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Carolina Cerqueira
Publicado em 17 de agosto de 2025 às 05:00
Pensar no meio ambiente não significa produzir menos. Não mais. Esse até era uma associação comum entre as empresas, mas agora não cabe mais. Quem pensa assim fica para trás, dizem os especialistas. Aplicar otimização de processos, tecnologias para redução de desperdícios e uso de matéria-prima limpa é cuidar do desenvolvimento e do futuro do negócio. >
“As empresas dependem dos recursos que vêm, de alguma forma, da natureza. Se é assim, nada mais lógico para se manter a longo prazo do que cuidar do meio ambiente. Seja a empresa grande ou pequena”, diz o especialista em ESG e consultor empresarial Augusto Cruz. >
Ele destaca que a sustentabilidade pressupõe um tripé que envolve os aspectos econômico, social e ambiental. Eles estão atrelados e, se a empresa altera um, altera o outro. Ou seja, se contribui para reduzir os impactos ambientais, pode fazer essa contribuição ser sinônimo de vantagem econômica. >
O analista técnico do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) na Bahia, Madson Pinto, cita exemplos de ações. A redução de desperdício de alimentos e materiais é muito pensada para os restaurantes. É possível reduzir o uso de recursos e os custos, além de reduzir o lixo descartado. >
Já a redução do gasto com energia pode ser pensada para todos os tipos de negócios. Ela pode vir através de uma grade ação, como adesão aos painéis solares ou mesmo da manutenção ou troca de um equipamento. Assim, a empresa ajuda o meio ambiente e gasta menos dinheiro. >
“Ainda há uma associação de que práticas sustentáveis não geram resultado econômico. Isso é equivocado. É possível associar as duas coisas, desde que haja um diagnóstico correto e um reposicionamento das práticas”, coloca Madson.>
A chave, para a gerente de meio ambiente e responsabilidade social da Fieb (Federação das Indústrias do Estado da Bahia), Arlinda Negreiros, é pensar a sustentabilidade como uma vantagem. Quem não tratar questões ambientais preventivamente, vai pagar caro no futuro. >
"O processo de industrialização no Brasil aconteceu com base em um modelo voltado à produtividade. A filosofia era gerar produto, comercializar e ganhar dinheiro. Na década de 1990, já começou a revisão disso, por conta dos grandes acidentes ambientais. As empresas passaram a pensar o cuidado com o meio ambiente", resgata Arlinda. >
Água e energia >
A Acelen, empresa de energia, tem como um dos objetivos atuais otimizar o fornecimento de energia elétrica para a Refinaria de Mataripe, construída na Bahia em 2021 e pensada, em sua raiz, através do investimento em tecnologia e otimização de processos, redução de emissões de gases do efeito estufa e diversificação de fontes de energia. É o que conta o vice-presidente da Comunicação, Relações Institucionais e ESG da Acelen, Marcelo Lyra. >
Um Parque Solar para abastecer a refinaria está em fase final de construção no município baiano João Dourado. A estrutura, com capacidade para instalação de 230 mil módulos solares, poderá gerar 161MWp (megawatt-pico), com um potencial para evitar a emissão de 128 mil toneladas de gás carbônico por ano. >
Outra iniciativa da empresa é a aposta na planta brasileira macaúba para a produção de um bilhão de litros de combustíveis renováveis por ano. A planta é de sete a dez vezes mais produtiva por hectare plantado do que a soja. A estratégia inédita de uso da macaúba quer cultivar 180 mil hectares entre Minas Gerais e Bahia, transformando pastagens degradadas em plantações produtivas. >
A Braskem, empresa petroquímica, busca soluções sustentáveis guiada pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU e pelo Acordo de Paris sobre Mudanças Climáticas, como afirma a gerente de Relações Institucionais da Braskem na Bahia, Magnólia Borges. >
