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Andreia Santana
Publicado em 31 de maio de 2017 às 06:55
- Atualizado há 2 anos
A região de Poblenou, em Barcelona (Espanha), durante a Revolução Industrial no século XIX, concentrou diversas fábricas têxteis e indústrias que proliferaram na esteira da máquina a vapor. Nos anos 60 e 70 do século passado, o chamado distrito industrial 22A entrou em decadência com o fechamento das fábricas, afetadas pela concorrência chinesa. A área de 100 quadras, cerca de 200 hectares, transformou-se em uma espécie de elefante branco, gerando problemas socioeconômicos graves.Até que, no começo dos anos 2000, um projeto audacioso envolvendo o poder público, empresas, universidades e sociedade civil transformou o obsoleto e problemático distrito 22A, no projeto 22@barcelona, um conjunto de ações que colocou a cidade espanhola na vanguarda da revolução digital e da projeção de cidades inteligentes para o futuro.>
Assista íntegra da conferência de Josep Piqué e saiba mais sobre o projeto 22@barcelona:>
O bem-sucedido projeto espanhol foi apresentado em videoconferência pelo economista Josep Piqué, um dos gestores do 22@barcelona, durante o Seminário Centros Históricos – Inovar é preciso, que aconteceu nesta terça, 30, no Convento do Carmo, promovido pelo Instituto Antônio Carlos Magalhães de Ação, Cidadania e Memória (IACM).Piqué, que é presidente da La Salle Technova Barcelona e da Associação Internacional de Parques Tecnológicos e Áreas de Inovação, também é um dos idealizadores do projeto e, atualmente, já exportou o modelo espanhol para cidades como Medelín (Colômbia), Porto Alegre e Recife.Durante a videoconferência, o especialista colocou-se também à disposição para contribuir com a capital baiana, que passará por um extenso projeto de requalificação do seu centro antigo e cultural promovido pela prefeitura dentro de um dos eixos específicos para o Centro Histórico dentro do Programa Salvador 360, anunciado no começo desta semana.Cidades e ConexõesO Fórum Agenda Bahia 2017 terá os temas Cidades e Conexões como norteadores dos seminários previstos para agosto e setembro próximos. O evento dialoga diretamente com a tendência mundial de cidades inteligentes e digitalizadas, da qual o projeto de Barcelona é exemplo, e com a proposta da prefeitura de Salvador de transformar a cara do Centro Histórico.Em Barcelona, a premissa que norteou o projeto 22@ foi uma junção de interesses em renovar, reutilizar e conservar o patrimônio histórico remanescente do antigo distrito industrial, ao mesmo tempo em que foram pensadas soluções de conectividade para os cidadãos e empresas locais.>
Leia também:Grupo de trabalho vai definir lei complementar ao PDDU para o Centro Histórico“Salvador, que tal qual Barcelona também tem sua origem atrelada a uma zona portuária, tem muito no que se inspirar nesse projeto espanhol”, opina Marcus Alban, pesquisador e professor da Escola de Administração da Ufba, responsável por mediar um talk show entre Josep Piqué e os participantes do seminário Centros Históricos – Inovar é preciso.A revolução ocorrida em Barcelona fincou pé no digital, mas sem deixar de olhar para as pessoas, pensando soluções econômicas e tecnológicas, mas também de meio ambiente, urbanismo e mobilidade. A união entre governo, empresas, universidades e entidades sociais resultou em projetos que levaram em conta a produção de conhecimento, como se Barcelona fosse um grande laboratório vivo de inovação.“Uma cidade inteligente tem um desenvolvimento holístico, focado na economia, no social, no uso do solo, no urbanismo, na tecnologia...”, enumera e ensina Piqué. O especialista revelou ainda que no total foram investidos € 200 milhões de euros no projeto, sendo que a administração de Barcelona fez um aporte de € 20 milhões e o restante veio de empresas de serviço que se instalaram em Poblenou, fundos europeus e impostos da construção.Barcelona é vista como exemplo (Foto: Divulgação)Na questão do uso do solo, dos antigos passivos industriais, 30% do território foi doado ao município e os 70% restantes ficaram para os proprietários das antigas fábricas e terrenos, que receberam, em contrapartida, permissão para construir edifícios com maior número de andares.Do total doado à cidade, 10% foi convertido em projetos de moradia social, sendo que desse total 50% tiveram como beneficiários os moradores do antigo distrito industrial empobrecido, 10% foram para as universidades e os 10% restantes viraram zonas verdes de uso público.Ainda levando em conta a dimensão humana, além de universidades, dez ao todo, e centros tecnológicos, o projeto contemplou a construção de escolas primarias e de ensino médio para as crianças de Poblenou, com estímulo a talentos e empreendedorismo; além de um programa de digitalização de pais analógicos para que pudessem acompanhar suas crianças na revolução digital.O plano de mobilidade do distrito privilegiou o transporte público, ônibus e metrô e o uso de bicicletas. Os carros, embora não fossem proibidos, foram desestimulados por conta da densidade da cidade. Para climatização, foi feito uso da água do mar, além de criadas galerias subterrâneas de serviços para evitar que nas expansões futuras, as vias precisassem ser reabertas.Em 15 anos de criação, o projeto 22@barcelona integra 8 mil empresas instaladas no distrito, com fluxo de 93 mil trabalhadores e um faturamento de € 10 milhões de euros.>