração de energia eólica estão espalhadas pela Dinamarca. Em dias mais ventilados, conseguem suprir toda a necessidade do país e ainda exportar excedentes que chegam a 40%. A produção de energia limpa corresponde a 74% do total das reduções de carbono em Copenhague. Os cataventos gigantes ficam especialmente em lugares próximos do litoral. No centro da capital, Copenhague, fazem parte do skyline do bairro de Christianshavn e estão em pontos de prática de esportes aquáticos  (Foto: Divulgação) Tanto investimento tem uma finalidade: assim como a vizinha Noruega, a Dinamarca pretende zerar as emissões de gases poluentes do efeito estufa para reduzir os efeitos das mudanças climáticas no planeta. O investimento em energia limpa, inclusive no combustível dos meios de transportes, é fundamental. O planejamento começou há muito tempo, mas até hoje novas ações são implantadas, como o incentivo aos carros elétricos, na Noruega. 

“É um trabalho em equipe de diversos ministérios, universidades, instituições e ONGs. Há fóruns regulares para debater questões ambientais e as pessoas têm oportunidade de opinar na elaboração das políticas públicas. Há também sites para monitorar o que vem sendo feito”, explica Olav Lundstol, consultor de energia da Embaixada da Noruega, no Brasil, palestrante do último seminário do Fórum Agenda Bahia (Baixo Carbono: A Nova Economia Mundial). A frota da prefeitura de Oslo é de carros elétricos. Na cidade, a maioria dos pontos de recarga é gratuita (Prefeitura de Oslo/Divulgação) Olav acompanhou a mudança de cultura desde menino. Em vez de jogar no lixo, ele juntava garrafas plásticas vazias de sua casa numa sacola. Sempre que ia ao mercado com a mãe, as colocava numa máquina parecida com aquelas de refrigerante. E saia de lá com o bolso cheio de moedas.

“Fazia isso para ganhar uns trocados na infância. Os noruegueses usam essas máquinas no cotidiano, é comum nos mercadinhos”, conta ele. A Noruega é um dos expoentes mundiais em redução de emissões de carbono.

Entre os planos do país está reduzir pela metade a emissão de gases poluentes de 1991 até 2030 e zerar os números até 2050. “O envolvimento dos cidadãos é de vital importância para atingir essas metas”, afirma Olav.

O resultado está por toda parte. Até visitantes se sentem parte dessa cultura, com vontade de separar o lixo, andar de bicicleta e trocar garrafas por moedas. Estive lá em agosto e recebi uma coroa norueguesa, que equivale a R$ 0,50, pela garrafinha de água mineral. Foi supersimples. Baixo Carbono: A Nova Economia Mundial foi o tema do segundo seminário do Fórum Agenda Bahia, realizado no último dia 29 (Prefeitura de Oslo/Divulgação) No próprio rótulo havia indicação de quanto dinheiro eu receberia pelo retorno. Na Dinamarca, o sentimento foi o mesmo. Na cidade mundial da bicicleta, Copenhague, impressionam ruas e pontes exclusivas para bikes. Do bairro de Vesterbro, onde estive hospedado, para visitar Christiania, ponto turístico do outro lado do mar, foi mais rápido - e simples - ir de bike do que de metrô.

Governo dá incentivo para uso de carro elétrico na cidade Num país com mais de 95% da matriz energética em hidrelétricas - caso da Noruega - carros elétricos são ótima saída para reduzir as emissões de carbono. Mas não adianta apenas trocar a frota do governo, como fez a prefeitura de Oslo, em 2009.

É preciso incentivar o cidadão a querer um veículo elétrico para chamar de seu. De acordo com a consultoria IHS Automotive, em julho deste ano, 22,9% dos automóveis vendidos em Oslo foram assim. No mesmo período, na Holanda o número ficou em 5,2% e nos Estados Unidos em 0,8%.Segundo a Associação Norueguesa de Veículos Elétricos, da frota do país, estimada em 2,6 milhões automóveis, 62.500 são elétricos, o que equivale a 2,4% do total. Parece pouco, mas é quase o dobro da fatia de 2013.

Com isenção de impostos, os preços de automóveis movidos a gasolina e à eletricidade ficam bem próximos. As vantagens vêm depois: de isenção de pedágio à recarga gratuita na  maioria dos pontos de abastecimento da cidade.Troca de plástico por moedas Em 1972, a empresa norueguesa Tomra inventou a primeira máquina de venda reversa do mundo: as pessoas depositavam uma garrafa de plástico e recebiam de volta uma moeda. A invenção está presente em diversos supermercados e mercadinhos por toda a Noruega. As máquinas recebem garrafa de plástico e devolvem moedas (Foto: Elbil/Reprodução) Hoje, uma garrafinha plástica de água mineral com capacidade para 500 ml, por exemplo, rende NOK 1. É cerca de 5% do valor que ela custa, cheia, no mercado. Alguns dos produtos trazem o valor da embalagem no próprio rótulo.As mais de 70 mil máquinas de venda reversa da Tomra espalhadas por cerca de 40 países levam para a reciclagem aproximadamente 35 bilhões de recipientes usados de bebidas por ano. Isso poupa uma quantidade de gases poluentes equivalente às emissões de dois milhões de carros percorrendo 10 mil quilômetros cada.

Transporte integrado com bicicleta Além de ciclovias por toda a cidade, Copenhague investe pesado na integração da bicicleta com outros meios de transporte. É o caso dos ônibus, do metrô e dos trens urbanos, que oferecem espaços para os ciclistas viajarem com as bikes. Em Copenhague, há vagões de metrô e trem adaptados para bicicletas (Foto: Visit Copenhagen/Divulgação) A maior parte das estações ferroviárias tem uma pequena rampa na escada para contemplar a descida e a subida das bicicletas. Outra iniciativa interessante é a Bicyle Snake, uma ponte sinuosa de 220 metros de comprimento e quatro de largura, exclusiva para bicicletas.

Desde 2013, ela liga duas das principais ilhas do centro da capital dinamarquesa. De acordo com o Plano Climático Copenhague 2025, que pretende tornar a cidade neutra em carbono daqui a 10 anos, as iniciativas ligadas a transporte correspondem a 11% das reduções de carbono.

* O jornalista viajou a convite da Innovation Norway