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Prefeitura de Araci nega que útero de jovem foi retirado em hospital


 

Após parto e procedimento, Mirene ficou em estado vegetativo; família busca ajuda

  • Mario Bitencourt

Publicado em 21/03/2019 às 16:21:00
Atualizado em 19/04/2023 às 14:14:05
. Crédito: Foto: Reprodução

A Prefeitura de Araci, no nordeste da Bahia, negou nesta quinta-feira (21) que o útero da jovem Mirene Santos da Silva, 19, foi retirado no Hospital Municipal Nossa Senhora da Conceição, para onde foi levada pela família para ter um bebê, há oito meses.

A família de Mirene afirma que a retirada do útero junto com a placenta, no momento do parto, levou a uma hemorragia que a fez ficar entubada por 15 dias em um hospital de Feira de Santana, para onde foi transferida, e evoluir para o estado vegetativo.

Desde então, a jovem está apenas com as funções autônomas do corpo (como respiração, batimentos cardíacos e funcionamento do intestino), mas não interage com o meio. O bebê dela, do sexo masculino, nasceu com saúde. Mirene e Gean no final da gestação; Jordan, o bebê, não ficou com sequelas (Foto: Acervo pessoal) No comunicado, a prefeitura não dá detalhes sobre o prontuário médico da paciente, nem informa porque nesse tempo uma cópia do documento não foi cedido à família, conforme determina o Código de Ética Médica do Conselho Federal de Medicina.

Ao comentar sobre a negativa da prefeitura, a família de Mirene reafirmou que ela teve o útero retirado ainda no hospital de Araci. “Ela saiu do hospital já com a placenta e o útero para o lado de fora”, disse Gean Guimarães da Silva, 21, marido da moça.  

Sobre o prontuário, o advogado da família Dante Vinícius Santos Araújo formalizou no hospital, dia 12 deste mês, pedido para que ele fosse fornecido e nesta quarta (20) fez um pedido de providências no Ministério Público da Bahia (MP-BA), com o mesmo fim.

A Prefeitura de Araci informou que já foi notificada pelo MP-BA sobre o fornecimento do prontuário da paciente, declarou que iria ceder o documento, mas não informou quando isso seria feito.

Segundo a prefeitura, o parto de Mirene ocorreu “sem intercorrências”, mas após isso, “diante do fato da mesma apresentar sangramento anormal, foi imediatamente transferida” para o Hospital Estadual da Criança (HEC), em Feira.

O relatório médico do HEC informa que Mirene chegou “no pós-parto imediato de parto natural, com sangramento vaginal intenso e hipotensão, sendo identificado inversão uterina”. Foi levada para o centro cirúrgico, onde teve a parada respiratória.

“Desde então, mantém quadro neurológico de status pós-PCR [parada cardiorrespiratória], não contactante, Glascow 7 [coma profundo]", relata a médica que assina o laudo. Ela colocou como diagnóstico principal a "inversão uterina pós parto" e constatou choque hipovolêmico (ou hemorrágico), devido à perda de sangue.

Atendimento Ainda de acordo com a Prefeitura de Araci, “entre a identificação de anormalidade e a saída da paciente do Hospital Municipal passaram-se cerca de 20 minutos, tendo neste período a equipe de saúde realizado procedimentos necessários e indicados pela literatura médica”.

No comunicado, a prefeitura narra que “a paciente saiu do Hospital acompanhada por um profissional médico e enfermeiro, consciente, em condições clínicas favoráveis, inclusive conversou com os familiares”.

O problema com a “inversão uterina”, ainda de acordo com a prefeitura, foi diagnosticado no HEC. “O Hospital de Araci não realizou o procedimento de retirada do útero da paciente, tendo se limitado a realizar o parto normal”, diz o comunicado.

Na continuação, a Prefeitura de Araci afirma que “em nenhum momento a família nos procurou para se queixar da conduta de profissionais ou do atendimento prestado, tendo tal fato surgido no mês de março de 2019, através das redes sociais e de publicações em sites de notícias locais”.De acordo com a gestão municipal, “está sendo instaurado o procedimento administrativo cabível para a apuração de responsabilidades e tomada das providências cabíveis”.“No mais, lamentamos profundamente o ocorrido e assumimos o compromisso de tomar as atitudes necessárias, desde que comprovado que aconteceram falhas por parte do serviço ou de profissionais envolvidos na assistência à paciente”.

A prefeitura diz que está auxiliando a família da jovem com uma empresa de home-care e que dá suporte de assistência social."Ela foi assistida por profissionais a todo momento. O hospital e seus profissionais lamentam o atual quadro clínico da jovem. Foi lançada mão de todas as técnicas possíveis para minimizar as consequências do parto", afirma.Mas a família de Mirene diz que o auxílio que está sendo dado é limitado e não contempla um profissional da área de técnica de enfermagem para ficar 24 horas com Mirene, como eles dizem que precisam.

A família tem de renda fixa apenas por mês R$ 290 do programa federal Bolsa Família que a mãe de Mirene recebe. O marido dela, Gean, disse que precisa ter um profissional de saúde em casa para que ele possa trabalhar. Os cuidados com o filho são divididos entre ele e uma irmã, segundo contou.