Empresas buscam resultados além do lucro

Busca por impacto positivo em suas áreas de atuação caracteriza empresas que atuam na Bahia

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  • Donaldson Gomes

Publicado em 19 de outubro de 2022 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Marina Silva/CORREIO

Sabe o que une uma gigante na fabricação de celulose no Extremo Sul da Bahia, com uma fabricante de produtos químicos que está investindo na implantação de um parque eólico capaz de alimentar uma cidade com mais de 400 mil habitantes a outra que está investindo na produção do combustível do futuro? A preocupação com o impacto gerado pelas suas operações. Na era da responsabilidade, o setor produtivo já entendeu que os resultados que importam na atividade empresarial não se resumem aos registrados nos balanços financeiros. 

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“O compartilhamento de experiências é muito bom e nos trouxe uma experiência muito rica, uma vez que 80% dos negócios da Bahia estão no interior. Este diálogo atende os interesses da maior parte do território baiano”, avaliou o economista Rogério Cerqueira, gerente regional do Sebrae Bahia. Ele foi o mediador do painel Bahia para o Mundo: Cases do Interior Bahia, no Agenda Bahia, ontem. Completaram a mesa Mariana Lisbôa, líder global de relações corporativas na Suzano; Sérgio Santos, gerente de Relações com Investidores e Relações Institucionais na Unipar; e Edson Alves, diretor de Inovação e Desenvolvimento do Negócio da Unigel.

Com quase 100 anos de operação, a Suzano ocupa uma área de 2 milhões de hectares no Brasil. Metade dela é destinada à preservação, ressaltou Mariana Lisbôa. A indústria florestal possui 12 fábricas em operação e uma em contrução, no Mato Grosso do Sul. “Temos uma produção bastante relevante. Nós plantamos diariamente quase mil mudas de eucalipto”, disse Mariana, lembrando que a empresa já alcançou o que é uma meta para a maioria das grandes indústrias mundiais: “Hoje a Suzano já é uma empresa Net Zero, capaz de neutralizar 100% das suas emissões”.

Na Bahia, a Suzano tem em área mais de 400 mil hectares de área, sendo que mais de 300 mil são plantados numa operação que gera cerca de 6 mil empregos diretos e indiretos. O setor florestal corresponde a 5 % do produto interno bruto (PIB) da Bahia e mais de 4% dos impostos arrecadados. “Uma fábrica como a nossa no Sul do estado é responsável ainda por fomentar uma série de outras oportunidades, além dos empregos diretos e indiretos que nós mesmo geramos. É um contador, um frentista, há um efeito dominó positivo”, avalia Mariana Lisbôa. 

Segundo a executiva, a empresa tem um compromisso com a manutenção de diversos programas sociais na Bahia. “Temos uma meta de tirar 200 mil pessoas em nosso entorno da linha da pobreza até 2030”, explicou. 

Ela ainda destacou a conexão das ações adotadas pela empresa com a a agenda ESG, que reúne compromissos com a sustentabilidade ambiental, social e de gestão. “A própria atividade já contribui para a questão climática. Há um mito de que o papel está ligado a desmatamento, mas é o contrário, só plantamos em área antropizadas (modificadas pela ação humana)”, destacou. “A responsabilidade é muito maior do que o que está diretamente ligado à nossa operação”. 

Fechando a sigla ESG, Mariana Lisbôa destacou a transparência na gestão da Suzano. “Na Suzano só acreditamos em inovação que esteja diretamente ligada à sustentabilidade”. 

Ela acrescentou que o setor florestal, como um todo, prevê investimentos de R$ 60 bilhões no Brasil nos próximos anos. Para a executiva da Suzano, é importante destacar o comprometimento da atividade com a sustentabilidade. “Nós somos alternativa para o enfrentamento da crise climática no mundo e estamos trabalhando para ajudar o Brasil a ser parte da solução de uma economia descarbonizado”, frisou. “Queremos que que as mudanças aconteçam de Mucuri até Xangai”, disse. Neste sentido, ela anunciou que a Suzano vai instalar uma fábrica para a produção de tecidos a base de eucalipto que vai substituir outros que atualmente são feitos de origem fóssil. 

Energia renovável A relação da Unipar com a Bahia começou com a busca por uma fonte de energia renovável e caminha para uma fábrica no Polo Industrial de Camaçari. A empresa – fabricante de cloro-soda, derivados de soda e PVC – tem na energia elétrica, usada para os processos de separação de elementos químicos iniciou a história no estado como sócia do Complexo Eólico Tucano, onde aportou R$ 350 milhões, num empreendimento que contou com um total de R$ 700 milhões em sua implantação.

