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Polo petroquímico enfrenta maior crise de competitividade da história

Para Fábio Santos, da Braskem, superar o baixo custo de produção dos EUA e da China exige ampliar o uso de gás natural e investimento pesado em química verde.

  • Foto do(a) author(a) Donaldson Gomes
  • Donaldson Gomes

Publicado em 17 de agosto de 2025 às 05:00

Fábio Santos, diretor de Finanças e Planejamento Estratégico da Braskem na América do Sul Crédito: Divulgação Braskem

Tudo o que a indústria petroquímica brasileira pode fazer para competir em condições de igualdade no mercado internacional está sendo feito, afirma Fábio Santos, diretor de Finanças e Planejamento Estratégico da Braskem. A empresa tem investido na transição para matérias-primas mais baratas e investido em produtos verdes. O problema é que existem desafios que estão além da alçada empresarial e concorrentes globais, principalmente dos Estados Unidos e China, têm recebido um respaldo de seus países que a indústria química não encontra no Brasil. As condições de competitividade serão um dos temas abordados no Agenda Bahia, que acontece na próxima quarta-feira (dia 20), na Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb).

Quem é

Fábio Santos é diretor de Finanças e Planejamento Estratégico da Braskem na América do Sul. Formado em Engenharia Química pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), possui MBA pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), além de especializações em administração pelo Instituto Europeu de Administração de Empresas (INSEAD) e Fundação Dom Cabral.

Qual é a importância dos produtos que a Braskem fabrica?

A Braskem está na base da indústria e faz parte de um setor muito importante, que é o da indústria química.O Brasil tem um enorme potencial de desenvolvimento nesta área. Nossa empresa produz os insumos básicos para uma série de cadeias e produtos. Estamos falando de toda a base para tintas, solventes, combustíveis, bases para produtos de limpeza, para a indústria de cosméticos… Quando vamos para a parte das resinas plásticas, produzimos os insumos e as resinas, que estão ligadas a todos os setores. Participamos do saneamento básico com o PVC, alimentos e embalagens, utilidades domésticas, setor automotivo, farmacêuticos. É uma gama enorme que está no dia-a-dia de todos os cidadãos. Tem muitos itens de primeira necessidade, como ficou claro na pandemia, com máscaras e seringas, materiais desinfetantes e outros insumos para o uso hospitalar.

Qual é a importância do complexo petroquímico que a Braskem tem na Bahia para a empresa e para a economia do estado?

É o nosso maior complexo industrial, responde por mais de 30% de nossa produção total, com uma capacidade instalada para mais de 5 milhões de toneladas de produtos químicos e petroquímicos. Em qualquer contexto, a Bahia tem uma importância muito grande. E sem faltar em outras unidades instaladas aí que formam uma cadeia conosco e têm uma importância muito grande. O Polo de Camaçari é um grande motor de desenvolvimento, são R$ 3,5 bilhões em impostos arrecadados por ano.

Quais são os grandes desafios deste mercado?

Eu vou começar falando de uma situação conjuntural. Nossa indústria é cíclica, com a demanda acompanhando o crescimento da economia. De tempos em tempos, há um aumento de capacidade para dar conta desta demanda que impacta nos preços dos produtos. Esses investimentos provocam ciclos de baixa, quando a oferta é maior e os preços caem. Quando a demanda cresce, voltamos a ter ciclos de alta, até novos investimentos reduzirem os preços. O que está acontecendo agora é uma conjunção de fatores desafiadores, sobretudo aqui no Brasil. Temos uma competição com um grande aumento de capacidade de produção de duas regiões competidoras, com custos muito baixos. Primeiro isso aconteceu no Oriente Médio, com matéria-prima muito barata, e depois com o shale gás nos Estados Unidos, retomou o protagonismo com uma matéria-prima baseada em gás, que é muito competitiva. Aqui no Brasil temos uma indústria baseada na nafta (um derivado do petróleo líquido). Além disso, temos a China com uma enorme taxa de crescimento para buscar autossuficiência e se tornar menos dependente das importações. Esses dois movimentos fazem que passemos pelo ciclo mais prolongado da história. Achamos que ainda vai durar mais dois anos. É um desafio para quem produz com nafta, nosso caso e também na Europa.

Quais são os caminhos?

Nós estamos trabalhando para utilizar cada vez mais o gás e matérias-primas renováveis. Essa dependência da nafta nos pressiona e nos coloca numa condição competitiva bastante desfavorável. Hoje nosso gap de competição com os Estados Unidos pode chegar a até US$ 700 por tonelada, é um número muito representativo.

Hoje nosso gap de competição com os Estados Unidos pode chegar a até US$ 700 por tonelada, é um número muito representativo.

Nome do Autor da Citação

A gente sabe que este cenário é péssimo para a indústria, incluindo aí milhares de pessoas que dependem diretamente dela. Mas como este cenário atinge quem está além dos limites das fábricas?