Algumas iniciativas de destaque são a expansão do portifólio de produtos feitos a partir de materiais reciclados para um milhão de toneladas até 2030 e a produção de resinas a partir de fontes renováveis, como a cana de açúcar, além de alcançar a neutralidade de carbono até 2050. >
“Uma série de medidas vêm sendo tomadas, como a implementação de melhorias na eficiência energética das operações a partir do aumento no uso de energia renovável. Além de importantes ganhos de competitividade, já alcançamos um potencial de redução de cerca de 1,1 milhão de toneladas de gás carbônico”, diz a gerente. >
Magnólia destaca ainda ações para reduzir perda de água de resfriamento em uma das unidades da Braskem do Polo Industrial de Camaçari. “Já foi possível economizar um bilhão de litros de água nos últimos dois anos, o que corresponde ao consumo médio de uma cidade de 14.400 habitantes”, acrescenta. >
Vantagens >
Para a Braskem, a utilização de matrizes energéticas renováveis significa operações mais sustentáveis e competitivas. Para a Acelen, a eficiência da matéria-prima é o segredo para a sustentabilidade em todas as etapas da cadeia. >
“Nossa eficiência operacional busca reduzir o consumo de recursos, otimizar processos e minimizar emissões, ao mesmo tempo em que ampliamos a competitividade. Acreditamos que o crescimento mais sólido e duradouro é aquele que respeita os limites do planeta e gera valor para toda a sociedade”, coloca Marcelo Lyra. >
Vale lembrar que os ganhos podem ser ainda mais diretos, através de programas de financiamento e incentivo fiscal para empresas dispostas a adotar uma postura mais ambientalmente responsável. Um dos exemplos é o Programa de Aceleração da Transição Energética (Paten), do Governo Federal. Ele foi sancionado em janeiro de 2025 e, entre outros vetores, facilita acesso ao crédito para projetos sustentáveis. O Brasil assumiu, junto com outros 192 países membros da ONU, o compromisso da Agenda 2030 para um futuro mais sustentável. >
O especialista em ESG e consultor empresarial Augusto Cruz lembra que as motivações também podem partir de imposições. Ele cita a Resolução 193 da Comissão de Valores Mobiliários, que exige das empresas presentes na bolsa de valores a elaboração e divulgação de relatórios financeiros ligados à sustentabilidade. >
A imposição pode ser das instituições ou dos clientes. “O fato da empresa ter práticas sustentáveis conta na hora do consumidor escolher o produto ou o serviço que vai adquirir. É um atrativo, um diferencial. Então, é natural que as empresas queiram divulgar as ações de sustentabilidade que aplicam. A divulgação é a consequência e atrai clientes. Todo mundo sai ganhando”, avalia o analista técnico do Sebrae Bahia Madson Pinto. >
“Por isso, há uma demanda das empresas querendo se posicionar no mercado como empresas com práticas sustentáveis. O Sebrae tem consultoria específica para isso, que faz diagnóstico e indica adequações. Ao final, é entregue um selo de sustentabilidade. Esse tipo de consultoria tem sido cada vez mais procurado”, acrescenta Madson.>
Arlinda Negreiros, gerente de meio ambiente e responsabilidade social da Fieb, acrescenta que a instituição implementa esforços de capacitação de profissionais para atender às demandas de adequação das empresas. "Começamos com cursos técnicos e ampliamos para quem ocupa cargos de direção das empresas porque a questão ambiental está no cerne dos negócios, está no planejamento anual", destaca. >
Cidade sustentável >
Além das empresas, a gestão pública tem se mostrado um agente em busca da sustentabilidade. Seguindo uma lógica bastante parecida, explicada pelo secretário municipal de Sustentabilidade e Resiliência (Secis), Ivan Euler: >
“Uma empresa que quer ser sustentável e pensa no futuro do planeta, tem uma tendência de crescer economicamente. As empresas que estão tendo sucesso no mercado são empresas com esses pensamentos. Não há mais muitos espaços para empresas que só pensam em lucro.” >