Empresa 100% nacional, listada na B3, gera 4 mil empregos diretos e indiretos em suas unidades no Brasil e na Argentina. 

Os produtos fabricados pela Unipar são todos enquadrados como essenciais, lembra Sergio Santos. Do cloro, que é necessário para purificar a água, ao PVC que é fundamental para indústrias como a da construção civil. A empresa é a maior fabricante de cloro-soda da América Latina e a segunda maior de PVC. “Entram em nossas fábricas energia elétrica, sal e água e saem hidrogênio, cloro e soda. Vejam a importância da energia elétrica para nós”

O diretor da Unipar explica que a empresa tem uma história de não medir esforços em relação a investimentos ligados a saúde, segurança e meio ambiente. “Nestes casos não existe preocupação com retorno”, diz. Um exemplo disso, citou, é que a Unipar é a única indústria química que mantém uma reserva nativa de Mata Atlântica.

Ele explica que as indústrias do segmento químico costumam adotar práticas de gestão acima do mínimo determinado pela legislação. “Normalmente, a indústria química busca uma forte integração com a comunidade. No nosso caso, por exemplo, temos uma fábrica aberta 24horas por dia para a visitação de qualquer pessoas”, diz. Segundo ele, a ação foi suspensa temporariamente em função da pandemia, mas deve ser retomada no próximo ano. 

É este tipo de práticas que a Unipar está levando para a região de Tucano, onde está sendo concluído o seu parque eólico, com capacidade para a geração de 155 megavalts por ano – é energia suficiente para abastecer uma cidade como Santos, no interior de São Paulo. 

“Quem conhece a região sabe da carência que existe lá. Montamos o projeto e adotamos a premissa de mão de obra local. Treinamos 200 pessoas locais, contratamos 100 e as outras 100 foram capacitadas para ter mais empregabilidade. A maioria delas são mulheres”, diz. Segundo Sergio Santos, quem visita o parque hoje já percebe algumas turbinas em operação de teste. “Tudo isto está sendo operado por pessoas da região”, diz. 

A operação levou a outras demandas, que a Unipar também se mobilizou para atender. “Quando se emprega essa quantidade de gente, movimenta a economia e gera a necessidade de outros serviços, como creches”, lembrou. “Fizemos um acordo com Prefeitura de Caldas do Jorro e atualmente 150 crianças entre zero e 3 anos estão em período integral”, conta. 

Além da produção de energia, a Unipar projeta uma nova operação por aqui. Pela primeira vez, a empresa construirá, partindo do zero, uma unidade de cloro-soda fora de São Paulo. A tecnologia utilizada é a de membrana, mais moderna que existe no setor, e vai gerar durante o processo hidrogênio verde. Segundo Sergio Santos não há planos de comercializar o hidrogênio verde porque a empresa pretende usa-lo para produzir ácido clorídrico, para atender as demandas do marco do saneamento. “A gente tem essa missão e não adianta fazer conta se vai dar ou não retorno. É uma vergonha ter 43% das escolas sem estrutura para lavar a mão. É uma vergonha tantos brasileiros sem tratamento de esgoto”, avalia. A expectativa é de que a nova unidade entre em operação em 2024.

Fertilizantes Presente na Bahia desde a década de 70, a Unigel entrou há alguns anos no mercado de fertilizantes, operando unidades que foram fechadas pela Petrobras. A empresa já produzia sulfato de amônia. Agora, com o anúncio da implantação de uma fábrica para a produção de hidrogênio verde em Camaçari, a empresa pretende reforçar o fornecimento de insumos par ao agronegócio. 

“Somos 7,8 bilhões de habitantes do planeta e vamos atingir o número de 10 bilhões em breve. Vamos precisar de muito alimentos, fertilizantes, vamos precisar de muita energia e, ao mesmo tempo, teremos que encontrar uma solução para a questão das emissões”, avalia Edson Alves. Para ele, este cenário explica a aposta da Unigel na produção do hidrogênio verde. A unidade em Camaçari será a primeira do Brasil a produzir o insumo em escala”, destacou. O projeto vai exigir mais de R$ 600 milhões, para a produção de 10 mil toneladas de hidrogênio, que vai atender também mercado de amônia. “Tomamos a decisão de entrar no negócio e já decidimos também o segundo passo, que é quadruplicar a produção. Este é o projeto que estamos colocando para a Bahia”, destacou. 

O Agenda Bahia 2022 é uma realização do CORREIO, com patrocínio da Acelen e Unipar, parceria da Braskem e Rede+, apoio institucional da Prefeitura Municipal de Salvador, Fieb, Sebrae, Rede Bahia e GFM 90,1 e Apoio da Suzano, Wilson Sons, Unifacs, HELA, Socializa e Yazo.