Para o cidadão comum, se ele tiver acesso aos produtos, pode parecer que não faz muita diferença se a matéria-prima é nacional ou importada. Mas, na medida em que vamos tendo essa pressão, nós, enquanto indústria química, nos vemos forçados a operar em taxas menores. Quando a gente faz isso, uma série de atividades que dependem de nós são reduzidas. Eu reduzo investimentos, tenho que revisar o ritmo de manutenção, compra de insumos dentro e fora do Brasil. A demanda de produtos e serviços associados a este ecossistema da fábrica muda. Eventualmente, o profissional que tem um serviço superespecializado e poderia estar em Camaçari realizando uma atividade acaba perdendo este espaço. No final das contas, impacta a economia como um todo, porque são menos empregos, menos receita tributária. Vai faltar o produto? No curto prazo, provavelmente não. Mas, no longo prazo, à medida em que tivermos que revisitar planos de investimento, seremos cada vez mais dependentes das importações. Uma indústria fortalecida, operando em taxas altas, carrega toda uma demanda de produtos e serviços, desde atividades de manutenção até serviços de alimentação, entre outros. A Braskem emprega cerca de 5 mil pessoas direta e indiretamente na Bahia, mas tem uma cadeia de cerca de 13 mil pessoas impactadas. A média de remuneração da indústria química é três vezes maior do que a média geral da indústria.

à medida em que tivermos que revisitar planos de investimento, seremos cada vez mais dependentes das importações

Nome do Autor da Citação

O que está sendo feito pelos concorrentes?

Os Estados Unidos fizeram um super plano de fomento ao shale gás e para o desenvolvimento da indústria, para não ficarem só na extração do gás. Além disso, eles têm um custo de capital menor, com juros mais baixos. Na China, a necessidade de autossuficiência resultou numa série de programas governamentais. Aqui no Brasil, a gente não está conseguindo dar vazão a essa agenda de competitividade, tanto em relação a reformas mais estruturantes e de apoio ao setor, mas também às iniciativas que servem para proteção contra uma competição desleal, como medidas antidumping, que estamos aguardando definições.

Por que é mais fácil sensibilizar a sociedade em relação às dores de outras indústrias, como a automobilística, por exemplo?

Esta é uma excelente pergunta. Tem um trabalho aí que remonta aos movimentos sindicais, a aura de construir um carro, mas eu acho que tem a ver com o sucesso que a indústria automobilística teve de construir uma visão a respeito dela. Da mesma forma, a gente deveria ter essa consciência em relação a cadeias que são até mais longas, como a nossa, que começa na extração do petróleo e vai até produtos finais. Eu acho que a resposta pode estar no fato de produzirmos insumos cujo valor unitário é pequeno. Mas esta é a grande força do plástico, ele é barato e é ecológico porque tem baixo peso. Acaba sendo uma ótima solução para o transporte. Pode ser que este preço traga o inconsciente de que é uma indústria menos complexa e menos relevante, além da dificuldade de tangibilizar. O carro é mais glamouroso. No fundo, o importante é que o Brasil tenha políticas setoriais e entenda quais são os setores em que pode competir e atuar estrategicamente. Eu estou convencido de que o setor químico cumpre esses requisitos e que nós precisamos ter políticas industriais para desenvolver este setor.

O carro é mais glamouroso. No fundo, o importante é que o Brasil tenha políticas setoriais e entenda quais são os setores em que pode competir e atuar estrategicamente. Eu estou convencido de que o setor químico cumpre esses requisitos

Nome do Autor da Citação

O Congresso Nacional discute um novo programa para fomentar o desenvolvimento da indústria química, o Presiq. O que deve ser prioridade, em sua opinião?

É importante que tenha entendimento do contexto global, que há um ciclo de baixa mais prolongado, e que incentivos à superação de questões conjunturais também são importantes. Mas tão importante quanto é ter os elementos que estão na proposta, que é formar as bases de incentivos e investimentos para o desenvolvimento de uma química de baixo carbono. A Bahia tem um posicionamento estratégico e geográfico para ter um papel muito relevante na química verde.

Há muito tempo não se via perspectivas de novos investimentos da Braskem na Bahia. Mas na última coletiva, o presidente da empresa, Roberto Ramos, citou a possibilidade de um projeto de base renovável. Este movimento indica uma expectativa de uma solução para estes gargalos?

É importante dizer que muitas ideias ainda são preliminares. Lá no Rio Grande do Sul temos uma unidade que produz eteno verde. Ela começou produzindo 200 mil toneladas e no ano passado ampliamos para 260 mil toneladas. O que acontece? Estes produtos têm uma pegada mais sustentável e uma demanda qualificada porque eles têm uma pegada de carbono mais sustentável. O que queremos dizer é que não adianta ficar reclamando da vida, da nafta petroquímica. Nossos planos são de promover uma transformação gradual em nossa base de ativos da Bahia para ter maior proporção de gás, que será mais competitivo no longo prazo. Além de aumentar a participação do gás, também esperamos ter a possibilidade de desenvolver na Bahia a química a partir do etanol, justamente para ter acesso a mercados com demandas mais qualificadas. A possibilidade de produzir com matéria-prima renovável nos dá a possibilidade de vender com mais valor. Tem menos a ver com otimismo e mais com uma transformação na busca por matérias-primas renováveis. Nós temos a condição de utilizar produtos renováveis e desenvolver uma química verde como nenhum outro país do mundo tem.

O Agenda Bahia é uma realização do jornal Correio com patrocínio da Acelen, Sebrae, Tronox e Unipar, apoio institucional da FIEB e da Prefeitura Municipal de Salvador, apoio do Salvador Bahia Airport e Veracel, e parceria da Braskem.