A lógica é, então, aplicada à Prefeitura. Além da otimização de recursos e consequente boa gestão das finanças, as ações de alinhamento com as áreas social e ambiental agradam as empresas com as quais os governos precisam se relacionar e, claro, a população em geral. >
O secretário garante que a ideia de cidade sustentável já está enraizada na Prefeitura. Atrelado a isso, está o conceito de economia circular. “Hoje, o pensamento é consumir menos do meio ambiente e fazer com que o que seria descartado se torne subproduto da mesma empresa ou de outra cadeia produtiva. Isso traz economia. Diversos estudos já mostram que o pensamento circular é economicamente vantajoso”, afirma o secretário da pasta. >
Ele diz que é esse o pensamento que rege as ações da Prefeitura e que projetos estão sendo discutidos na Câmara Municipal para aplicar a adoção de compras circulares nos processos de licitações da gestão. O secretário destaca que não é possível esquecer o tripé da sustentabilidade, que também olha, além da economia, para o social. “Na nossa estratégia, para ser sustentável e resiliente, é preciso reduzir as desigualdades. É preciso gerar empregos e afastar as pessoas de condições de riscos”, completa Ivan Euler. >
Agenda Bahia >
A Prefeitura de Salvador, o Sebrae, a Fieb, a Braskem e a Acelen, além da Tronox, Salvador Bahia Airport e Veracel, estarão representadas no Agenda Bahia de 2025. O evento, que acontece no dia 20 de agosto, debate futuro dos negócios e desenvolvimento sustentável na Bahia. Vai reunir, no auditório da Fieb, em Salvador, lideranças empresariais, especialistas e representantes do setor público. >
Desde sua criação, o Agenda Bahia, que é promovido pelo Jornal CORREIO, se destacou por promover discussões voltadas para o futuro. Em sua primeira edição, em 2010, o tema foi “Olhando 10 anos à frente”. O tema de 2025 é "Bahia Produtiva 2030: Destravando o Futuro Agora". >
A programação conta com três eixos de palestras e painéis e o acesso é gratuito. As inscrições podem ser feitas através do link bit.ly/4fBMQEE. Confira a programação completa abaixo:>
8h30 - Credenciamento >
9h30 - Abertura>
9h50 - Palestra "Potencial Produtivo dos Territórios: Conectando a Bahia ao seu futuro" (Pedro Lima Neto, Superintendente Estadual do Banco do Nordeste)>
10h15 - Painel com Caio Zanardo (Diretor-presidente da Veracel Celulose), Fábio Santos (Diretor de Finanças e Planejamento Estratégico da Braskem na América do Sul), Jorge Khoury (Superintendente do Sebrae Bahia) e Pedro Lima Neto (Superintendente Estadual do Banco do Nordeste)>
11h - Palestra "O Futuro do Trabalho: Competências, tecnologia e pessoas na Nova Economia" (Fabio Duarte, Founder e CEO da Community Creators Academy)>
11h25 - Painel com Cleber Paradela (Vice-presidente de Inovação e Conteúdo da DM9), Fabio Duarte (Founder e CEO da Community Creators Academy) e Marcelo Sena (Sócio Fundador da Mosello Advocacia) >
12h10 - Palestra "Negócios em Movimento: Como as empresas podem construir o futuro da Bahia – caminhos e desafios" (Marília Zanoli, CMO na Kimberly Clark Brazil, e Rosane Santos, Diretora de Sustentabilidade da Samarco) >
12h45 - Painel com Daniel Carvalho (Fundador e CEO da DCC Energy Mobilidade Eletrica), Marília Zanoli (CMO na Kimberly Clark Brazil) e Rosane Santos (Diretora de Sustentabilidade da Samarco)>
Data: 20/08 >
Hora: Das 8h30 às 13h30>
Local: Auditório da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB), Rua Edístio Pondé, 342 – Stiep, Salvador>
Inscrição: Gratuita através do link https://bit.ly/4fBMQEE>
O Agenda Bahia é uma realização do jornal Correio com patrocínio da Acelen, Sebrae, Tronox e Unipar, apoio institucional da FIEB e da Prefeitura Municipal de Salvador, apoio do Salvador Bahia Airport e Veracel, e parceria da Braskem.>